A imagem
romântica dos cangaceiros inimigos do coronelismo é uma ideia já bastante
ultrapassada. Sabemos que os bandos de cangaceiros se aliavam aos chefes
políticos locais, sejam eles fazendeiros ou padres. O sistema coronelista era
mantido por uma cadeia de interesses e os cangaceiros tinham inúmeras vantagens
dentro de toda essa cadeia de interesses, como o recebimento de dinheiro ou
bens materiais (armas, munição, roupas, alimentos) e proteção por parte dos
coronéis aos quais os bandos se aliavam. É bem sabido que os cangaceiros se
aliavam com coronéis em relações de mútua proteção. Sem essa aliança, jamais
teriam sobrevivido. A corrupção é a mãe do crime organizado.
Foram muitos
os coronéis aliados de Lampião. O Coronel Chico Martins protegeu Lampião já em
1921. Em 1926, Lampião foi “convocado” para integrar o Batalhão Patriótico,
tendo comparecido a Juazeiro, no Ceará, para encontrar-se com o Padre Cícero. O
Batalhão Patriótico era uma força armada organizada pelo governo de Artur
Bernardes para combater a Coluna Prestes, movimento político-militar ligado ao
tenentismo de insatisfação com a República Velha, que passava pelo sertão
nordestino. O deputado Floro Bartolomeu, um dos chefes políticos (“coronel”) do
Cariri, foi responsável por intermediar as relações entre governo e Lampião,
através do Padre Cícero, muito respeitado pelo cangaceiro. O caso da convocação
de Lampião para o Batalhão Patriótico foi um exemplo claro de como os
cangaceiros eram uma peça importante do jogo de poder no sertão.
Alguns autores,
como Raul Fernandes em “A marcha de Lampião”, apontam o Coronel Isaías Arruda
como um dos responsáveis pela fracassada tentativa de invasão de Mossoró pelo
bando de Lampião, em 13 de junho de 1927.
Quando, em
1928, Lampião cruzou o Rio São Francisco, saindo de Pernambuco para a Bahia, um
dos primeiros contatos do cangaceiro foi com o coronel Petronilo de Alcântara
Reis, o Coronel Petro, chefe político de Santo Antônio da Glória, cidade hoje
submersa pelas barragens do Rio São Francisco. Vários autores contam que a
amizade de Lampião com o Coronel Petro foi desfeita por que o coronel traiu
Lampião. Os dois tinham uma sociedade em terras e animais.
Eronides de
Carvalho, representante da poderosa família Carvalho de Sergipe foi um grande
aliado de Lampião, fornecendo-lhe armas, munição e proteção. As forças
sergipanas não costumavam perseguir Lampião. Aliás, o rei do cangaço foi morto
em Sergipe por uma tropa alagoana. Eronides de Carvalho era tão influente que,
em 1935, durante o Estado Novo de Vargas, elegeu-se governador de Sergipe.
Após a
Revolução de 30, a perseguição ao cangaço se intensificou. As elites dominantes
no país mudaram. O fim da “política dos governadores” foi uma consequência
disso. Estava sendo dada uma nova guinada na política nacional. Com o golpe e a
instauração de interventores nos estados nomeados pelo governo federal, a busca
de um Estado forte e eficaz no combate ao banditismo e ao domínio local por
coronéis, ficou evidente o deslocamento de elites no poder. Os cangaceiros não
interessavam mais ao sistema. Sem apoio político, deixaram de receber armas e
munição. A morte de Lampião foi um golpe fatal no cangaço.
Fonte: facebook
Página: Francisco Mallet
Rodrigues
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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