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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

ANTIGO AQUEDUTO

 Por Vagner Oliveira

Ninguém pensa duas vezes antes de abrir uma torneira e ver a água sair. Mas o que a maioria não sabe é que os sistemas de encanamento, que hoje associamos ao mundo moderno, são na verdade invenções de milhares de anos atrás. Um exemplo fascinante disso é o sistema de aquedutos descoberto sob as ruínas de um castelo histórico em Borujerd, no Irã, em 2015.

Esse antigo aqueduto, composto por canos de barro e vasos de cerâmica, remonta ao período sassânida (224-651 d.C.), mas há indícios de que sua origem possa ser ainda mais antiga, talvez de épocas pré-iranianas. Isso muda radicalmente nossa visão sobre as capacidades tecnológicas das civilizações antigas.

Os aquedutos do Irã, chamados de qanats, funcionavam com uma engenharia engenhosa. Eles eram escavados à mão, aproveitando a gravidade para transportar água subterrânea por quilômetros, desde montanhas e fontes até cidades e campos agrícolas. Diferente dos aquedutos romanos, que eram estruturas elevadas, os qanats eram túneis subterrâneos inclinados, com poços verticais a cada 20 ou 30 metros para ventilação e manutenção.

O processo começava nas montanhas, onde a neve derretida e as chuvas se infiltravam no solo, formando lençóis freáticos. Um túnel era então cavado na base da montanha, inclinando suavemente para conduzir a água até as áreas mais baixas, garantindo um fluxo contínuo sem a necessidade de bombeamento. O uso de canos de barro, vasos de cerâmica e tijolos na construção desses túneis evidenciava um domínio incrível sobre a distribuição de água.

Materiais e técnicas

Os materiais mais comuns usados eram o barro cozido e a cerâmica, que não só eram abundantes na região, mas também permitiam a construção de tubos robustos e resistentes ao desgaste. Esses canos de barro cozido, conhecidos como kulal, eram encaixados uns nos outros com uma precisão surpreendente, garantindo um sistema de transporte de água confiável e de longa duração. Alguns trechos de aquedutos antigos ainda estão em uso hoje, o que é um testemunho da durabilidade dessas construções.

Os engenheiros sassânidas também empregavam técnicas avançadas de impermeabilização, usando misturas de argila e pedras trituradas para evitar vazamentos. O uso de poços verticais, conhecidos como chah, além de facilitar a ventilação, permitia o acesso fácil para limpeza e reparo, prolongando a vida útil do sistema.

Embora os aquedutos sejam frequentemente associados à civilização romana, os povos do antigo Irã, como os sassânidas, também foram pioneiros nesse tipo de engenharia. A descoberta em Borujerd apenas arranha a superfície de um mundo subterrâneo repleto de mistérios, mostrando que o transporte de água, algo tão essencial para a vida, já era tratado com sofisticação e inteligência muito antes da nossa era moderna. Talvez a maior lição aqui seja a constatação de que, por mais que a tecnologia tenha avançado, nossas soluções mais básicas para questões complexas, como o acesso à água, foram, em muitos aspectos, inventadas há muito tempo.

✍️Texto e pesquisa por Fagner Oliveira

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