Por João Paulo Araújo de Carvalho
No início de 2009, na busca das memórias de N. Sra. das Dores (SE), tive a
oportunidade de conhecer a senhora Isaura Lopes Clementino. Estava em busca de
memórias do cangaço, capítulo da história nacional e local que ecoa até hoje,
mesmo decorridos 73 anos da morte de seu maior ícone (28 de julho de 1938),
Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938) - o Lampião, e do início do declínio do
movimento.
No auge dos seus quase 100 anos de lucidez e demonstrando forte ligação com o
tema, dona Isaura nos relatou, em várias conversas desde então, fatos que
elucidam algumas das mais importantes dúvidas que existiam na história do
cangaço em terras dorenses, em especial no que diz respeito à relação mantida
entre o “rei do cangaço” e o Coronel Vicente Ferreira de Figueiredo Porto
(1876-1949), o Figueiredo da Tabúa, do qual o pai da nossa personagem (João
Clementino) foi homem da mais alta confiança, confiança atestada pelo saudoso
cirurgião dentista Eduardo de Andrade Porto (neto do coronel) em entrevista ao
Projeto Memórias no ano de 2006.
Esta pernambucana de Triunfo, que desde os 15 anos reside no município de
Dores, nos relatou que a vinda da família Clementino a Sergipe está intimamente
relacionada à Lampião, já que o mesmo determinou a João, seu genitor, que desse
cabo da vida do vizinho, Pedro Quelé, que havia lhe dado “aborrecimento”.
Diante da negativa de João Clementino, justificada pela boa relação que
mantinha com o vizinho de propriedade e compadre, o mesmo passou a ser ameaçado
de morte por Virgulino, o já temido e afamado Lampião. A decisão de sair de
Triunfo para evitar que o cangaceiro desse fim a sua família, a qual Clementino
resistiu mas fora aconselhado por um irmão que dava coito a Lampião, veio após
o recebimento de uma carta assinada pelo próprio cangaceiro, que em forma de
ameaça dava o ultimato: “corre corre minha burrinha, tu corre mais do que eu,
vai dizer a João Clementino que o Pedro Quelé morreu”.
Após curto período no estado de Alagoas a família de dona Isaura desembarcou no
Cajueiro, N. Sra. das Dores (SE), onde seu pai e seu irmão (Pedro Clementino)
se tornaram empregados do Coronel Figueiredo. Foi nessa propriedade que, tempos
depois, os Clementinos se veriam novamente envolvidos na história do cangaço.
No fim dos anos 1930, pouco antes da chacina de Angicos, a fazenda Cajueiro foi
invadida por um grupo de cangaceiros liderado por José Ribeiro Filho
(1913-1981), o Zé Sereno, e desejosos de extorquir dinheiro do Coronel. Diante
da negativa, houve serrado tiroteio, que só não resultou na morte de Figueiredo
graças à ajuda e coragem de Pedro Clementino.
Continua na próxima edição...
Por João Paulo Araújo de Carvalho (historiador, mestre em História, professor e
colaborador do Projeto Memórias) contato:
joaopaulohistoria@gmail.com
* Publicado na Revista Perfil. Julho de 2011. e no blog
http://www.cangacoemfoco.jex.com.br/historia+do+cangaco/isaura+lopes+clementino+e+a+historia+do+cangaco+parte+1+de+pernambuco+a+sergipe
Dr. Archimedes Marques, Dona Elaine sua esposa e a cangaceira Aristeia
Nota de Archimedes Marques:
No dia 18 de janeiro passado estivemos no sitio onde reside a querida dona
Isaura para participar da comemoração dos seus 100 anos de idade... Ela se
sente radiante com o chapéu de cangaceiro que lhe deu de presente o amigo João Paulo... Apesar do
seu pai ter lutado no fogo do Cajueiro contra o bando de Zé Sereno, quem quiser
que fale de Lampião...
O
cangaceiro Zé Sereno. Ele nasceu no dia 22 de agosto de 1913, na Fazenda dos
Ingrácias, zona rural de Chorrochó, município situado no norte do estado da
Bahia - blogsolvermelho.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
A festa de aniversário foi simplesmente maravilhosa e reuniu centenas de
pessoas, em memorável dia, regado a bebidas e comidas típicas que marcou para
sempre a data para os queridos amigos dorenses. Parabéns a dona Isaura e que
Deus ainda lhe conceda muitos anos de vida!
Facebook - página do escritor e pesquisador do cangaço Dr. Archimedes Marques.
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