Por:
Heitor Feitosa Macedo
Gustavo
Barroso
Como a maioria
dos estudiosos do cangaço, Gustavo Barroso dedicou-se à análise de tal fenômeno
observando-o a partir do século XIX, ou seja, considera, implicitamente, que o
seu objeto de estudo tenha nascido das relações sociais estabelecidas no início
de 1801 em diante. E isto pode ser facilmente observado quando o autor trata do
combate ao protecionismo dado aos cangaceiros pelos coronéis no
Ceará, fazendo menção apenas aos fatos ocorridos já no referido
século. Ainda, relativamente ao assunto, Barroso diz que por volta de 1808
o Coronel Manoel Martins Chaves fora preso pelo governador João Carlos
Oyenhausen e Grevenburg, acusado pela morte do Juiz Ordinário Antonio Barbosa
Ribeiro.
Ao tratar do
assunto Gustavo Barroso batizou Manoel Martins Chaves de “O Grande
Cangaceiro”. O episódio envolvendo o Coronel Manoel Martins Chaves foi
relatado no começo do século XIX pelo inglês Henry Koster, sendo seguido e
copiado por seu conterrâneo Robert Southey. As histórias contadas por
estes dois escritores, disseminadas pela Europa, foram colhidas poucos anos
depois do ocorrido. Sendo notória a referência feita ao Coronel Manoel Martins
Chaves como “O Feitosa” ou “O Chefe dos Feitosa”.
De fato, essa
ideia de o Coronel Manoel Martins Chaves ser um Feitosa propagou-se entre o
povo e pelos anos seguintes como uma verdade absoluta, conforme registrado no
diário do médico-botânico Francisco Freire Alemão, que esteve no Ceará entre os
anos de 1859 e 1860. Na verdade, o Coronel Manoel Martins Chaves não era
um Feitosa, mas primo, pois antes das famílias Martins Chaves (ou Araújo
Chaves) e Feitosa migrarem das margens do Rio São Francisco em direção ao
Ceará, já estavam entrelaçadas consanguineamente.O parentesco se deu da
seguinte forma. O primeiro Manoel Martins Chaves (português) teve duas filhas,
uma chamada Ana Gomes Vieira, que casou com o Capitão da Vila de Penedo, João
Álvares Feitosa (português), e outra chamada Nazária Ferreira Chaves, que se
casou com o português Antonio de Sousa Carvalhedo.Este último casal gerou o
Capitão-mor José de Araújo Chaves, avô do Coronel Manoel Martins Chaves (o
segundo do nome),mencionado por Gustavo Barroso.
A amizade
entre as duas famílias era intensa, daí surgindo muitos casamentos e uma
imbricada parentela. A confusão entre ambas seria inevitável, principalmente
pelo fato de a única filha do Coronel Manoel Martins Chaves (2º) ter se casado
com um Feitosa, o Major José do Vale Pedrosa. Destaque-se que a história
muitas vezes se torna uma grande vilã, eivada de injustiças, principalmente
quando se socorre unicamente da tradição oral ou de documentos tendenciosos,
como ocorreu com o Coronel Manoel Martins Chaves. Este, preso por um crime que
não cometeu, não teve oportunidade do contraditório e da ampla defesa, vindo a
morrer em situação deplorável nas enxovias do Limoeiro.
Tudo por uma
questão de política criminal e autopromoção de seu algoz, afilhado da rainha
Maria I. Ressalte-se que o dito coronel fora preso juntamente com um de
seus sobrinhos, Francisco Xavier de Araújo Chaves, acusado do mesmo crime,
voltando este ao Brasil em 1810, no mesmo ano em que nasceu um de seus
netos, o Brigadeiro Sampaio, herói da Guerra do Paraguai e Patrono da Arma de
Infantaria do Exército Brasileiro, o qual, por ironia do destino, quando
criança, fora apaixonado pelo cangaço. A história é paciente, demorada e
cheia de surpresas, tendo como maior virtude a força de desmentir os homens,
impondo novas versões aos velhos fatos.
Heitor Feitosa
Macedo
Fontes:
http://estoriasehistoria-heitor.blogspot.com.br
http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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