Tomislav R. Femenick – Membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN.
Os anos de
1920 formaram a década em que alguns oficiais de baixa patente promoveram uma
seria de revoltas contra o governo federal e as oligarquias que governavam os
Estados. As mais conhecidas deles foi a Revolta do Forte de Copacabana, no Rio
de Janeiro, e a Coluna Prestes, formada por militares rebeldes principalmente
de São Paulo e do Rio Grande do Sul e liderada por Luís Carlos Prestes, Juarez
Távora e Miguel Costa. A Coluna percorreu cerca de vinte e cinco mil
quilômetros pelo interior do país, fazendo uma “guerra de movimentos” e
enfrentando as forças do governo.
Em suas
andanças a Coluna Prestes passou pelo Rio Grande do Norte e atacou duas cidades
do Alto Oeste potiguar: São Miguel e Luiz Gomes. Todavia, as notícias que
antecederam os ataques inquietaram a população de vários outros municípios do
Estado. Os escritores Raimundo Nonato (1966) e Itamar de Souza (1989)
retrataram esse cenário de medo e as lutas propriamente ditas.
Mossoró, pela
sua importância econômica e estratégica, foi um palco de agitação quando os
revoltosos que estavam nas imediações da cidade de Jaguaribe, no Ceará, se
preparavam para adentrar em nosso Estado. Diz Raimundo Nonato: Mossoró era “um
porto aberto ao intercambio de vasta área do comercio nordestino, no negócio de
algodão, sal, sementes de oiticica, cera de carnaúba, gesso [e com] agência do
Banco do Brasil, não sendo despropositada a precisão de assalto, depois de
longas travessias e combates, a um porto que oferecia vantagens múltiplas,
inclusive o reaprovisionamento de tropa”.
Essa ameaça de
ataque iminente espalhou o medo na população que procurou fugir da cidade. Um
grande contingente de pessoas foi se refugiar em Areia Branca. A companhia
Estrada de Ferro Mossoró-Porto Franco colocou diversos trens extras, porém não
conseguiu atender a demanda e mais de 150 pessoas não tiveram como embarcar.
Quem não conseguiu lugar nos trens, fugiu para qualquer lugar da vizinhança.
Na cidade se
preparava a resistência. O deputado Juvenal Lamartine, o chefe da polícia (Dr.
Silvino Bezerra), o comandante da polícia militar (Cel. Joaquim Anselmo), o
intendente municipal (Cel. Rodolfo Fernandes, que um ano depois comandou a
defesa da cidade contra o ataque de Lampião), o presidente da Associação
Comercial (Cel. Cunha da Mota), o vice-presidente da intendência (Dr. Hemetério
Fernandes) e muitos outros organizaram o esquema de defesa. Algumas das
decisões tomadas foram: a distribuição de armas e munições fornecidas pelo
Exercito Nacional, a formação de trincheiras em torno da cidade e na zona
urbana e a vigilância da fronteira com o Ceará.
O Padre Mota,
o novo vigário da Igreja de Santa Luzia, atuava em várias frentes. Ao mesmo
tempo em que cedia o prédio do Ginásio Santa Luzia (onde hoje é a agencia
central do Banco do Brasil) para servir de sede do “quartel general” da defesa
da cidade, promovia reuniões entre os representantes do governo com as
lideranças civis e procurava acalmar as famílias e evitar as fugas
precipitadas, com seus sermões nas missas e, inclusive, com a publicação de um
Boletim.
Os revoltosos
não chegaram a Mossoró, como não chegaram a Areia Branca e Natal, aonde as
notícias e boatos de ataques da Coluna Prestes também chegaram, com maior ou
menos alarme que causaram na “capital do oeste”.
Nos próximos
artigos abordaremos o clima nessas cidades e os ataques que integrantes da
Coluna Prestes realizaram em São Miguel e Luiz Gomes.
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