Por Benedito
Vasconcelos Mendes
Entendemos
como arte popular, artesanato ou arte utilitária, aquela que é produzida pelos artesãos, ou
seja, aquela que resulta da exteriorização do talento ao natural de seu
executor, sem o refinamento da
técnica, diferentemente da arte erudita, que é o resultado do talento
enriquecido pelo estudo teórico
da técnica. A arte popular é mais utilitária do que estética. Sua motivação é
mais voltada para o
econômico ou para a utilidade, do que para a beleza. A mente do artesão é, teoricamente,
menos preparada para a criação artística do que a mente do artista erudito. O
artista da arte
erudita é mais criativo, mostra sua obra com estilo próprio e, para isso,
necessita estudar muito a teoria
da técnica de sua arte. Ele cria e interpreta a beleza ao seu modo, ao seu
estilo. O artesão
reproduz a obra por repetição, imitando um objeto ou um elemento da natureza,
como uma planta, um
animal, uma paisagem ou mesmo uma obra de arte já feita. Muitas vezes, a peça
de artesanato é
produzida por analfabetos ou por pessoas de pouco estudo, sem o aprofundamento técnico
necessário para a produção de uma obra de arte erudita. Na região semiárida
nordestina predomina a
arte popular, pois nesta área seca e pobre do Nordeste quase não se encontram
artistas dedicados às
artes plásticas, como pintura, desenho, gravura e escultura. No sertão quente e
seco do
Nordeste,
poucos foram os pintores e escultores que se destacaram a nível nacional, pelo
valor artístico de
suas obras de arte. No Nordeste seco, os artistas populares (artesãos) são
muito mais numerosos do
que os artistas produtores de arte erudita.
O conceito de
beleza do povo sertanejo é diferente dos que habitam o restante do Brasil. Ele é mais voltado
para a utilidade ou para o econômico do que para o deleite da estética. Quando
o sertanejo
observa uma bela árvore frondosa e florida, sua mente é estimulada a olhar aquele
vegetal com mais
interesse nos valores econômicos do que na beleza que ele possui. A observação
sobre a quantidade e a
qualidade das toras de madeira, que podem ser retiradas daquela árvore,
predomina sobre os
atrativos da beleza arquitetônica da copa. A densidade da folhagem, a harmonia
dos ramos, a forma e o
colorido das folhas, flores e frutos passam desapercebidos pelo homem rural,
pois sua mente está
sempre ocupada com as preocupações diárias da sobrevivência nesta região
sujeita às secas catastróficas.
Uma outra observação é que o sertanejo não vê beleza em nada magro. O cavalo, o boi,
a cabra, o cachorro, e até a própria mulher, só são bonitos a seus olhos se
estiverem gordos. O que
ele acha mais belo no sertão é o tempo chuvoso, a paisagem verde e viçosa, com muito pasto e
gado gordo.
No acervo do
Museu do Sertão existem expressivas e ricas coleções de peças artesanais, ou seja, de obras
de arte popular ou utilitária. As principais coleções lá existentes são: 1.
coleção de louças de
barro (potes, jarras, porrões, potinho de coalhada, filtro de água, fogareiros,
quartinhas (moringas),
panelas, alguidares, penicos, chaleiras, farinheiras, pratos, caco de torrar
café com rapadura,
panelões de fazer sabão caseiro e outras louças); 2. coleção de cestaria de
cipó e de palha
de carnaúba
(abano, urupema, uru, surrão, esteira, cesto de cipó com aselha e cesto de cipó
com alça); 3.
coleção de utensílios de madeira (gamelas redondas, gamelas ovais, cochos,
colheres-de- pau, palhetas
de mexer doce, tábua de carne, batedor de nata, pilãozinho de tempero, pilão
vertical e pilão deitado
de uma, duas ou três bocas); 4. artefatos diversos (forma de chapéu de palha de carnaúba,
palmatória escolar, balança de madeira de pesar algodão, caixão de guardar
farinha e caixão de
guardar rapadura); 5. máquinas e equipamentos (moinho de pau, engenho de pau, bolandeiras,
prensas de casa de farinha, prensas de cera de carnaúba, prensas de queijo, pipas, dornas,
ancoretas, tinas e roladeiras de transportar água); 6. móveis (mesas, cadeiras
de mesa, cadeiras de
balanço, espreguiçadeiras, guarda-louças, cristaleiras, bufês, guarda-roupas,
cabides etc); 7.
artesanatos de couro (sela, silhão, corona, manta, alforje, mochila de milhar
cavalo, cabresto,
gibão, perneira, guarda-peito, guarda-pés, luvas, alpercatas e outros).
A engenharia
empírica, transmitida pela tradição oral, somava-se ao talento do artesão na elaboração de
objetos, utensílios domésticos, apetrechos de trabalho, implementos agrícolas, equipamentos e
máquinas das agroindústrias do passado. Os carapinas, marceneiros, santeiros, tanoeiros,
ferreiros, flandeiros, cuteleiros, armeiros, seleiros, cesteiros, louceiras,
pedreiros, sapateiros,
costureiras, bordadeiras, rendeiras, labirinteiras, crocheteiras, fiandeiras,
tecelãs e outros artífices eram
os que exercitavam as artes e os ofícios no sertão. Eram conhecidos como
artistas e suas obras
representavam a arte sertaneja. Existiam também os oficiais de serviços, à
semelhança do mestre-escola,
barbeiro, bodegueiro e profissionais da área da saúde (parteira, enfermeiro,
tira- dentes,
encanadores de braço, curandeiro e raizeiro). Como vimos, a arte sertaneja é
mais representada
pelos artefatos utilizados pela população do que pelas as artes plásticas
(esculturas,
pinturas,
desenhos e gravuras).
Enviado pelo autor
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário