Por Junior
Almeida
De 11 a 14 de
outubro de 2018 estivemos em São José do Belmonte, Pernambuco, já na divisa com
o Ceará, na reunião da “família” Cariri Cangaço, que através dos seus
pesquisadores estuda o cangaço, coronelismo, messianismo e os mais
diversificados temas que têm o Nordeste como fonte. Esta que foi a nossa última
reunião do ano. Já tínhamos estado juntos em abril em Fortaleza, Ceará, e em
junho em Poço Redondo, Sergipe. No evento mais recente, além do maravilhoso
povo belmontense, pessoas de pelo menos quinze Estados do Brasil estiveram
presentes na terra da Pedra do Reino.
Dentre os
participantes do encontro estava o recifense Manuel Dantas, filho do Mestre
Ariano Suassuna, que por ser estrela de primeira grandeza dispensa maiores
apresentações. Sem estrelismos ou “rique fifes”, mesmo muito assediado, Dantas
foi de uma simplicidade admirável, assim como era seu pai. Do velho mestre,
Dantas também parece ter herdado a visão política e a paixão pelo Sport Club do
Recife.
Só pudera: “boa árvore, bons frutos”, já diz o adágio popular.
Dantas, assim
como seu pai, é um contador de causos e, no sábado, sentado à mesa de café da
manhã do hotel em que estávamos, junto com Manoel Serafim, de Floresta e Luiz
Forró, de Natal, nos brindou com algumas histórias desconhecidas pela grande
parte dos admiradores de Ariano Suassuna. Um desses causos eu achei
interessante e decidi dividir com vocês. Segundo Dantas, foi assim:
Numa final do
campeonato pernambucano de futebol, provavelmente em 2010, onde o Sport Recife
decidia a taça em “casa”, Dantas ligou para seu pai, perguntando se ele
gostaria de ir com ele ao jogo na Ilha do Retiro. Ariano disse que não, pois
estava cansado. Qual foi a surpresa de Manuel Dantas quando viu no outro dia em
toda imprensa de Pernambuco a festa do Leão comemorando o título e, a foto do
Mestre na primeira página de um jornal da capital. A imagem mostrava Ariano na
sede do Sport em meio aos torcedores, vestido no seu tradicional “Sport fino”,
com um sorriso de orelha a orelha, é claro, e de braços abertos fazendo o sinal
de positivo. O tradicional joinha.
Ué, levei um
bolo do meu pai? Pensou Dantas.
O filho de
Ariano disse que ficou sabendo depois que seu pai resolveu após o telefonema ir
ao jogo. Foi de táxi. Desembarcou na avenida, ao lado da estátua de Ademir
Menezes, entrou pela rampa da sede, passou despercebido pelo avião que enfeita
uma espécie praça nas dependências do clube e, ficou parado em frente ao portão
de entrada das autoridades, já na sede monumental. De início o porteiro
reconheceu o escritor, mas achou que ele esperasse alguém. Passado um tempinho,
o rapaz falou com o Mestre:
Quer entrar,
Doutor Ariano?
Rapidamente o
autor de O Alto da Compadecida foi levado ao elevador e acomodado em um dos
camarotes, onde assistiu ao jogo. E o resto, como já foi dito, foi só festa, só
comemoração. Um fato curioso se deu perto de Ariano ir embora pra casa. Um
oficial da polícia militar quis saber com quem Ariano tinha ido pra Ilha e, se
surpreendeu em saber que o escritor estava só e que tinha ido e voltaria de
táxi. Muito ativo e preocupado com a segurança do ilustre torcedor o homem
imediatamente chamou quatro militares sob seu comando e mandou que eles
escoltassem “Doutor Ariano” até um táxi.
Muitos ficaram
intrigados ao ver o escritor caminhando entre quatro soldados, dois de cada
lado, e até chegaram a pensar que Ariano Suassuna estava sendo detido. Alguns
cochichavam e outros até protestavam contra a suposta prisão. Um dos que teve
esse pensamento foi outro oficial, que trabalhava no térreo da sede do Sport. O
militar correu até os colegas para resolver a bronca.
O que
aconteceu, por que estão “levando” Doutor Ariano? Quis saber um preocupado
militar.
Depois das
devidas explicações, que os praças apenas escoltavam o célebre torcedor do
Sport, o major ficou temeroso que Ariano Suassuna voltasse pra casa
desacompanhado e ainda por cima de táxi, estando Recife naquela balbúrdia e,
meio constrangido fez uma proposta inusitada ao Mestre. Disse o militar:
Doutor Ariano,
o Senhor se incomodaria se a gente o levasse pra casa numa viatura?
Bem humorado,
de pronto o escritor aceitou a carona, e foi assim que Ariano Suassuna foi de
táxi assistir seu time de coração e voltou numa viatura da Polícia Militar de
Pernambuco, fazendo brotar na cabeça dos que viram a cena as mais férteis
versões.
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