Por Guilherme Velame Wenzinger
A Noite(RJ) - 22 de outubro de 1935.
ARACAJU,
outubro (Serviço especial d’A NOITE) — Paralelamente ao flagello das secas
periódicas assola o sertão nordestino o flagello do cangaço.
Enquanto
“Lampião” depreda em Pernambuco, “Corisco” age em Alagoas. Por sua vez, Angelo
Roque opera na Bahia e José Bahiano em Sergipe. No Estado da Bahia, Angelo
Roque tem a seu cargo a zona de Santo Antonio da Gloria, Geremoabo e
Paripiranga. Em Sergipe, José Bahiano responde pela zona de Anápolis,
Pinhão, Carira, São Paulo, Itabaiana, Campo do Brito e uma parte do município
de Riachuelo. Ultimamente este facinora, que anda ferindo as mulheres com as
suas iniciaes; J.B. teve a audácia de atacar propriedades distantes de
Aracaju apenas sete léguas. Ora, Sergipe é um Estado todo cortado de estradas
de rodagem com communicações telegraphicas e telephonicas para todo o interior.
Mas nem assim
escapa ao cangaço. O chefe do grupo chega numa fazenda, procura o vaqueiro e
ordena-lhe que vá buscar cinco contos. Esses homens, que na sua maioria são
“coiteiros” dos bandidos, transmittêm o recado ao proprietário e esse tem que
mandar o dinheiro, sob pena dos bandidos incendiarem as fazendas ou matarem
todo o gado. Sabe-se, até que muito fazendeiro, tem sido vítima de recado falso
dos vaqueiros. E é assim que José Bahiano já dispõe de mais de quatrocentos
contos de réis.
Fortaleza,
assassinado recentemente em Alagoas, já tinha em seu poder, somente em ouro,
mais de vinte contos. E o povo continua soffrendo. A inefficacia da perseguição
da policia é uma coisa notoria. Qual seria o melhor meio de acabar com o
banditismo, perseguindo os “coiteiros”? Não, porque a medida só atingiria aos
pequenos. Os grandes ficariam impunes.
Ultimamente o coronel Liberato Carvalho, sob cujo commando se encontra a policia da Bahia, realizou um convênio com as polícias de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. As medidas que vão ser postas em prática são reservadas. Seja lá como fôr, os habitantes da zona infestada por cangaceiros continuam pessimistas. Já não é pouco em dez annos que têm soffrido.

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