"Infelizmente,
tenho a impressão de que as contas com Deus ainda não estão de todo saldadas,
pois tenho sofrido bastante. Desde que cheguei ao Rio, não faço outra coisa
senão trabalhar nos piores serviços, percebendo os mais baixos salários...
Tenho passado por momentos que jamais julguei capaz de suportar.
Certa feita,
estando desempregado e sem dinheiro, caí de cama com uma febre de quarenta
graus. Fiquei inconsciente durante dois dias, e, quando comecei a melhorar, por
obra e graça de meu organismo, despertei com o choro de meus filhos. Olhei em
volta e tudo estava turvo, até que divisei o rosto de minha mulher, sentada na
cama a me fitar com lágrimas nos olhos. Aos poucos fui recobrando a
consciência, e perguntei o que se havia passado.
Respondeu-me
que eu dormia com febre havia dois dias, e então me apavorei. Como meus filhos
não parassem de chorar, perguntei a razão daquilo, e minha mulher, baixando a
cabeça, respondeu:
“É fome, Antônio...! Estão chorando de fome...!”
Uma crise de
choro me ficou entalada na garganta e eu disse baixinho para mim mesmo:
“Está certo...! Chorar de fome! E logo meus filhos...!”
Levantei-me
cambaleante e, embora minha mulher não me quisesse deixar sair, fui até à
padaria e pedi pão ao padeiro, pois meus filhos queriam comer. Eu devia estar
pavoroso, pois não esmolei, não supliquei, e o dono da padaria era homem de
maus bofes, mas olhou-me meio desconfiado e deu-me um quilo de pão. E, mais,
ofereceu-se delicadamente para que, se eu necessitasse de mais alguma coisa,
não tivesse receio de pedir... Repito: eu devia estar medonho, devia parecer o
homem mais perigoso do mundo, com meus filhos chorando de fome e eu pedindo pão
fiado... Essa foi uma das maiores humilhações que já passei na minha
vida".
Transcrito
por: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)
Enviado por: Antônio Corrêa Sobrinho
Fonte: facebook
Página: Geraldo JúniorO
Cangaço
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