Por Antônio Corrêa Sobrinho.
A meu ver,
presta desserviço, um desfavor à história, como ciência responsável por
retratar o passado, pela interpretação e tradução, quem assenta Virgulino
Ferreira da Silva, o célebre cangaceiro Lampião, nos extremos da genialidade do
bem ou na genialidade do mal.
Não vejo como
dizer fazer história quem não contextualiza, nem busca este personagem no
banditismo do qual fez parte integrante como grande protagonista, cangaço, de
causas e fatores múltiplos, econômicos, políticos, geográficos, sociais, em
grande prejuízo às populações sertanejas, alimentado por violências de toda
espécie, física, moral, emocional, psicológica; violência esta que, até hoje,
marca, como lastimável traço cultural, a sociedade brasileira, manifesta em
todas as épocas e lugares, hoje visualizada à farta por conta da internet, que
nos exibe a cada instante vídeos mostrando gente se matando, sendo roubada, em
vias de fato, sem falar da incontrolável violência no trânsito e a doméstica.
Tudo isso somado às vistas grossas do Estado Brasileiro ao seu
"interland" sertanejo, não tendo a Guerra de Canudos, décadas antes,
infelizmente, com todo o sangue derramado e as milhares de vidas ceifadas, sido
suficiente para, permitam-me aqui dizer, o Brasil do litoral avistar e
reconhecer a grande nação, o Sertão Nordestino, e nele, desde então, atuar
efetivamente com o objetivo de levar o bem-estar à sua gente carente. O Estado
assim não procedeu, manteve-se como sempre o fizera desde os anos iniciais da
colonização, ausente no seu interior, ali apenas formalmente presente,
trasvestido nas vestes impróprias e parciais dos senhores da terra, mandatários
locais.
Não fez nem
fará história, reafirmo, quem sobre Lampião não utilizou nem utilizará métodos
científicos, principalmente o dedutivo, este o caminho que leva aos pontos de
melhor observação, de visibilidade das causas, dos fatos, das circunstâncias,
das consequências; no caso aqui especificado, a estrada que leva ao mundo dos
cangaceiros e, consequentemente, ao seu chefe Virgulino Lampião.
Centenas de
pesquisadores, e não pesquisadores, enveredaram em busca de Lampião durante
todos esses anos, mas, além de terem andado distante da metodologia científica,
foram traídos pela ausência de imparcialidade no trato da questão, o que
terminaram por comprometer seus trabalhos, ante a verdadeira história.
Entretanto, os
modos ficcionais que costumeiramente são utilizados para dizerem de Lampião
valem, porém, para a literatura, para o teatro, a televisão, o cinema etc.
O casal
Lampião e Maria Bonita, mulheres no cangaço, Lampião imbatível, anos de
correrias, tiroteios com as volantes, conluios de Lampião com poderosos - tudo
isso inspirou e ainda inspira nossos versejadores e romancistas gastam horas
criando e recriando o cangaço, onde Lampião nunca falou tanto. Prato cheio para
as letras e para as artes, Lampião. Coisa que a verdadeira a história não
conseguiu. Os jornalistas, por sua vez, deitaram e rolaram com este personagem;
vendia-se menos jornais quando Lampião se ausentava, suas manchetes faziam
sucesso. Foi o jornal que formatou a história que conhecemos de Lampião e do
cangaço. Que foi se completando, a posteriori.
Eu compreendo
bem tudo isso, e sei que assim seria, porque a história não é suficiente para
dizer tudo sobre os que transcendem a própria história. Satisfaz a fome que
temos de avaliar tudo, sinteticamente, simbolicamente, por mais que nos
coloquemos diante do extraordinário, do inexplicável, do mistério, justamente
do que está cheio o cangaço. Caso em que utilizamos a heurística, o processo
cognitivo que nos permite obter explicação que nos atenda, a resposta que
precisamos.
Meu objetivo
com estas ligeiras e macarrônicas notas, é somente, se possível, alumiar o
caminho de quem, nestes dias de fartas informações a respeito do cangaço
principalmente o lampiônico, busca alcançar o quanto mais ângulos de observação
melhor, do Lampião real, verdadeiro, acrescendo a recomendação: antes de se
debruçar a fundo nalgum estudo sobre Lampião, verifique se o autor trata a
questão de forma isenta, com imparcialidade, sem paixões, sectarismos,
ideologias. A menos que você queira ler um livro tendencioso, afaste-se deste
trabalho, porque, quem só tem olhos para uma vertente, termina indo pros lados,
e o extremo, ao invés do meio, nem é o lugar mais próximo da verdade, portanto
não deve o historiador residir.
Tem um
escritor que diz que escrever é tirar palavras. De modo que você, leitor, pode
fazer isso por mim.
Aracaju,
15.11.2023
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