Por Sálvio Siqueira
No amanhecer
do dia 28 de julho de 1938, uma quinta-feira, Maria Bonita deixa a tolda e
segue, descendo rumo ao poço do tamanduá localizado no leito do riacho Angico,
próximo ao acampamento, distando, mais ou menos, entre 80 e 100 metros. Com
ela, ou mesmo na sua frente, segue um cangaceiro chamado Amoroso.
Noite
da quarta-feira, 27 de julho de 2916, capturada durante a "I Expedição Angico". 78 anos depois da última noite do "rei e rainha dos
cangaceiros" estarem no mesmo local.
A tropa foi
dividida no Alto das Perdidas pelo comandante João Bezerra, o Aspirante
Ferreira de Melo, segue com sua volante, no sentido nordeste daquela posição.
Chegando à margem esquerda do riacho, desce a barreira e segue com parte dos
homens. O cabo Bertoldo, que fazia parte da sua coluna, permanece na margem,
sobre a barreira, com o restante dos volantes. O Aspirante e o Cabo seguem
agora rumo ao sul, sempre subindo. Ferreira de Melo, às vezes no leito seco do
riacho, às vezes na margem direita, sempre no sentido contrário o caminho das
águas, que no tempo das cheias, serve de calha natural rumo ao “Velho Chico”, e
seu imediato fazendo o mesmo sentido, só que sobre a barreira esquerda.
Fogueira
e a chaleira do café, na noite da quarta-feira, 27 de julho de 2016, no
acampamento na grota do angico, "I expedição angico". 78 anos
depois.
O cangaceiro
Amoroso, está muito próximo da coluna, tinha ido buscar água no poço do
Tamanduá, d’uma moita, de repente, escuta um estampido de uma arma de fogo, tão
perto que quase estoura seus ouvidos. O tiro fora disparado pelo soldado Abidon
Cosme dos Santos, e o mais incrível é que ele erra o alvo.
Eu,
o Riacho e o corpo de Maria Bonita aos meus pés, decapitado e sangrando.
Maria, muito
próxima do cangaceiro e do poço, escuta o disparo e em seguida, sente uma dor
dilacerante na altura da barriga... Cai, ergue-se, dá meia volta e tenta correr
no sentido da tolda onde estaria a salvação, onde estava seu amado, seu
protetor, o “Capitão Lampião”. Nisso recebe o impacto de mais um projétil em
suas costas. Cai novamente, mas não morta, a “Rainha do Cangaço”, agoniza, mas
está viva. O tiroteio toma conta do acampamento...
Aurora
do dia 28 de julho de 2016, exatamente 78 anos depois do ataque ao acampamento
dos cangaceiros, na Grota do Riacho Angico.
Há duas
versões sobre como Maria Gomes de Oliveira, Maria de Déa, a Maria Bonita teria
sido morta e decapitada. Dois volantes da coluna do Aspirante Ferreira de Melo,
tomam para si, cada qual com sua versão, a responsabilidade da morte da “Rainha
do Cangaço”.
Grota do Riacho Angico
São eles,
Antônio Honorato e José Panta de Godoy. Honorato, além de dizer que matou
Maria, ainda afirma ter sido ele a ter matado Lampião. Panta Godoy relata ter
atirado duas vezes em Maria. Uma vez quando ela vinha de frente, e ele estava
por detrás de uma pedra, atingindo-a na altura do abdômen, e a outra quando a
mesma se levanta e tenta correr na direção onde estava Lampião, e ele a acerta
nas costas. Relatos nos dizem que Maria, segundo o próprio soldado Godoy, mesmo
com duas balas de fuzil no corpo, ainda estava viva quando o mesmo se aproximou
dela estirada no chão. Ainda disse o militar que ela pediu pela vida, mas, ele
saca do facão e decepa sua cabeça, cortando seu pescoço. Também há citações por
alguns autores de que o corpo da “Rainha do Cangaço” fora profanado mais ainda,
pois fora colocado um pedaço de pau em sua vagina.
Grota do Riacho Angico. Sentido Sul,
contrário ao sentindo das águas.
O aspirante
Ferreira de Melo, em entrevista ao jornal Gazeta de Alagoas, edição do dia 14
de dezembro de 1965, disse:
“-... Maria
Bonita, com o fato todo de fora, pronunciava palavras incompreensíveis, arrancadas
com esforço de moribundo.”
Quando,
naquele local estou, sinto uma energia negativa muito forte e, acredito, que
todos que sabem o que ali ocorreu e visitam-no, também a sentem.
Em uma das
minhas visitas a grota do riacho Angico, estando, dessa vez, acompanhado pelos
amigos, estudiosos do tema, Edinaldo Leite e Gilmar Leite, estávamos
estudando o terreno do ataque, onde, provavelmente ocorreram as mortes e
decapitações, quando, ao chegar junto a uma pedra, um deles fez uma captura
fotográfica sem que percebesse.
Mais tarde,
Edinaldo Leite, faz daquela imagem, uma que retrata o que imaginava ter
ocorrido, naquela manhã, e em determinado momento. Imaginava o sangue dos
corpos seguindo, ou tentando seguir, o caminho que as águas do riacho fizeram
por tantos e tantos anos.
Foto Edinaldo
Leite
Gilmar Leite
Sálvio Siqueira
Gilmar Leite
Sálvio Siqueira
PS// A FOTO NA GROTA, COM O CORPO DE MARIA GOMES DE OLIVEIRA, A MARIA BONITA, É UMA MONTAGEM E COLORIZAÇÃO, DIGITAL, DO NOSSO AMIGO Edinaldo Leite.
Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/permalink/751019958395456/
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