Material do acervo do professor Adinalzir Pereira
A Roda dos
Enjeitados, também conhecida como Roda dos Expostos, era um dispositivo
cilíndrico instalado do lado de fora de uma igreja que era dedicado ao
recolhimento de recém-nascidos rejeitados no século XVIII. A mãe que desejasse
abandonar seu filho, ao invés de abandoná-lo em qualquer lugar, tinha a
oportunidade de entrega-lo à igreja sem se identificar. Inicialmente no Brasil
havia cerca de 5 rodas e no Rio de Janeiro haviam 2. A mais conhecida era na
Santa Casa de Misericórdia no Centro, a outra em Campos.
Como o número
de crianças abandonadas crescia no Brasil, entre os séculos XVIII e XIX, a
corte portuguesa inicialmente se preocupou em resolver o problema adotando esse
antigo costume europeu, já que o infanticídio não era visto como crime, mas
pecado. Ao saber que as crianças abandonadas eram devoradas por cães e porcos,
isso se tornou um incômodo aos administradores portugueses.
A roda foi
também um processo civilizador. O Estado começa a desestimular as práticas
infanticidas, pois não era aceitável uma selvageria dessas. Como as crianças
normalmente eram abandonadas perto de rios, em monturos (lixões da época) ou
até na beira das praias, muitas morriam sem ao menos receber o batismo. Por
isso, o acolhimento em instituições católicas seria favorável para, pelo menos,
as crianças receberem a “salvação”. Criou-se um medo entre os adultos de que as
almas das crianças ficassem penando naquele lugar de espera eterna.
Até a invenção
da mamadeira e do leite em pó e pasteurizado, o único alimento que podia garantir
a vida do recém-nascido era o leite materno ou da ama-de-leite. Desde a
antiguidade o problema de como alimentar crianças órfãs e expostas já se
colocava como relevante, dada a absoluta impossibilidade de alimentá-las de
outras formas. Experiências feitas com papas e caldos e água adoçada sempre
foram responsáveis por altas taxas de mortalidade entre os recém-nascidos. Na
época, nos Relatórios encaminhados anualmente pelo Provedor da Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro ao Ministro do Império, observa-se uma crescente
preocupação em demonstrar que os índices elevados de mortalidade dos
recém-nascidos não eram devidos a maus-tratos recebidos na Casa dos Expostos,
mas ao fato de serem os recém-nascidos já depositados mortos ou moribundos.
Segundo os
Relatórios do Ministério do Império, foram recolhidas na Roda do Rio de Janeiro
47.255 crianças, no período de 1738 até 1888. As explicações mais comuns
apontadas pelos estudiosos para o número crescente de crianças deixadas na Roda
sempre foram: para que os senhores pudessem alugar as escravas como
amas-de-leite; para proteger a honra das famílias, escondendo o fruto de amores
ilícitos; para evitar o ônus da criação de filhos das escravas, em idade ainda
não produtiva; pela esperança que tinham as escravas de que seus filhos se
tornassem livres, entregando-os à Roda; para que os recém-nascidos tivessem um
enterro cristão, já que muitos eram expostos mortos ou adoecidos, em
decorrência de epidemias que se abateram sobre o Rio de Janeiro, fazendo grande
número de vítimas, dizimando famílias inteiras e deixando crianças órfãs ou em
estado de necessidade.
O Brasil foi,
talvez, o último país a abolir a Roda. Temia-se que, com sua extinção,
aumentassem os abortos e os infanticídios de filhos indesejados ou ilegítimos,
uma vez que o dispositivo da Roda mantinha o anonimato de quem depositava a
criança, preservando a honra das famílias.
Atualmente
ainda se abandonam recém-nascidos, e sem a Roda dos Enjeitados, eles são
encontrados em lixeiras ou lugares abandonados. É muita crueldade!
Fonte: Fotos
Raras do Rio Antigo
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
A Santa Casa de São Paulo também tinha essa Roda dos Enjeitados. Aliás, ainda tem. Está lá, mas virou peça do museu da entidade. Foi desativada em 1950, com quase 5 mil registros.
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