No natal de 1871, convidado pelo
professor Simeão Correia de Macedo, o padre Cícero visitou pela primeira vez o
povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de Juazeiro, então
pertencente à cidade do Crato), e ali celebrou a tradicional missa
do galo.
O padre
visitante, então aos 28 anos, estatura baixa, pele branca, cabelos louros,
penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E
a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no
dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar
residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros
afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho
(ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia
exaustivo, após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial, ele
procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde
improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu
destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus
Cristo e os doze
apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a última Ceia, de Leonardo
da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando
seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos.
Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade,
mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o
mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo
de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente
ordenou: - E você, Padre Cícero, tome conta deles!
LIGAÇÃO COM O
CANGAÇO
Floro Bartolomeu e Padre Cícero
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião,
era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se
encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926. Naquele ano, a Coluna
Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do
Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões
Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros.
Existem duas
versões para o encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o
sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de
Juazeiro, recebendo em troca, anistia de seus crimes e a patente de Capitão.[9] Na
outra versão, defendida por Lira Neto e
Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que
padre Cícero soubesse.
O certo é que
ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam,
ouviram padre Cícero aconselhá-los a abandonar o cangaço. Como Lampião exigia
receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único
funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que
Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus
crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna
Prestes.
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