Via Patricia Contant.
Originários do
Noroeste da Índia, o povo que hoje é conhecido por cigano ou Rom partiu em
êxodo desta região por volta do ano 1000 por razões ainda hoje pouco
esclarecidas. Este povo espalhou-se pela Ásia e Norte da Europa dando origem à
denominação "Rom". Já outro fluxo de migração passou pelo Egito, daí
o nome de gypsy , tsigane , gitano e cigano, e veio a espalhar-se pelo Norte de
África, Península Ibérica e Sul da Europa.
Ou seja,
apesar de serem de fluxos migratorios diferentes, os ciganos da Europa ocidental
e oriental possuem a mesma herança cultural da Índia, transformada por séculos
de itinerância e nomadismo em contato com povos de todo o Mundo. Com a
colonização esse povo também migrou para as colônias Européias nas Américas.
Ao longo da
História esse povo foi marginalizado pelas sociedades com as quais estiveram em
contato, sobretudo pela recusa de abandonar a sua cultura, tradição, língua e
costumes e pela sua necessidade visceral de liberdade e independência. Por isso
os ciganos escolheram durante séculos a vida nómade, talvez por ser aquela que
lhes permitia sobreviver em plena identidade.
Para além da
discriminação e exclusão social e racismo, os ciganos chegaram a ser
escravizados, como no caso da Roménia, e foram vítimas dos Campos de Concentração
Naz1, resultando no extermínio de cerca de meio milhão ciganos.
A base da
economia das comunidades ciganas era tradicionalmente o ofício artesanal,
ferreiros, caldeireiros, cesteiros, etc., ou o comércio de bens de variada
ordem além de animais.
Os vários
tipos de ocupações profissionais mantêm-se ainda hoje nas famílias ciganas.
No Leste da
Europa, ainda hoje existem clãs de famílias cujas características fazem lembrar
as das castas indianas, em que os ofícios são seguidos por várias gerações. Por
exemplo, encontramos no ofício de caldeireiros dos Kalderash, ou no comércio de
cavalos dos Lovara.
Talvez a mais
conhecida forma de sustento do povo cigano é a arte do circo, tanto na
representação, adestramento de animais e na música. Foi sobretudo a música que
permitiu a um certo número de grupos de ciganos uma posição muito favorável
junto das cortes de reis e czares na Europa e na Rússia. Em termos musicais, os
ciganos assimilam a cultura musical dos povos com quem estão em contato e
reinterpretam-na de uma forma inteiramente pessoal e cultural que chega a ter
laivos de verdadeira reinvenção. Uma das manifestações mais importantes desta
influência mútua de ciganos e gadjés encontra-se no flamengo, arte viva que
uniu na sua expressão não só as formas culturais como também os povos.
O povo cigano
tem uma língua própria manifestada em diferentes dialetos que têm origem na
língua hindu e no sânscrito. A sua língua é também uma espécie de código que
estabelece a base dos laços sociais e familiares dentro da mesma comunidade ou
em comunidades diferentes de ciganos. Dentro da família cigana, os velhos e as
crianças ocupam uma importância fundamental, significando por um lado a
preservação da experiência e do conhecimento predominantemente oral desta
comunidade e o futuro e a sobrevivência da sua cultura. A família e a honra são
os valores mais queridos deste povo que observa uma série de regras de forma
muito rigorosa. Muitos dos costumes das comunidades ciganas, sobretudo os mais
característicos, são completamente desconhecidos das sociedades onde estes se
inserem, o que por vezes contribui para aprofundar a discriminação.
Hoje em dia
são raras as comunidades totalmente nómades de ciganos tanto no Brasil quanto
na Europa, dado que a maior parte se fixou total ou parcialmente em algum
local. A exemplo de outros grupos étnicos, na era moderna a força de muitos dos
costumes mais tradicionais está enfraquecendo, sobretudo nas comunidades
urbanas.
Por outro
lado, durante a segunda metade do século XX, há a criação na Europa e em outros
continentes, instituições organizadas de defesa da cultura e dos direitos do
povo cigano, que prezam pela preservação de muitas das suas tradições, ao mesmo
tempo, pretendem um estatuto de cidadania efetiva junto das sociedades em que
estão inseridos, com o respeito dos seus direitos mais elementares, entre os
quais o respeito à diferença.
No Brasil,
cerca de 800 mil a um milhão de pessoas se identificam como ciganos, de acordo
com IBGE, já o Conselho da Europa estima que a população cigana em Portugal
ronde as 52 mil pessoas.
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