Material do acervo do historiógrafo Tostand Medeiros
Na trilha do
cangaço – o sertão que Lampião pisou. Capa. Reprodução
Na trilha do
cangaço – o sertão que Lampião pisou [Vento Leste, 2016, 104 p.] é um
encontro único: as elegâncias das fotografias de Márcio Vasconcelos e do
texto de Frederico Pernambucano de Mello, a exuberância das paisagens, a
grandeza dos personagens e o imenso legado cultural deixado pelo bando liderado
por Virgulino Ferreira da Silva.
Casa de dona
Jocosa. Na trilha do cangaço – o sertão que Lampião pisou. Márcio Vasconcelos.
Reprodução
O maranhense Márcio
Vasconcelos embrenha-se na geografia sui generis do Nordeste para refazer os
caminhos percorridos por Lampião e seus cangaceiros, da invenção do bando à
execução de seu líder, em 1938, na Grota do Angico, em Poço Redondo/SE, ao lado
de Maria Bonita e outros nove homens.
Apenas duas
fotos não são de sua autoria, espécie de tributo ao fotógrafo Benjamim Abraão,
que retratou o bando de Lampião em vida, saga contada por Paulo Caldas e Lírio
Ferreira em Baile perfumado [1996], com imagens do acervo do fotógrafo
sírio-libanês e trilha sonora puxada pela turma do manguebit.
Um dos
habitantes atuais dos lugares por onde Lampião passou há quase um século. Na
trilha do cangaço – o sertão que Lampião pisou. Márcio Vasconcelos. Reprodução
A trilha por
que o fotógrafo nos conduz ao longo das páginas do livro, finalista do prêmio
Conrado Wessel de Fotografia 2011 e vencedor do XI Prêmio Funarte Marc Ferrez
de Fotografia, passa por cinco estados e entre os personagens que ele encontra
estão Dona Minó (1923-) – filha de Zé Saturnino, tido como o inimigo número um
de Lampião –, Elias Matos Alencar (1914-2013) – membro da volante do Tenente
João Bezerra, responsável pela execução de Lampião e seu bando –, e Manuel
Dantas Loiola, vulgo Candeeiro (1916-2013), cangaceiro do bando de Lampião,
além de atuais habitantes dos lugares.
A devoção a
Padre Cícero. Na trilha do cangaço – o sertão que Lampião pisou. Márcio
Vasconcelos. Reprodução
As paisagens
remontam à rima involuntária beleza/pobreza, com vantagem para a primeira,
eterna sina de grande parte do Nordeste e sua população. É particularmente comovente
uma sequência de fotos em que uma mulher comum chora a morte de um jumento,
abraçando-o como a um ente querido. A devoção (sobretudo a Padre Cícero, mas
não só) também é elemento importante ao olhar de Márcio Vasconcelos.
A grota do
Angico, onde Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros foram executados
em 1938. Na trilha do cangaço – o sertão que Lampião pisou. Márcio Vasconcelos.
Reprodução
O trunfo do
encontro entre palavras e imagens está justamente em umas não quererem explicar
as outras: enquanto o fotógrafo percorre hoje caminhos pisados por Lampião há
quase um século, Frederico Pernambucano de Mello, historiador, membro da
Academia Pernambucana de Letras, reivindica ao ícone do cangaço o status de
artista: “pelo orgulho, pela sobranceria, pela vaidade, pelo desassombro da
imagem ostensiva, pela força de formação de uma subcultura à base de derivações
nada desprezíveis na música, na poesia, na dança, na culinária, no artesanato,
na medicina, nos costumes, na moral, na religiosidade, na arte militar
intuitiva e mesmo na arte de expressão plástica, a partir da herança pastoril,
o cangaço sumaria, aos olhos do brasileiro de hoje, a franja de todas as
insurgências, sua saga confundindo-se com a própria ideia de resistência contra
poderosos”, anota.
Os textos
deste maravilhoso trabalho foram do amigo Frederico Pernambucano de Mello.
Outra grandeza
que merece destaque é não quererem tirar conclusões. Muito já foi dito sobre o
cangaço e particularmente Lampião é fartamente biografado. “Os cangaceiros não
foram heróis nem bandidos. Foram homens que disseram não à situação”, anota
Vasconcelos na legenda da foto da Grota do Angico.
FONTE – https://zemaribeiro.wordpress.com/2016/04/27/a-poetica-geografia-do-cangaco/
Extraído do blog do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
https://tokdehistoria.com.br/2016/05/10/a-poetica-geografia-do-cangaco/
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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