Por Valdir José Nogueira
Augusto Martins, Manoel Severo e Valdir Nogueira
No despontar
do século XX ressurgiu a titânica briga entre as famílias Carvalho e Pereira
que ficou marcada na memória da população do sertão do Pajeú. Notadamente os
municípios de Belmonte e Serra Talhada foram os cenários principais dessa
sangrenta questão.
Ao se aposentar da vida parlamentar, depois de uma
intensa vida dedicada à política nos Estados de Sergipe e de Alagoas, o saudoso
belmontense e antigo deputado José Onias de Carvalho, fez da seção “Cartas à
Redação” do “Diário de Pernambuco”, sua tribuna, onde criticou, elogiou, e onde
expôs também todo o seu saudosismo nas crônicas que escreveu sobre a sua
inesquecível e amada terra de São José do Belmonte. Tendo vivenciado o
tempo do secular confronto entre as duas famílias Carvalho e Pereira, ele
escreveu para a sua costumeira seção do Diário de Pernambuco, uma interessante
crônica sobre o referido tema, que foi publicada na edição de 14/01/1984,
transcrita a seguir:
"Realmente,
aquelas lutas situavam-se entre as duas tradicionais famílias. Vou citar um
fato ocorrido comigo quando eu tinha menos de 14 anos de idade. Certo dia de
sábado quando se realizavam as feiras semanais de Belmonte, saí da fazenda “Bonito”,
onde nasci e onde morávamos, de paletó e gravata, em um bonito cavalo. Quando
chegamos à cidade, encontrei-me com um amigo de meu pai e que também era amigo
dos Pereira, que me convidou para assistirmos ao casamento de um filho do
coronel Antônio Pereira, filho do Barão do Pajeú, da fazenda Pitombeira, com
uma jovem também Pereira, residente na fazenda do Sr. Ciba Pereira. Cometi a
minha primeira rebeldia e fugi com aquele amigo para tomar parte naquela
festança promovida pela família Pereira. Tinha vontade de conhecer aquela gente
de quem tanto se falava, como sendo inimigos perigosos. Falei para o meu
companheiro para não fazer apresentações. Simpatizei de logo com uma garota que
era filha do coronel Antônio Pereira e irmã do noivo, com quem passei a dançar
no meio daquela gente desconhecida, embora não soubesse me desenvolver, mas, a
mocinha demonstrava estar contente comigo, que lhe dizia palavras amáveis.
Quem não
estava gostando era um dos irmãos da mocinha, que passou a me dirigir palavras
insultuosas, inclusive que eu não sabia dançar. Eu ignorava que ele era irmão
da garota e resolvemos passar as vias de fato, entretanto, a turma do “deixa
disso” entrou em cena, nos separando. Quando a notícia chegou ao conhecimento
do velho coronel, este procurou saber quem eu era e, quando lhe disse o nome o
nome de meu pai, ele declarou que, a partir daquele momento eu passaria a ser
sagrado e, consequentemente, ninguém me molestaria. A partir daquela hora, nas
refeições, o velho coronel fazia questão que eu sentasse ao seu lado juntamente
com a garota, que passou a ser considerada minha noiva. Fui abraçado pelo meu
agressor, que passou a ser meu amigo e foi depois de alguns dias, me visitar na
nossa fazenda.
Não havia
propriamente ódio entre Carvalho e Pereira, mas, o capricho e muita
austeridade, de modo que, nenhum membro das duas famílias que fosse
assassinado, seria sepultado enquanto não vingava aquela morte. Felismente, com
o decorrer dos tempos, eles foram colocando os filhos nas escolas, a civilização
foi chegando e tudo acabou.As brigas de famílias são coisas do passado e não
mais voltarão a acontecer.
José Onias de
Carvalho nasceu em São José de Belmonte (PE) no dia 16 de março de 1901 na
fazenda Bonito, filho de Antônio Onias de Carvalho e de Maria da Luz Onias de
Carvalho. Com sua família, transferiu-se para Sergipe, tornando-se piscicultor
e proprietário rural, além de notário público e gerente do Banco do Comércio e
Indústria desse estado. Iniciou-se na política como prefeito do município de
Propriá (SE), antes de tentar, no pleito de outubro de 1950, um mandato de
deputado federal por Sergipe na legenda da Coligação Democrática Sergipana,
formada pela União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Trabalhista
(PST). Malsucedido em seu intento, permaneceu como segundo suplente até maio de
1951, vindo a ocupar uma cadeira na Câmara até dezembro seguinte.
Radicando-se
em Alagoas, disputou o pleito realizado em outubro de 1954 para a Assembléia
Legislativa do estado. Representando a UDN, obteve apenas uma suplência.
Contudo, assumiu o mandato logo no início da legislatura, em fevereiro de 1955.
Em 11 de setembro de 1957, quando os deputados estaduais alagoanos tentavam
votar o impedimento do governador Sebastião Marinho Muniz Falcão (PSD), em face
do clima de violência que imperava no estado, foi atingido por um tiro no
pulmão. Transferido para o Rio de Janeiro, foi submetido a tratamento médico,
tendo retornando ao Executivo estadual em janeiro do ano seguinte.
Ainda em
Alagoas, José Onias foi assessor do secretário de Justiça e Segurança Pública.
De volta a Sergipe, foi eleito deputado estadual na legenda da UDN, assumindo o
mandato em fevereiro de 1959, e reelegeu-se em outubro de 1962, já na legenda
da Coligação Democrática, que reunia o Partido Republicano (PR) e o Partido
Democrata Cristão (PDC). Durante o primeiro ano dessa legislatura, substituiu
por um mês o governador eleito João Seixas Dória.
Com a extinção
dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 em outubro de 1965 e a
posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora
Nacional (Arena), agremiação que dava sustentação política ao regime militar
instaurado no país em abril de 1964. Em novembro de 1966 obteve a primeira
suplência de deputado federal por Sergipe na legenda desse partido, assumindo
uma cadeira na Câmara em fevereiro de 1967, tão logo expirou seu mandato no
Legislativo sergipano. No pleito de novembro de 1970, voltou a candidatar-se a
uma cadeira na Assembléia Legislativa de Sergipe, sempre na legenda da Arena,
obtendo apenas a sexta suplência. Exerceu seu mandato de deputado federal até
janeiro de 1971, ao final da legislatura. Algum tempo depois, acabou assumindo
o mandato no Legislativo sergipano, aí permanecendo até 1975.
Afastado do
cenário político, em 1976 transferiu-se para Recife. Posteriormente, obteve sua
aposentadoria como deputado. 1º Deputado filho do município de São José do
Belmonte, foi casado com Elisabete Torres Carvalho. Faleceu em Olinda (PE),
cidade onde fixara residência, em 13 de novembro de 1996. Os seus restos
mortais repousam na Capela de São Sebastião, localizada à Rua de São José, na
sede municipal de São José do Belmonte (PE). Publicou “Memórias de Um Matuto
Sertanejo” (1983).
Valdir José
Nogueira de Moura,
Pesquisador,
Escritor, Conselheiro Cariri Cangaço
São José de
Belmonte, Pernambuco
13 de junho de
2020
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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