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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

OS "CALIFONS" FORAM QUEIMADOS


(“Como vingança da morte de Lampião, Corisco incendiou até carros” - Revista Fatos&Fotos)

Naquele tempo, muito das peças do vestuário feminino não existia, principalmente para camponeses criadas ao vento, livres por entre as serras, baixios e tabuleiros do sertão nordestino. E quando existiam, ou só chegavam, eram só para pessoas de um elevado posicionamento social que as usavam e, quando usavam.


Os grupos de cangaceiros sempre procuravam passar despercebidos de todos em suas andanças fugitivas. Certa feita, um grupo margeava uma das margens do “Velho Chico”, procurando não serem vistos por quem nas águas navegavam ou por quem nas estradas, que tinha, por ventura aparecesse, quando de repente escutam um baralho desconhecido e vindo em direção deles. Estavam quase na beira de uma estrada. Rapidamente todos colocam balas nas agulhas das armas e ficam prontos para o que der e vier.


Esse grupo de cangaceiros era chefiado pelo cangaceiro “Moderno”, Virgínio Fortunato, ex cunhado de Lampião e companheiro da cangaceira Durvinha. Moderno distribui seus homens e monta uma ‘arapuca’. O barulho vinha dos motores de dois automóveis que serpenteavam acompanhando a estrada, em uma velocidade mínima, pelos próprios automóveis e pelas estradas. Então, ao estarem bem perto dos cabras de Moderno, estes, tendo colocado algumas pedras maiores no caminho, saltam de repente na frente dos dois veículos. Ao pararem, bruscamente os automóveis, os motoristas dão no pé antes que fossem agarrados pelos cangaceiros, deixando-os para seja lá quem fossem.


Os cangaceiros se aproximaram com cautela e fizeram uma vistoria detalhada nos carros. Após verem que não havia viva alma dentro deles, resolveram ver o que traziam aquelas gerigonças. No seu interior havia caixas. Estas foram retiradas e abertas de todo jeito. Dentro dos caixotes tinha vários pacotes com umas peças que eles não sabiam o que era. A companheira do chefe se achegou e pegou algumas peças. Depois de examiná-las detalhadamente, tentou colocar as mesma, vesti-las, em partes do seu corpo, menos no lugar correto.


“(...) Durvalina pegou algumas peças e tentou colocar na cabeça, na expectativa de ser algum tipo de chapéu. Muitas formas de utilização dos sutiãs foram tentadas e descartadas (...).” (“Moreno & Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço” – LIMA, João de Sousa. 1ª Edição. 2007)

Na verdade, nunca que uma cabocla do sertão, filha de catingueiros, saberia o que era aquela peça. Se suas mães as tivessem, usassem, elas as guardavam a sete chaves para que não vissem. Essa era a regra.


O que os cangaceiros queriam era algo de valor, para eles claro, dinheiro, joias, armas, balas e etc., o que não fora encontrado. Zangados por terem perdido o ‘bote’, fizeram uma coivara em cima de cada automóvel e tocaram fogo. O fogo se alastra com muita velocidade devido as partes de madeira e encerados que tinha nas carcaças dos carros daquela época. Rapidamente só restaram dois punhados de ferro, retorcidos pelo calor das chamas do fogaréu.

O pesquisador/historiador, João De Sousa Lima, após grande pesquisa, veio trazer-nos o que realmente aconteceu quando do tempo em que existia o Fenômeno Social Cangaço. A revista Fatos e Fotos e sua matéria de 8 de dezembro de 1962, nº 97, refere na manchete:

“Como vingança da morte de Lampião, Corisco incendiou até carros”.

Para chamar atenção dos leitores, ela ainda publica fotos onde se via os carros, ou o que restou deles, rodeados por policiais.

A companheira do chefe de subgrupo, Durvalina Gomes de Sá, a já ex cangaceira Durvinha, muitos anos depois, ao lado do ex cangaceiro Moreno em território das Minas Gerais, relata ao pesquisador citado na matéria de que fora, realmente Virgínio Fortunato e seus homens quem tocaram fogo nos veículos. E vejam só, Virgínio fora morto em 1936, já o “Rei dos Cangaceiros”, em meados do ano de 1938. Corisco nada tem a ver com essa história, apesar da revista ter feito à reportagem.

Fonte “Moreno & Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço” – LIMA, João de Sousa. 1ª Edição. 2007
Foto Acervo João De Sousa Lima
Benjamin Abrahão
Fatos&Fotos

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