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terça-feira, 13 de novembro de 2018

A BRAZILIAN MYSTIC: BEING THE LIFE AND MIRACLES OF ANTÔNIO CONSELHEIRO


Por Antonio Corrêa Sobrinho

Uma biografia de 1920, escrita por um inglês, penso que sem tradução para o português, e que foi divulgada no grande "New York Times".

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO

ESTUDO SOBRE A VIDA DESSE BANDOLEIRO FEITO POR UM ESCRITOR NORTE-AMERICANO.


O "New York Times" acaba de inserir o seguinte artigo sobre o livro do senhor Cunninghame Graham – Brazilian Mistic – que versa sobre a vida e os feitos de Antônio Conselheiro”:


O senhor Cunninghame Graham escreve no seu prefácio:

“Todos os acontecimentos que se deram na selvagem região conhecida por Sertão, situada entre os estados de Pernambuco e Bahia, são desconhecidos – afirmo – geograficamente falando, de noventa e nove por cento dos homens instruídos. ”

A narrativa que fazemos é a história de um homem estranho num país ainda mais estranho. Todas as terras têm tido os seus santos homens e profetas, mas entre esses nunca existiu figura mais empolgante que a de Antônio Conselheiro, o último dos gnósticos, que reuniu em torno de si um bando sempre recrudescente de sequazes e o conduziu às apartadas regiões montanhosas do Brasil, para aí fundar uma nova Sião. Mr. Graham tornou a história deste fanático muito mais interessante que a maioria das histórias de romance. O caráter do profeta nos prende a atenção e a nossa sede de novidade é saciada pelos quadros que se nos oferecem do povo rústico e desconhecido, de onde ele arrebanhou os seus sectários.


A vida de Antônio Maciel, conhecido por Conselheiro, se assemelhava em alguns aspectos à vida de muitos reformadores religiosos. Viveu como que, exilado da sociedade, desafiou o poder temporal da sua comunidade e morreu como um mártir da sua crença. Tudo isso constitui, mais ou menos, material ordinário para a história: é no povo, em cujo seio ele habitou, e na cidade, que encontramos as feições proeminentes do nosso conto.

Foi o protagonista de um drama selvagem representado nos derradeiros anos do século XIX, nas regiões montanhosas do Brasil – drama esse no decorrer do qual fanáticos, armados de bacamartes, lutaram contra a artilharia moderna. Forte, como soe ser a fé de um homem tal, ela não é toda poderosa neste mundo material, e a vitória final coube à artilharia. Antônio Maciel, depois de escapar da prisão, passou dez anos nas selvas, das quais ressurgiu com o garbo e a figura de um ermitão. Tinha a barba longa e desgrenhada e vestia apenas uma túnica de linho. Se é verdade que não era de todo um demente, não resta dúvida que não estava em estado de completa lucidez de espírito. Durante algum tempo não pregou, mas o povo o seguia nas suas migrações, julgando-o um santo. Os sectários chegavam-se a ele sem que os chamasse, mas ele os não repelia.

Vaqueiros, vestidos de couro, armados dos pés à cabeça, com bacamartes e espadas presas às selas com longa e afiada faca de ponta, o “jacaré”, a “parnaíba” no cinto, e às vezes um par de espingarda, pistolas primitivas com pederneiras, constituíam, por assim dizer, a aristocracia do séquito desse novo profeta. Na sua maioria era este formado por uma aglomeração de mestiços com aparência de símios, caboclos e daquela classe estranha, resultante do cruzamento dos indígenas com a raça negra e conhecida no Brasil sob o nome de cafuzas.

Quando Antônio Conselheiro se dispôs a iniciar as suas pregações, expandia a doutrina do Milenarismo confundida com o Sebastianismo, visando exclusivamente o ponto da fé. Tal os gnósticos da antiguidade, os seus sequazes entregavam-se a todos os pecados da carne, convencidos como estavam de que a sua salvação estava assegurada apenas pela fé.

A queda do imperador D. Pedro foi um choque para o Conselheiro, pois que se criara como monarquista e enxergava na República uma “arte do Diabo”. Nas suas pregações, em que aconselhava a revolta e vociferava contra o anticristo, não tardou em tornar-se incômodo ao novo governo, que mandou uma força militar para capturá-lo. À vista desta providência, o profeta, prudentemente, começou a retirar-se para o norte, sempre cercado pelo seu bando armado. Ao chegar ao rio Vaza Barris, aí escolheu o sítio para a fundação da cidade dos fiéis. Aí os seus sectários empreenderam com energia a edificação do povoado que devia repelir três expedições militares e resistir ao longo sítio de uma quarta. Foi aí, nesta povoação de Canudos, que o Conselheiro edificou a sua grande igreja e foi sobre esta igreja que se colocou para "apanhar com as mãos as balas dos seus inimigos".

O Sr. Graham contou a história desta nova Sion, a sua elevação e a sua queda, com pena de mestre. Reviveu para nós o já esquecido profeta e o seu bando de bravos beatos. Da história de um pequeno e malogrado bando religioso, extraiu uma história, que bem vale a pena contar-se. A Brasilian Mystic contém um encanto exótico que a destaca dos volumes da prosa ordinária.

"Correio da Manhã" – 27.12.1920
Capa do livro e imagem de Antônio Conselheiro, extraída do https:/Imagem: Reprodução/Raimundo Arcanjo Blog, e do autor de "A Brazilian Mystic", que trago da Wikipédia.

 https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/permalink/949089528633325/

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