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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

MEU PAI TINHA MEDO...

Clerisvaldo b. Chagas, 14 de dezembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.814

VACINANDO O GADO (Foto: m.gov.br.).

Nesta época em que está havendo vacina contra aftosa, vem à tona as lembranças de uma época em que não havia veterinário em Santana do Ipanema. Para vacinar o gado, era uma novela, porém, com todas as dificuldades que havia, o ato de vacinar o gado bovino virava uma festa em algumas fazendas. O proprietário rural convidava seus amigos para o ato da vacina como se tivesse convidando alguém para um batizado ou casamento. Estamos falando daquele que tinham mão-aberta. Para o prático veterinário, seus auxiliares e amigos, havia almoço, bebida, farras e ofertas de produtos da fazenda, como frutas, ovos, galinhas, guinés... Além de passeios pelos açudes e visitas em pontos aprazíveis.

O cidadão Antônio Alves Costa, conhecido por Costinha, era um desses veterinários práticos. E de fato entendia muito bem dessas doenças que atacavam os animais. Era bem humorado e tinha um raciocínio veloz para uma resposta, a quem chamam de tirocínio. São inúmeras suas aventuras, muitas delas contadas pelo próprio Costinha. Foi comerciante, soldado do exército e diretor de disciplina no Ginásio Santana, em nosso tempo de estudante por ali. Gostava de conversar conosco e contar as coisas. Certo dia Costinha foi chamado para vacinar o gado na fazenda Santa Helena, da nossa família... E foi. E como falamos acima, havia de tudo para agradar amigos também convidados.

O tirocínio de Antônio Alves da Costa estava sempre em evidência. Onde ele se encontrava, os presentes tinham riso frouxo. Na hora da vacina, um vaqueiro chamado Chico, muito forte, laçava a rês, dominava-a e, Costinha encostava com a seringa da vacina. (Já contei essa passagem por outro viés). Não hora de laçar o touro, foi uma luta muito forte entre Chico e o possante. Mas até aí, Costinha se mantinha apena aguardando sua vez de entrar em cena. Foi, então, que o caboclo laçou uma vaca que deu um trabalho enorme para se acalmar. Costinha ficou à distância até que o vaqueiro o chamou: “Chegue, Costinha, que a vaca é mansa”. O veterinário prático mal deixou o vaqueiro fechar a boca e respondeu na bucha: “mansa? Mansa era minha mãe e meu pai tinha medo dela!”.

Foi uma gargalhada geral.

E no fim, missão cumprida com o “filósofo do improviso e comediante sem ribalta, Costinha.

Ô Sertão bonito!

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