Prosa de
Artista com José de Paiva Rebouças
O Prosa de
Artista vai contar, nesta semana, a história de um apodiense que se orgulha e
ama suas origens. Um verdadeiro exemplo de perseverança e dedicação às suas
convicções e ideias. Vamos prosear com o jornalista, poeta, escritor, produtor
e servidor público dedicado José de Paiva Rebouças, visto como uma das boas
revelações da literatura produzida no Rio Grande do Norte da última década.
Embora seja natural de Mossoró, é filho de Apodi, terra de sua família, onde
tem fincadas suas raízes e sempre admite com muito orgulho de ser apodiense.
Oriundo do
rádio, chegou ao posto de Diretor de Redação e, em Jornais locais, como
colunista, assessor de imprensa, repórter, editor, chefe de redação, entre
outras tantas funções que se costumam assumir os que ingressam pelo jornalismo
raiz. Paiva Rebouças também atuou como revisor e cronista.
Começou no
jornalismo ao ser contratado como repórter na Rádio Vale do Apodi em junho de
2002. De aprendiz, em pouco tempo tornou-se apresentador principal dos jornais
principais da emissora e, depois , diretor de redação. Foi o primeiro a começar
um blog de notícias em Apodi. Em 2007, realizou o grande desejo de trabalhar em
um jornal impresso, sendo contratado por César Santos para o Jornal De Fato.
Por lá, exerceu a função de repórter de caderno, escrevendo notícias da toda
região Oeste; em seguida tornou-se chefe de redação. Também editou a revista
Contexto, onde escreveu várias histórias. Ele ainda continua como colaborador
do Jornal De fato com suas crônicas semanais publicadas na Revista Domingo,
encarte do impresso, e na página dois na coluna José Martins de Vasconcelos.
No exercício
do jornalismo, também colaborou com outros veículos de comunicação como “O
Mossoroense”, “Papangu” e Tribuna do Norte. Na assessoria de imprensa atuou
como diretor executivo e depois secretário de Comunicação da Prefeitura de
Mossoró. Atualmente, é jornalista da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), onde exerce as funções de assessor de imprensa e eventos do
Instituto do Cérebro e diretor da Agência de Comunicação da Universidade.
Graduado em
Jornalismo, especialista em Comunicação Organizacional e Mestre em Educação
pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), José de Paiva tem
bastante experiência em assessoria de imprensa e eventos, campanhas políticas e
planejamento estratégico de comunicação.
Além de
jornalista, é autor dos livros: “Da amizade sincera de um urubu” (2014),
“Catálogo maçante das coisas comuns” (2015) e “Ópera anti-instrumental ao vazio
homérico da cidade” (2015). Organizou também a coletânea de contos “Cruviana”
(2013), que reúne escritores do Brasil, Argentina e Portugal e edita a revista
virtual literária com o mesmo nome. É membro da Academia Apodiense de Letras
(AAPOL), onde foi vice-presidente, e membro da comissão editorial do Instituto
Cultural do Oeste Potiguar (ICOP).
Por Fabiano
Souza
Prosa com
Artista: Nos conte um pouco sobre sua vida, suas origens sua, família (pais,
irmãos, infância, filhos)
José de Paiva
Rebouças: Sou filho do Brasil profundo, do sertão sem água encanada e energia
elétrica. Morei minha infância toda em uma casa de taipa onde não tinha
banheiro instalado. A casa velha de meus avós, já falecidos, foi meu lar
enquanto minha mãe, Maria de Paiva, vivia na cidade do Apodi lavando roupas e
meu pai, José Rebouças, tentava ganhar a vida como caminhoneiro rodando o país.
Muito esforço para manter a mim e a meus cinco irmãos. Sou o caçula e único que
se formou na faculdade e entrou no serviço público. Hoje, meus pais, com 71
anos, vivem em um projeto de assentamento na Chapada do Apodi. Não posso
romantizar esse passado difícil para mim e para minha gente, um absurdo vivido
por nós, povo brasileiro, em país tão vasto e de potencial gigantesco, mas foi
nesse ambiente ermo, sem brinquedos e livros, que me tornei personagem de minha
própria literatura.
P. A.: Como
foi sua educação formal, os primeiros anos de ensino e posteriormente a
conclusão do ensino superior e pós-graduação?
Muito
conturbada. Sempre fui um menino solitário, deslocado, distanciado de todos os
colegas. Cheguei à escola sem qualquer referência e, por lá, encontrei poucas
delas também. Uma educação precarizada, com professores tirando de onde não
tinha para fazer o possível por nós. Como passei minha infância na divisa com o
Ceará, meu sotaque e minhas brincadeiras eram diferentes, então, isso
dificultava minha vida. Fui o menino solitário que nunca conseguia espaço nos
grupos. Parei de estudar no primeiro ano do segundo grau e, nas idas e vindas,
concluí o terceiro ano no Supletivo Segundo Grau. Foram perdas irreparáveis que
afetam drasticamente meu entendimento de mundo em período crucial como a
adolescência e juventude. Ora, eu já era muito afetado pela pobreza e sendo um
aluno medíocre, com educação ruim as dificuldades se potencializaram. Em 2006
eu sequer sabia o que era faculdade, achava algo muito distante, ainda assim,
prestei vestibular e entrei em segundo lugar em Letras/Espanhol na UERN. Outra
catástrofe. Eu não tinha condições intelectuais para acompanhar as aulas e os
textos e aquilo me feria drasticamente. Sempre fui um bom leitor, mas havia uma
atmosfera que me impedia de avançar. Em 2009, prestei outro vestibular e,
novamente em segundo lugar, entrei em Comunicação Social, habilitação em
Jornalismo, também na UERN. Aproveitei todas as falhas do curso anterior para
aprender e me dediquei com tudo que tinha nesse curso. Enfrentei muitos
problemas novamente, a maioria provocada por minha própria cabeça, mas concluí
o curso como um dos três melhores de toda a universidade naquele ano. No último
ano de Jornalismo entrei na especialização em Comunicação Organizacional pela
Estácio de Sá e concluí seis meses depois de formado. Em 2016, fiz minha
primeira seleção para mestrado e fui aprovado no Programa de Pós-Graduação em
Educação na UERN, concluindo em 2018 com distinção.
P. A.: Como você se definira como estudante?
Até a
pós-graduação me defino como um estudante medíocre. Muito pela incapacidade
intelectual, os vários problemas trazidos pelas dificuldades financeiras de
minha família, a falta de pouso, de apoio e espelho. Os adolescentes e jovens
são inconsequentes e não sabem aproveitar ou pedir ajuda quando precisam. O que
talvez tenha me salvado nesse caminho foi a literatura, o gosto por ler, a
curiosidade e algumas pessoas que apareceram por meu trajeto e me serviram de
inspiração; ao menos me deram um rumo para onde olhar.
P. A.: Como
surgiu seu interesse pela literatura?
Isso foi cedo
e, grande parte, sem eu compreender. Minha avó, Oscarina de Paiva, que faria
101 anos se fosse viva, guardava na memória uma grande quantidade de cantigas
do cancioneiro ibérico medieval. Ela cantava algumas e a gente repetia. As
principais eram o “Pavão misterioso”, de João Melchíades Ferreira da Silva, ou
de José Camelo de Melo Rezende, não vou entrar nessa polêmica, e “Juvenal e o
dragão”, de Leandro Gomes de Barros. Mas também cantava uma versão de “Antonino
e o pavão do mestre”, muito antiga, e outras composições que suponho serem mais
locais, portanto, mais recentes em comparação com as muitas outras. Essas
histórias antigas recontadas do nosso jeito através da metrificação do cordel
são repassadas oralmente há centenas de anos e foi assim que chegou à minha avó
e depois a mim. Meu pai também gostava de cordel e coleciona vários deles. Nos
períodos de colheita, tios, primos e irmãos iam ajudar meus avós, então, à
noite, na debulha do feijão, minha irmã mais velha, Neli, lia para nós à luz de
lamparina e aquilo era mágico. Cordéis de heróis, princesas e vaqueiros
destemidos, dramas, romances e comédias antigas, todas contadas pelas rimas.
Sem perceber, fui mergulhando naquilo a ponto de sonhar e desejar escrever
coisas, de contar meus próprios pensamentos. Eu era um contador de causos,
sabia muitos. Estórias também antigas do tempo que os animais falavam. Uma
riqueza oral extraordinária que perdi ao me mudar para a cidade e me urbanizar,
infelizmente.
P. A.: Conte uma pouco sobre sua história como militante político
Meu primo
João, filho do meu tio Bevenuto de Paiva, gostava muito de ler e isso me
aproximou muito dele. Em muitas de nossas conversas, uma vez ele disse que era
“comunista”. Depois me explicou o conceito. Quando pensei em minha situação de
pobreza e no sofrimento de meus pais e avós eu imaginei que o comunismo fosse
uma alternativa justa para nos tirar daquela vida. Então, a partir dali, com 11
anos, talvez, passei a dizer que era comunista. Depois disso, me aproximei do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais e, na eleição presidencial de 1994, me
apaixonei pela campanha do presidente Lula, a quem defendo e acompanho desde
então. Tudo muito orgânico e com bastante sentido, considerando as
circunstâncias em que estive.
P. A.: Como
foi que você iniciou sua carreira no rádio?
Como a gente
não tinha eletricidade lá no sítio de meus avós, ouvíamos muito rádio. Para ver
tevê andávamos dois quilômetros até a sede da fazenda Baixa Verde para, por
duas ou três horas, assistirmos à programação da TV Verdes Mares. Íamos a pé à
luz da lua, quando tinha lua. No dia a dia, só rádio mesmo, geralmente as
rádios de Mossoró, sobretudo a Rural, mas também Tapuya e Difusora. Também
ouvíamos as rádios Vale do Jaguaribe e Educadora Jaguaribana, de Limoeiro do
Norte. Uma vez conheci Antônio Sideni, que revezava a “Hora da Coalhada” com
Seu Mané e parecia estar vendo um astro do cinema. Pedi que mandasse um alô e
esperei dias. Nunca mandou. Então, quando abriram as primeiras rádios
comunitárias em Apodi, na expansão desse setor, me aproximei. Comecei como
atendente de telefone da Rádio Luta, no programa da colega Ana Oliveira.
Depois, como controlador na Rádio Cidade, onde mais tarde ganhei um programinha
musical à tarde, mas eu era muito ruim. Chegava à rádio às 5h da manhã, abria,
a colocava no ar e fazia o controle para o programa da Igreja de Cristo, do
pastor Davi Marrocos. Naquele tempo não existia computador, então era tudo
manual: CD, bandeja de aparelho de som, mesa de oito canais. Uma luta. Era
preciso correr para escolher o CD, a faixa e deixar no ponto. Às 8h, eu passava
o controle para Alexandre, o Xandy Avião, que tinha um programa a manhã
inteira. Em 2002, quando o ex-deputado Ney Lopes implantou a primeira rádio AM
do Apodi, passou a ser um sonho trabalhar nela. Então, entrei na fila das
contratações e venci o diretor, José Eudes, pelo cansaço. Eu não saia da rádio,
mesmo quando me mandavam embora. Eu queria aquilo como nunca antes quis algo.
Quando comecei não sabia de nada, mas minha insistência e interesse me fizeram
avançar muito em apenas um ano, quando foi me dado a oportunidade de apresentar
os jornais. Depois virei correspondente de Mossoró, da Jovem Pan e chefe de
reportagens.
P. A.: Na época de rádio, você já escrevia alguma coisa e tinha interesse pelo jornalismo? Pergunto isso porque, nos nossos primeiros encontros, eu como repórter do Jornal Defato e você como radialista em Apodi, você sempre perguntava sobre o jornal e a possibilidade de uma oportunidade. Nos fale sobre essa transição.
Quando comecei
a entender melhor como funcionava o jornalismo, ao menos a ler as notícias, a
dar a entonação, comecei a também escrever pequenos textos. Meus colegas
narravam do jeito deles as informações. Eu já fazia uma organizaçãozinha do
texto, copiando a narrativa usada pela Jovem Pan, da qual éramos afiliados.
Mais à frente, o Sistema Ney Lopes de Comunicação comprou, ou instalou, a FM
95, em Mossoró, hoje TCM. De lá, recebíamos outros formatos e fui treinando. A
Vale do Apodi trouxe na sua instalação os primeiros computadores e foi ali, em
2002, que tive acesso, pela primeira vez à internet. Achei aquilo incrível e logo
descobri os blogs. Me aventurei e criei o primeiro blog de notícias de Apodi,
escrevendo lá o que preparava para a rádio. Meus amigos me ajudavam a corrigir
os textos. Mas isso me deu certa notoriedade. Foi por esse blog que César
Santos viu meu trabalho e me deu a grande oportunidade de trabalhar no De Fato.
Cheguei sem saber escrever no nível dos colegas e, assim como na rádio,
observei e pedi ajuda até conseguir crescer lá dentro também.
P. A.: Quais
foram as suas primeiras leituras e quem foram seus influenciadores
Após o cordel
e toda aquela história já contada, um vizinho de minha irmã, que é professor,
viu que eu gostava de ler e me emprestou “O velho e o mar”, de Ernest
Hemingway. Uma aventura maravilhosa. Foi o primeiro livro inteiro que li. Depois
disso, descobri a biblioteca da Escola Estadual Professor Antônio Dantas, lá em
Apodi, onde fazia o ensino fundamental II. Soube que poderia levar os livros
para ler em casa e achei aquilo extraordinário. Aí comecei a levar alguns. O
primeiro foi “Álbum de retratos”, de Pedro Veludo. Historinhas curtas ótimas de
ler. Depois me aventurei em coisas mais complexas como “Capitães de Areia”, de
Jorge Amado, “Luzia Homen”, de Domingos Olímpio, “Hilda Furacão”, de Roberto
Drummond, “Menino de asas”, de Homero Homem, além da coleção “Para gostar de
ler”. Mas, sempre nutrindo paixão pela poesia, me encantei com Manuel Bandeira,
meu poeta de cabeceira desde que comecei a ler.
P. A.: O
que o levou a escrever a sua primeira obra e qual foi?
Olha, meu
trabalho é muito inicial ainda. Preciso apresentar algo representativo que me
referencie no meio. Penso, contudo, que meu primeiro trabalho foi um poema não
publicado que escrevi aos 13 anos: “O abstrato do meu eu”. Uma escrita que,
àquela época, colocava em julgo todas as minhas angústias, mas também o
compilado das leituras que andava fazendo. Não é um grande poema, mas algo
feito com muito espírito de mim. Agora, meu primeiro trabalho publicado foi a
coletânea de contos “Cruviana”, em 2013, seguido de meu livro de crônicas,
oriundas da coluna Balada do Impostor, do Jornal de Fato, que ainda a mantenho,
chamado “Da amizade sincera de um urubu”. Considero que meu principal trabalho
seja o livro “Catálogo maçante das coisas comuns”, publicado em 2014 após eu
ganhar o prêmio nacional da Livraria Asabeça, meu primeiro livro de poesia. Foi
um trabalho longo de escrita, reescrita, leitura coletiva, de modo que é algo
que releio e gosto. Depois, o “Ópera anti-instrumental ao vazio homérico da
cidade”, vencedor do prêmio Rota Batida de Literatura, um prêmio que queria
muito ganhar e que me trouxe críticas muito positivas de autores que me
desafiavam e de outros que muito admiro.
P. A.: Na
sua opinião um bom escritor pode se fazer ou nasce feito?
Tudo pode se
fazer. Alguns conseguem se aprontar mais rápido, seja pela percepção do mundo,
das coisas e dos fenômenos naturais e sociais, outros porque surgem em berços
mais acolchoados e então têm mais chances de percorrer o mundo… mas, ninguém
nasce pronto para nada, vão sendo moldados ou se moldando àquilo que lhe dá
mais prazer e lugar de fala. O certo é que um bom escritor é uma pessoa que lê
bastante, não apenas livros, mas notícias, política, sociologia, ciência. É o
cara que entende a complexidade da existência dos buracos negros, mas que se
emociona com a variação linguística do brasileiro interiorano, com a música bem
cantada ou arranjada, que não tem preconceitos, que percebe os problemas
sociais e não se coloca acima do bem e do mal; pessoa que sabe escutar e que
deixa para contar as coisas mais extraordinárias em sua escrita. Conheço muitos
autores que são assim e tento me inspirar neles na busca de achar algo que me
represente especificamente.
P. A.: Você
participa de diversas entidades e movimentos culturais no RN. Como você avalia
o atual momento cultural no estado, levando em conta a questão da pandemia?
Foi uma grande
surpresa ver uma quantidade enorme de pessoas apresentando trabalhos
literários, audiovisual e artísticos nesse período de pandemia, graças à lei
Aldir Blanc. Coisas realmente boas e novas que merecem nossa atenção. Vi muita
coisa, comprei livros, só achei que, de minha posição como servidor público,
não deveria concorrer a esse edital que deveria servir aos artistas sem a mesma
estabilidade que eu. Óbvio, não sei se algo meu seria aprovado em no referido
edital, ainda assim, pensei nos meus muitos amigos e conhecidos que estão sem
emprego ou sem poder vender seus trabalhos. Não condeno quem não pensou como
eu, só fiz uma escolha. Bem, e de modo geral, o Rio Grande do Norte não tem um
grande movimento literário atualmente, mas tem algumas pessoas fazendo muita
coisa boa. Me preocupa muito a palidez de Mossoró que não tem produzido tanto
quanto poderia produzir. Sei que o audiovisual está na melhor fase. Ainda assim,
acho que, tirando os autores que não sabemos se são literatos ou influencers, é
possível selecionar muita coisa boa de nossos conterrâneos.
P. A.: O que a literatura representa em sua vida?
Olhe, a
literatura representa a parte de mim que admiro e que persigo, embora seja uma
parte que está sempre cansada e sumida. Não vejo a literatura como um livro,
mas como ideias e conhecimentos construídos socialmente, mas também gerados por
fenômenos naturais, pela evolução da vida. Sempre gostei de ler, mas confesso
que há algum tempo tenho sido um leitor medíocre, desses que se cansam logo nas
leituras. Tenho passeado em muitos campos, mas, vez ou outra, me encontro em
leituras que me arrebatam e nelas eu me carrego para a dimensão de onde me
perdi. Tentar não romantizar a literatura e seus efeitos é fingir, por isso, a
poesia é o que mais define, para mim, aquilo que compreendo como literário,
romanesco e ficcional. Porque, por mais que tracemos uma realidade, a própria
realidade nos vai sempre parecer ficção. A vida nunca imita a arte, pois ela é
a própria.
P. A.: O
que você espera atingir no leitor, quando o mesmo lê seus textos?
No meu livro
“Catálogo maçante das coisas comuns” quis atingir as pessoas pelo sensorial,
quis que as pessoas sentissem partes de seu próprio corpo ao ler as palavras.
No “Amizade sincera de um urubu”, que entrassem em espaços peculiares e
particulares de minhas memórias pueris. Quando escrevo minhas colunas quero
fazer as pessoas pensarem sobre as coisas simples de nossa realidade, mas
também que viagem comigo por uma filosofia cotidiana e singela comuns às
crônicas, dessas filosofias de botequim e pé de calçada. Quero sempre que
alguém pense comigo sobre algo e que fale algo para o mundo a partir daquilo
que digo.
P. A.: Você
já publicou algumas obras e projetos culturais. Relate algumas dessas obras e
projetos o que eles representam para você?
Além dos
livros, tenho boas lembranças de dois projetos: a revista Cruviana, espaço
virtual de contos, onde, por alguns bons anos, me correspondi e publiquei gente
de vários estados do Brasil, Argentina e Portugal, e o Aspirinas Urubu, blog
coletivo com amigas escritoras de vários lugares do Brasil. Essa aproximação e
junção com essas pessoas, essa coisa que a literatura permite de aproximar
ideias, pensamentos e descobrir novas leituras é uma das circunstâncias que nos
faz gostar desse submundo literário.
P. A.: Você tem planos de publicar novos livros e qual o gênero? Quais os seus projetos a curto e médio prazo?
Tenho
trabalhado em algo com duas amigas, uma de São Paulo e outra de Minas Gerais.
Pensamos em um livro conjunto com três histórias sobre pessoas distintas,
mulheres talvez, mas que respiram das mesmas dores espirituais. Nos reunimos
periodicamente para discutir isso. Fora isso, tenho um trabalho de poemas
guardado já tem uns anos, assim como um livro infantil. Não sei como retomarei.
Meu projeto é publicar um terceiro livro de poemas em data ainda não definida
e, em seguida, juntar meus três livros de poesia em um único livro. Um trabalho
que possa carregar para onde for e falar sobre ele, contar sua história e suas
inquietações. Mas tudo indefinido.
P. A.: O
que você gostaria que eu tivesse perguntado a você que eu não perguntei nessa
entrevista, mas que você gostaria de ter respondido e por quê? Aproveite para
fazer suas considerações finais.
Talvez o que
possa acrescentar é que a literatura nos permite viajar por caminhos
extraordinários, mas também têm a força de fincar seus pés no chão. Muitos de
nós que passeamos por ela nos cansamos em dado momento porque não basta
escrever, tem, principalmente, que saber vender não só o livro, mas a sua
imagem. Isso, muitas vezes, constrói pessoas montadas que não bebem da mesma
verosimilhança que busca imprimir nos textos e nos livros. Esse meu cansaço de
ler e de escrever tem a ver com isso, porque também é um buraco sem fundo. É
verdade que tenho muita preguiça de muita coisa e não me esforço como deveria,
em busca de um momento que nem sei se chegará. Mas, o fato é que a literatura
não deve ser, para mim, uma prisão para um personagem autor ou que se quer ser
autor. A literatura deve ser algo que precisa brotar como as ervas rasteiras
após as primeiras chuvas de inverno. Algumas viram comida para o gado, outras
são pisoteadas, mas uma ou outra vai virar uma árvore gigante que pode durar centenas
de anos para as vistas de quem a aprecia. Novamente estou romantizando, mas é
como penso.
https://oesteempauta.com.br/a-poesia-de-fato-e-o-jornalismo-poetico-de-jose-de-paiva-reboucas/
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