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sábado, 15 de agosto de 2015

GRANDES MATÉRIAS... JORNAL "O GLOBO" DE 29/11/1958 VOLTA SECA... ENTREVISTA PÓS CANGAÇO. FOME E HUMILHAÇÃO


"Infelizmente, tenho a impressão de que as contas com Deus ainda não estão de todo saldadas, pois tenho sofrido bastante. Desde que cheguei ao Rio, não faço outra coisa senão trabalhar nos piores serviços, percebendo os mais baixos salários... Tenho passado por momentos que jamais julguei capaz de suportar. 

Certa feita, estando desempregado e sem dinheiro, caí de cama com uma febre de quarenta graus. Fiquei inconsciente durante dois dias, e, quando comecei a melhorar, por obra e graça de meu organismo, despertei com o choro de meus filhos. Olhei em volta e tudo estava turvo, até que divisei o rosto de minha mulher, sentada na cama a me fitar com lágrimas nos olhos. Aos poucos fui recobrando a consciência, e perguntei o que se havia passado.

Respondeu-me que eu dormia com febre havia dois dias, e então me apavorei. Como meus filhos não parassem de chorar, perguntei a razão daquilo, e minha mulher, baixando a cabeça, respondeu: 

“É fome, Antônio...! Estão chorando de fome...!”

Uma crise de choro me ficou entalada na garganta e eu disse baixinho para mim mesmo: 

“Está certo...! Chorar de fome! E logo meus filhos...!”

Levantei-me cambaleante e, embora minha mulher não me quisesse deixar sair, fui até à padaria e pedi pão ao padeiro, pois meus filhos queriam comer. Eu devia estar pavoroso, pois não esmolei, não supliquei, e o dono da padaria era homem de maus bofes, mas olhou-me meio desconfiado e deu-me um quilo de pão. E, mais, ofereceu-se delicadamente para que, se eu necessitasse de mais alguma coisa, não tivesse receio de pedir... Repito: eu devia estar medonho, devia parecer o homem mais perigoso do mundo, com meus filhos chorando de fome e eu pedindo pão fiado... Essa foi uma das maiores humilhações que já passei na minha vida".

Transcrito por: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

Fonte:  facebook

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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