Por Beto Rueda
O banditismo
no sertão nordestino a partir dos anos 20 cresceu de forma assustadora. A
grande seca de 1919 que devastou a região, reduziu as populações a uma indescritível penúria. Os assaltos a mão armada se sucediam num crescendo,
tanto nas estradas quanto nas fazendas e vilarejos.
O bando dos
Marcelinos ilustra a história do cangaço nos sertões do Cariri, através de sua
vivência e atuação nesta região.
Família
humilde procedentes de Pernambuco, do sítio dos Moreiras, atual Moreilândia. Os
irmãos João, Manoel e Raimundo dedicaram boa parte da vida trabalhando em
fazendas como agricultores e vaqueiros.
A desgraça
começou em meados de 1923 quando o irmão mais velho João é repreendido por Ioiô
Peixoto, chefe de polícia, na feira de Serrita(PE). No momento que é desarmado
de sua faca em público e diante de tamanha humilhação, jura vingança. Comunica
os seus irmãos do fato e decidem surrar o policial. Ioiô enfurecido, contrata
um pistoleiro bastante afamado na região para dar cabo dos Marcelinos. Cientes
do perigo, eles abandonam o trabalho nas fazendas, vendem os seus bens e
compram armamentos. Para consumar a vingança, fuzilam Ioiô Peixoto. A partir
desse momento, ingressam na vida do crime.
Os Marcelinos
ganham fama de perigosos, saqueiam, matam. Tudo isso acontecia em grande parte
com o apoio de muitos coronéis da região do Cariri que os escondiam e
encomendavam serviços. Os cangaceiros atuavam principalmente na ligação dos
municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.
A fama vai se
espalhando, transpõe divisas e se alastra nos estados vizinhos. Respeitados,
viram também aliados de Lampião em diversas ações, inclusive no ataque a cidade
paraibana de Cajazeiras e na tentativa de ataque a Mossoró, no Rio Grande do
Norte. Por sua agilidade e destreza com as armas, Manoel recebe a alcunha de
Bom Deveras.
Tempos depois
o grupo decide não seguir mais Lampião e continua a praticar crimes na região
do Cariri.
O fim do bando
dos Marcelinos se dá com a morte de Manoel(Bom de Veras) pela volante, no Sítio
Minador, na casa de Raimundo Alexandre. Tempos depois foi morto João(Vinte e
Dois), o mais velho, na Chapada do Araripe. João entra morto na cidade de
Barbalha, pendurado num pau, com o seu cabelo arrastando pelo chão, como troféu,
pelos policiais.
Raimundo(Lua
Branca) ferido e os demais cabras que ainda estavam com Vinte e Dois, foram
capturados e levados a cadeia pública de Barbalha: João Gomes, Joaquim Gomes,
Pedro Miranda e Manoel Toalha.
Na manhã de 05
de janeiro de 1928, com o pretexto de transportar os presos até a capital
Fortaleza, o sargento José Antônio e seus soldados, conduziram os detentos para
o sítio Alto do Leitão, localizado junto a velha estrada entre Barbalha e
Crato. No local, obrigaram os presos cavarem suas próprias sepulturas. O
desespero e a coragem do grupo acabou tornando a chacina ainda mais dramática:
Não satisfeitos, fuzilaram um a um, sem piedade. Até o último cair na cova
mortuária.
Covardia,
vingança, lei..
O Massacre do
Alto do Leitão foi sem dúvidas um dos mais marcantes e trágicos episódios do
cangaço em terras cearenses.
REFERÊNCIAS:
SANTOS, Vilma
Maciel Lira dos. Os fuzilados do Leitão: uma revisão histórica. Juazeiro do
Norte: HB, 2001.
MELLO,
Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: violência e banditismo no
Nordeste do Brasil. 2.ed. São Paulo: A Girafa, 2004.
PEIXOTO
JUNIOR, José. Bom Deveras e seus irmãos. 2.ed. Goiânia: Kelps, 2009.
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste
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