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segunda-feira, 3 de outubro de 2022

OS MÁRTIRES BRASILEIROS DE CUNHAÚ E URUAÇU

 Por Ivanaldo Santos, filósofo – Fraternidade São Próspero - (ivanaldosantos@yahoo.com.br)

EXISTE UM CAPÍTULO pouco conhecido e fascinante da história do Brasil. Trata-se do martírio, no século XVII, de um grupo de cristãos conhecidos como os Mártires de Cunhaú e Uruaçu, Protomártires do Brasil e Mártires do Brasil. De forma sintética, resume-se a história desse martírio da seguinte forma:

Mártires de Cunhaú e Uruaçu é o título dado aos 30 cristãos martirizados, no interior do Rio Grande do Norte no século XVII. Foram vítimas de duas chacinas, ambas no ano de 1645, no contexto das invasões holandesas ao nordeste do Brasil. A primeira chacina ocorreu na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho de Cunhaú, município de Canguaretama; e a segunda em Uruaçu, comunidade do município de São Gonçalo do Amarante. Nessas duas chacinas, um grupo formado principalmente por soldados e comerciantes holandeses desejava que os fiéis católicos se convertessem ao protestantismo, negassem publicamente a fé cristã, e, por causa disso, ajudassem a combater a insurreição popular contra a invasão holandesa. Naquele momento histórico, essa insurreição acontecia principalmente no estado de Pernambuco. Como os fiéis se recusaram a atender as exigências e a ajudar o invasor holandês, foram assassinados dentro da capela.

Muitos morreram de joelhos e o ato de maior heroísmo se deu por parte de Mateus Moreira que, antes de morrer, gritou a clássica oração: "Louvado Seja o Santíssimo Sacramento". Entre os cristãos martirizados encontram-se o Padre André de Soveral e o Padre Ambrósio Francisco Ferro.

Desde o século XVIII o martírio de Cunhaú e Uruaçu é citado, referendado e investigado por historiadores, cronistas e outros pesquisadores. Entre esses pesquisadores cita-se, por exemplo, Tavares de Lira e Câmara Cascudo. A partir da década de 1980, esse acontecimento histórico foi redescoberto, investigado e analisado por intelectuais como Dom Alair Vilar e o Monsenhor Francisco de Assis Pereira. Entre as consequências positivas desse esforço, dentre outras, consta o processo de beatificação dos mártires.

Os Mártires de Cunhaú e Uruaçu foram beatificados no dia 5/3/2000 pela Papa João Paulo II. No dia 3/10/2015 o Arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, anunciou oficialmente que o Papa Francisco canonizará, em data ainda não agendada, os Mártires de Cunhaú e Uruaçu, uma informação que foi confirmada, no mesmo dia, pela Sala de Impressa da Santa Sé. Espera-se que essa canonização aconteça durante a visita do Papa Francisco ao Brasil, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em 2017.

De forma resumida apontam-se seis pontos positivos que envolvem a redescoberto e o interesse histórico em torno dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, um interesse que culminou na beatificação e na provável canonização dos mártires pela Igreja.

Primeiro, importante oportunidade, quase única, de se investigar de forma séria a história colonial e a formação das cidades históricas no nordeste do Brasil e especialmente no Rio Grande do Norte.

Segundo rara oportunidade de se promover e efetivar a preservação do patrimônio histórico (casas, igrejas, prédios, etc.) das cidades históricas do Rio Grande do Norte, como, por exemplo, Canguaretama e São Gonçalo do Amarante.

Terceiro, promoção da cultura por meio das festas, danças e ritos populares.

Quarto, promoção do turismo, especialmente do turismo religioso. Vale salientar que o turismo é uma das maiores fontes de emprego e renda no Rio Grande do Norte.

Quinto, os Mártires de Cunhaú e Uruaçu devem constar como um importante capítulo nos livros de História do Rio Grande do Norte e de História do Brasil.

Sexto, realização de escavações arqueológicas e de investigações históricas, antropológicas e de outras matrizes nos sítios históricos de Cunhaú e Uruaçu.

Por fim, afirma-se que os Mártires de Cunhaú e Uruaçu são um importante acontecimento histórico, sociocultural e religioso que precisa ser mais investigado e divulgado nas escolas, públicas e privadas, nos centros culturais e de difusão do conhecimento. Trata-se de um dos mais importantes acontecimentos ligados ao período colonial, ao domínio holandês no nordeste do Brasil e a história do Rio Grande do Norte.

Bibliografia consultada:

ANDRADE, Rosa Lúcia. Fé e sacrifício no Engenho Cunhaú. In: A República, Suplemento 'Nós do RN', Natal, Ano II, n. 20, julho, 2006, p. 3-6.

BETTENCOURT Dom Estêvão. A inquisição protestante, in: Pergunte e Responderemos n. 500, fevereiro, 2004.

CARVALHO, Alfredo. Um intérprete dos Tapuios. Natal: Sebo Vermelho, 2011.

MONTEIRO, Eymard. Mártires de Cunhaú e Uruaçu. Natal: Nordeste, 1997.

OLIVEIRA, Luiz Antônio. O teatro da memória e da história: alguns problemas de alteridade nas representações do passado presentes no culto aos mártires de Cunhaú-RN. In: Mneme, Revista de Humanidades, v. 4, n. 08, 2010.

PEREIRA, Monsenhor Francisco de Assis. Protomártires do Brasil. Aparecida: Santuário, 2009.

https://www.ofielcatolico.com.br/2017/04/os-martires-brasileiros-de-cunhau-e.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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