Antonio Amaury Correa
Amaury Correa
promete revelar fatos inéditos e outros muito pouco conhecidos do grande
público até agora. Ele diz, por exemplo, que vários cangaceiros conseguiam
entrar nas fileiras policiais, "em São Paulo, inclusive — como Peitica, no
começo dos anos 40. Mas também aconteceu de policiais trocarem a farda pelo
cangaço, como Caixa de Fósforo, em Alagoas, Serra de Fogo, na Paraíba, e
Ricardo Pontaria, em Pernambuco." Detalhe importante e comprovado, segundo
o biógrafo, é que "depois do massacre em Angico, os remanescentes do bando
de Lampião jamais praticaram um crime de morte" nos lugares que escolheram
para viver, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
No Rio, Volta Seca
gravou um disco cantando músicas do repertório dos cangaceiros e chegou até a
se aposentar pela antiga Companhia Estrada de Ferro Leopoldina. Pois é,
acrescenta Amaury, "ninguém nasce bandido, por isso não é de surpreender o
fato de cangaceiros, ou de ex-cangaceiros, nos darem exemplo de cidadania."
Amaury Correia
tem 53 anos dedicados a pesquisas sobre o cangaço. Em 1976 ele participou, por
12 semanas seguidas, do programa 8 ou 800, da TV Globo, apresentado por
Paulo Gracindo, respondendo ao vivo perguntas sobre o cangaço e Lampião.
Desistiu na última semana, com boa razão, segundo ele: "Vivíamos ainda no
período da ditadura militar e certamente eu seria derrubado, por isso desisti
do programa uma semana antes." Isso, porém, não interferiu nos trabalhos
do pesquisador, ainda hoje fonte importantíssima para estudiosos brasileiros e
estrangeiros interessados na vida cangaceira de Lampião e seu bando. Amaury foi
preso duas vezes, uma delas no DOI-Codi, acusado de repassar armas pesadas a
grupos de esquerda do Nordeste.
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Lampião entrou
para o cangaço para vingar a perseguição do latifúndio contra sua família.
Fazendo-se justiceiro, ao seu modo, organizou um bando e com ele passou a fazer
frente ao que considerava injusto, atraindo para si a ira dos poderosos
coronéis do sertão que, influentes na política, punham o Estado em seu encalço.
Nascido na
essência dessa contradição, onde a violência do explorador exigia como resposta
a violência do explorado, Lampião exerceu-a de forma inteligente e sagaz. Aos
que de forma unilateral acusavam-no, ou ainda o acusam de sanguinolento, é
válido lembrar a advertência de Bertolt Brecht quanto à obrigação que temos de
observar, primeiro, as margens que oprimem o rio antes de reclamar de sua
violência.
É bem provável
que se Lampião tivesse nascido alguns anos antes, seguisse Antonio Conselheiro
pelos caminhos do sertão até Canudos, ou, se tivesse nascido escravo na velha
Roma ao tempo de Spartacus, talvez parceiro desse libertador. Nascido na
segunda metade do século passado, provavelmente, seria encontrado liderando uma
tomada de terra ou dirigindo um dos movimentos de camponeses sem terra.
Tantos
condicionantes servem para entendermos que a guerra dos escravos, as guerras
camponesas e o cangaço têm a mesma base: a opressão e a exploração da maioria
do povo por um punhado de parasitas.
Lampião era um
revoltado e não um revolucionário. Como tal, não tinha uma visão mais ampla da
sociedade, circunscrevendo-se o seu mundo ao sertão nordestino, por ele mesmo
demarcado quando mandou carta ao governador de Pernambuco propondo que o mesmo
tivesse sua circunscrição limitada do litoral a Rio Branco, deixando daí para
frente por conta de Lampião e, para isto, não faltavam planos, como tão bem
foram expostos por Zabelê, o poeta e sanfoneiro do bando, no famoso poema Para
haver paz no sertão.
http://www.anovademocracia.com.br/no-11/1094-65-apos-a-morte-do-mais-famoso-cangaceiro-pergunta-se-lampiao-bandido-ou-heroi
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