Por Rangel Alves da Costa
Dinda,
nascida na região do Poço de Cima (primeiro núcleo habitado de Poço Redondo),
batizada como Idalina Alves, era filha de Presentino Alves e Dona Eutímia.
Dinda era irmã de Dona Jovita e Mané de Tino, dentre outros, e sobrinha de
Teotônio Alves China (o China do Poço, meu avô materno). Era, pois, uma
legítima representante da família Alves. Já Delicado, nascido e crescido nos
arredores do atual Alto de João Paulo, logo após a sede municipal, possuía como
nome de batismo João Batista (ou João Braz de Souza), mas era mais conhecido
como João Mulatinho. Filho de Antônio Mulatinho e irmão da cangaceira Adília,
João, diferentemente de outros jovens sertanejos, nem pensava nem queria ser
cangaceiro, mesmo já tendo uma irmã levada por Canário e servindo ao subgrupo
de Zé Sereno, onde sua conterrânea Sila, por ser companheira do chefe, também
tinha voz de mando. Aquele que mais tarde se tornaria o cangaceiro Delicado
tinha uma só preocupação no seu dia a dia sertanejo: amar e cada vez mais amar
uma bela mocinha moradora do Poço de Cima, sua meiga e querida Dinda. Aliás, os
dois jovens planejavam ir muito além daquele namoro, pois desejavam mesmo a vida
em comum e a colheita dos frutos que aquela abençoada união permitisse. Dizem
que certa noite, sob o clarão da lua grande, João abraçou sua amada de modo
diferente, pois um abraço mais caloroso, mais forte, mais apertado e que chegou
acompanhado de palavras quase trêmulas: “Nada nem ninguém nunca vai separar nós
dois”. Até que as curvas do caminho tentaram separar, mas não conseguiram. Seus
destinos já estavam traçados. Os dois alimentavam cada vez mais seus planos
futuros, quando um episódio quase destrói seus sonhos. Adília, irmã de João, já
estava no cangaço, e por isso mesmo sua família passou a ser perseguida e
ameaçada pelo sargento Deluz, com base de comando em Canindé de São Francisco,
vizinho a Poço Redondo. Certa feita, andejando pelos matos e pelos beirais dos
riachos, ao longe João avistou uma cena que lhe fez apressar o passo. Ora, logo
adiante, na beira do riacho, alguém estava sendo espancado por Deluz, que
tomava a frente de seus comandados na prática da violência. Foi se aproximando
cada vez mais por dentro do mato, porém com o cuidado de não ser percebido, até
que o espancamento se mostrou inteiro perante seus olhos. Quem estava sendo
espancado era seu pai, também pai de Adília, o velho Antônio Mulatinho. E o
pior: sabia que se corresse em sua defesa seriam mortos os dois. Tomado de
fúria, prestes a explodir, reconheceu apenas o soldado Galdino (também de Poço
Redondo) se aproximando do ensandecido sargento e exigindo que parasse com
aquela brutalidade contra aquele velho senhor, pois este era homem sério e
trabalhador. Foi o que salvou o pai de Adília. Mas o ódio se alastrou em seu
filho, em João, o futuro Delicado. Ciente de que sozinho não poderia enfrentar
aqueles perigosos algozes, que sozinho não poderia vingar toda a violência que se
espalhava pelo sertão, então prontamente decidiu ir pro cangaço. Preocupou-se
somente em mandar um recado pra sua bela Dinda e dizendo que se preparasse que
logo ele retornaria para levá-la consigo. E assim foi feito. Não casaram em
igreja, mas perante os braços abertos do mandacaru e do xiquexique. Servindo ao
subgrupo de Zé Sereno, estavam em Angico quando o tronco maior do cangaço foi
dizimado em julho de 38. Quando das “entregas”, ficaram temporariamente
separados, mas depois se reencontraram e seguiram para uma nova vida no sul do
país. E até a morte cumpriram seu juramento de amor: “Nada nem ninguém nunca
vai separar nós dois”.
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