Publicado em 20/11/2013 por Rostand Medeiros
Autor –
Ricardo Lavecchia – Pesquisador paulista sobre a participação do Brasil na
Segunda Guerra Mundial e responsável pelo blog Ecos da Segunda Guerra (http://segundaguerra.net/)
Quando falamos
sobre o Brasil na Segunda Guerra Mundial, logo vem à cabeça os ataques a Monte
Castelo e Montese na Itália, ou os ataques dos submarinos alemães a nossa
marinha mercante em nossa costa. Mas o que muitos não sabem, e sinceramente eu
até poucos dias também não sabia, é que aqui em nosso território, de baixo de
nosso nariz, alistaram mais de 50 mil brasileiros no esforço de guerra, os
chamados “Soldados da Borracha”.
Durante a
Segunda Guerra Mundial a utilização de borracha em material bélico era
essencial, e com a utilização em automóveis e demais aparelhos o consumo era
muito alto. Nessa época os americanos tinham um estoque razoável, mas com o
avanço nipônico na Ásia onde os ingleses tinham grandes concentrações de
extração de borracha, causou um colapso mundial. Sendo assim os planejadores
militares tiveram que arrumar alternativas para a borracha, uma vez que ainda
não tinha sido criada a borracha sintética.
A principal
estratégia seria a busca do material na América Latina, ou seja, na Amazônia.
Nessa hora que entra a história de milhares de nordestinos que, fugindo da seca
viram na promessa do Governo uma possibilidade de riqueza no então novo “El
Dorado”.
Um relatório
do Governo Brasileiro informava a existência de mais de 300 mil arvores chamada
de “seringueira” na região amazônica, e uma estimativa anual de 800 mil
toneladas anuais de borracha, essa noticia encheu os olhos dos americanos. Na
época os Estados Unidos ofereceu em troca da borracha, uma enorme lista de
matérias bélicos para Brasil, entre eles estão tanques, metralhadoras e etc…
Mas como tudo
que é bom, não dura muito, esse relatório não contava com os imprevistos,
entrem eles tinha a distancia e o difícil acesso a Amazônia, outro detalhe não
pensado foi que em um acre de terra tinha em média 6 a 8 seringueiras, e o mais
agravante de todos os imprevistos era a mão de obra, uma vez que os seringais
estavam abandonados desde a década de 30. Todos esses imprevistos junto com a
urgência do material não podia ter outro nome senão “Batalha da Borracha”.
O recrutamento
para mão de obra teve o principal foco no nordeste brasileiro, o Governo fez
propagandas oferendo o “El Dorado”, todos voluntários teriam direito a
porcentagens na extração de borracha, da colheita de castanhas, na madeira
derrubada, também teriam direito a poder caçar, pescar e a um hectare de terra
para poder plantar, todos tinham direito a viagem de ida e volta e o principal
de tudo, seria considerado “Heróis do Brasil”. Todas essas promessas
encheram os olhos dos flagelados da seca e logo milhares de caminhões saiam
lotados em direção aos seringais.
O Presidente
Getúlio Vargas deu um presente aos então soldados da borracha, era um kit para
o trabalho, esse kit era composto de uma calça azul, uma camisa branca, um
chapéu de palha, um par de sandálias, um caneca, um prato fundo, um talher, uma
rede e uma carteira de cigarros, tudo isso em um saco de estopa. Assim o
voluntário iria passar seus dias de trabalho no inferno verde.
Tudo parecia
muito bonito nas propagandas, mas infelizmente nada aconteceu como previsto, os
voluntários tiveram problemas com alimentação e transporte para chegar nos
seringais, la chegando viram o sonho jogando no lixo, não passaram de meros
escravos dos patrões tendo que trabalhar em troca de comida e sendo vigiados
por capataz o tempo tendo. Dali, não conseguiam fugir, tudo que precisavam para
se manter era cobrado a preço de ouro, até a viagem de ida e volta estava
anotada na caderneta de cada voluntario, ele já foram com uma divida, e muitos
morreram e não conseguiram quitar, e muitos outros milhares jamais voltou para
sua casa, para seus pais.
Os voluntários
não tinham para quem reclamar, nem para quem recorrer, os americanos não
estavam nem ai para nada, eles tinham pressa para ter a borracha, não se
preocupavam com os soldados e nem com o desenvolvimento da Amazônia e bem estar
da população.
O reflexo de
tudo isso foi a morte de mais de 30 mil voluntários, a grande maioria por conta
de doenças, na região não tinha medicamentos necessários para o tratamento de
todos e o nível de contaminação era maior que o de médicos e medicamentos, teve
também um grande numero de mortes por conta de assassinato e brigas.
Hoje os
veteranos da guerra da borracha continuam em busca de seu reconhecimento,
alguns poucos conseguiram sua aposentaria com o nível de veterano, mas muitos
não conseguiram a aposentadoria e vivem até em extrema miséria, morando em
palafitas sobre os rios ou em favelas no interior do Acre e outros estados
amazônicos,
Infelizmente
como já se era esperado o Governo não cumpriu com sua palavra, os voluntários
(soldados) não tiveram o seu El Dorado e sim a desgraça e miséria, e o rotulo
de “HERÓIS DO BRASIL” ficou somente na memória dos poucos sobreviventes, muitos
morreram e foram enterrados e vala comum, isso quando foram enterrados,
morreram por uma causa, por um propósito e seus nomes não estão na lista de
veteranos de guerra, nem tão pouco na lista de Heróis.
O Brasil sem
memória, sem história, sem reconhecimento, já tinha la em meados dos anos 40 a
ideia de se aproveitar da vontade de trabalhar de seu povo e da ingenuidade dos
retirantes nordestinos. Essa é mais uma parte da história que caiu no buraco
negro da história militar brasileira na Segunda Guerra Mundial.
Extraído do blog Tok de Histórias do historiógrafo Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/11/20/os-verdadeiros-herois-esquecidos-os-soldados-da-borracha/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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