Por Rangel Alves da Costa
“Eis-me aqui, Adelaide, perante sua cruz em local injustamente chamado Umbuzeiro da Bandida. Então indago, Adelaide: ‘Por que bandida. Apenas para vulgarizar o sofrimento e a dor que sentiste, ou pela incompreensão da mulher lançada aos desatinos do mundo pelas sinas da vida?’. Na verdade, Adelaide, ao invés desse infame nome de Umbuzeiro da Bandida, o justo seria denominá-lo Umbuzeiro da Sofrida. E quanto sofrimento experimentaste até que a morte fosse o melhor remédio. Sei que já não suportava tanta dor, tanta agonia e tanta aflição. Levada numa rede entre espinhos e pontas de paus, sequer sentia mais os solavancos da triste jornada. Sei que o seu filho já morto no ventre não lhe doía tanto quanto o corpo inteiro tomado por inchaços, espasmos agonizantes e a carne e o sangue em indescritíveis ebulições. Nos laivos de consciência que lhe restavam Adelaide, apenas a certeza de que não merecia sofrer tanto assim apenas pelo fato de ter gerado um filho. Queria ter esse filho, mesmo sabendo que criança não pode ser criada por pais cangaceiros e em meio aos sertões hostis. Mas o filho que seria sua vida em meio aos ‘aos homens bons’, eis que acabou sendo a sua morte. Nem chegou a nascer, pois já sem vida acompanhou a mãe ao destino final. Um filho já morto dentro da mãe e uma mãe suspirando pela última vez debaixo do umbuzeiro. Mãe e filho num destino só. O pai, o cangaceiro Criança, enlouquecido e transtornado perante o percurso de sofrimento e o adeus da amada. Seu corpo, Adelaide, não restou debaixo da terra à sombra do umbuzeiro, mas aí que deste o último suspiro, aí que sua dor se dissipou pelo chamado da morte. Aí que sua presença ainda se faz sentida, perante a cruz, perante as réstias do tempo, perante a história - tantas vezes incompreendida - de mulher cujo sofrimento foi muito mais de mulher, de gestante, de esperançosa pela vida no seu ventre, do que apenas por cangaceira. Por tudo isso lhe rendo homenagem, Adelaide. E em sua memória digo: Aqui uma mãe suspirou pela última vez!. Aqui no Umbuzeiro da Sofrida!”.
https://www.facebook.com/photo/?fbid=5783353315017766&set=a.476409229045561
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário