Por Sálvio
Siqueira
A história
cangaceira foi vivida por várias personagens. Dentre estas tivemos aquelas que
praticaram o crime, aquelas que formaram frente contra aos criminosos, aquelas
que serviam de colaboradores para um e outro lado e as pobres e inocentes
vítimas.
Destaca-se
bastante a narração literária e oral, principalmente no cangaço implantado por
Virgolino (Ferreira), o chefe cangaceiro alcunhado de Lampião, o famoso “Rei
dos Cangaceiros”, quanto às peripécias realizadas pelo próprio e por seus
‘meninos’, esquecendo em parte, ou às vezes em um todo, de darem as devidas
atenções, o devido valor histórico merecido àqueles que enfrentaram de peito
aberto dentro da Mata Branca os bandos e, consequentemente, as inocentes
vítimas. Vítimas não só das ações cruéis dos cangaceiros, mas, também das
atrocidades terríveis causadas por alguns comandantes e/ou membros das volantes
em todos os Estados nordestinos por onde se propagou o fenômeno social.
Saibamos um
pouco mais quem foi o nazareno tenente João Gomes de Lira:
“(...) Nesta
semana, é a vez de João Gomes de Lira, ex-soldado volante nazareno que combateu
o cangaceirismo e o banditismo no sertão.
Filho de
Antônio Gomes Jurubeba e Luciana Maria da Conceição, este pernambucano nasceu
em 13 de julho de 1913 na Fazenda Jenipapo, distrito de Nazaré do Pico,
município de Floresta, no Estado de Pernambuco.
Ingressou na
Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) em 16 de julho de 1931 e, aos 17 anos, integrou
a força volante que tinha como comandante o coronel Manoel de Souza Neto, que
perseguia Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião, e seus irmãos Antônio
e Livino. Na época, seu alistamento foi uma necessidade, pois a região de
Floresta estava sendo ameaça pelo bando do Rei do Cangaço, que Lira conheceu
antes de virar policial.
Assim que se
alistou, o comandante geral da PMPE, Roberto Pessoa, indicou o cabo Lira e os
dois soldados Manoel Heráclito da Silva e Francisco Wilson Dourado para
acompanharem o então juiz de Direito da Comarca de Inajá, Pedro Malta, que era
jurado de morte, para fazer os registros dos candidatos a prefeito e vereadores
daquela localidade e permanecer para a eleição e apuração naquela região.
Lira não fez
parte do grupo de policiais que matou Lampião, em 28 de julho de 1938, na Grota
de Angicos, em Poço Redondo, em Sergipe, porém, participou de confrontos com o
temido cangaceiro.
Ao longo da
carreira na PMPE, mesmo com pouco estudo, passou pela hierarquia militar, se
destacando como soldado, comissário, delegado e, por último, tenente. Com o fim
da campanha contra o Cangaço, por muitas vezes, fora ouvido pela imprensa para
contar relatos da luta dos seus conterrâneos e, embora o experiente combatente
integrasse a força policial pernambucana e estivesse em lados opostos ao Rei do
Cangaço, sempre soube reconhecer Lampião como líder nordestino.
Homem de fala
mansa e de uma tranquilidade congelante, Lira se aposentou como
primeiro-tenente da PMPE, mas antes trabalhou em Recife e em municípios do
interior pernambucano. Em um deles, em Carnaíba, foi vereador na década de 1970
e, na ocasião, desmembrou a Câmara Municipal de Vereadores e tornou aquela
edilidade independente. Seus filhos Ruberval e Clóvis Lira também foram
vereadores na mesma localidade.
Pela
Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco e Companhia Editora de Pernambuco,
escreveu o livro “Lampião: Memórias de um Soldado de Volante”, fruto de 35 anos
de pesquisa. Nele, descreveu, com exatidão e presteza, os lances épicos daquela
época, narrando sua vida e suas andanças em busca dos cangaceiros. Para isso, o
militar passou dias em frente à máquina de escrever, rebuscando na memória os
fragmentos das verdades históricas que ele mesmo ajudou a construir.
Antes de
lançar esse livro, um episódio mereceu intervenção do então governador do
Estado de Pernambuco, Roberto Magalhães, já que, ao entregar as escritas a um
representante de uma instituição pública com titularidades acadêmicas para que
houvesse a publicação, Lira teve confiscado todo seu material. Na época, o
nazareno fora recebido no Palácio do Governo Estadual e tratado com respeito e
honras militares.
Após esse
encontro, teve todas as escritas devolvidas e, em seguida, o livro lançado. É
considerado referencial para todos os amantes da História do Brasil e, em
especial, para os soldados nazarenos.
Tido pela
população de Nazaré do Pico como homem de bem, de caráter, sério e batalhador,
recebeu condecorações e diversas homenagens, como a do seu Centenário de
Nascimento em 2013 e a instalação de um busto na praça do distrito, pois se
tornou uma espécie de lenda. A Rodovia PE-329, que liga Carnaíba ao Distrito de
Lagoa da Cruz, passando por Quixaba, no sertão do Pajeú, também recebeu seu
nome.
Em 1987, Lira
voltou para Nazaré do Pico, em Floresta, onde viveu até sua morte em 4 de
agosto de 2011, aos 98 anos. Embora tenha falecido no Hospital Militar de
Pernambuco por complicações de um edema pulmonar, seu corpo foi sepultado no
distrito de Nazaré. O ex-volante era viúvo de Gisélia de Lira, com quem viveu
por 60 anos, e deixou 11 dos 12 filhos, além de netos, bisnetos e demais
familiares.”
Abaixo veremos
um vídeo de produção do pesquisador incansável, daquele que não se mostra a
frente da história, pelo contrário, sempre procurou ficar nos bastidores, Aderbal Nogueira.
Ten
Joao Gomes de Lira - as primeiras intrigas em Nazaré
Publicado a
15/02/2019
João Gomes fala sobre
o ferimento de Livino Ferreira e do casamento de uma prima de Lampião.
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