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terça-feira, 21 de março de 2017

O QUINZE, PRIMEIRA OBRA DE RAQUEL DE QUEIROZ, ADAPTADA PARA O CORDEL por Stélio Torquato Lima

Prof. Stelio Torquato Lima tendo nos braços o lindo filho Davi

O Quinze, primeira obra de Raquel de Queiroz, adaptada para o cordel por Stélio Torquato Lima, com ilustração de capa de Cayman Moreira e publicado pela Cordelaria Flor da Serra, compõe a coleção Obras Primas em Cordel. Essa adaptação para a poesia popular, é composta por 170 estrofes de 07 versos setesilábicos e, juntamente com os demais títulos da coleção, terá seu lançamento no dia 21 de abril, às 16 horas na Praça do Cordel, espaço da literatura popular na Bienal Internacional do Livro do Ceará, que ocorrerá em Fortaleza, de 14 a 23 de abril.

Publicado em 1930, O Quinze foi o romance de estreia da Rachel de Queiroz, e inaugura a segunda fase do Modernismo no Brasil. O título se refere à grande seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. Entre as versões da obra para outras linguagens, cabe citar: o filme brasileiro de 2004, dirigido por Jurandir de Oliveira e com os atores Karina Barum e Juan Alba nos papeis de Conceição e Vicente; a História em Quadrinhos ilustrada pelo artista plástico paraibano Shiko e publicada em 2012 pela editora Ática; O cordel publicado em 2010 por Paulo de Tarso, o poeta de Tauá, obra selecionada no Prêmio Mais Cultura Patativa do Assaré, do Ministério da Cultura (Minc).
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, em 1910, e faleceu no Rio de Janeiro, em 2003. Teve ação diversificada no mundo das letras, atuando como tradutora, romancista, jornalista, cronista e dramaturga. Em 1928, começou a se interessar pela política social, ingressando no que restava do Bloco Operário Camponês em Fortaleza, formando o primeiro núcleo do Partido Comunista Brasileiro. Essa ação política fez com que, em 1937, fosse presa em Fortaleza, acusada de ser comunista, sendo queimados exemplares de seus romances. 
Em 1977, tornou-se a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Em 1993, foi a primeira mulher galardoada com o Prêmio Camões, instituído pelos governos do Brasil e de Portugal. Entre as obras que escreveu, destacam-se: a) Romances: O Quinze (1930), João Miguel (1932), Caminho de Pedras (1937), As Três Marias (1939), O Galo de Ouro (1950), Dôra, Doralina (1975) e Memorial de Maria Moura (1992); b) Crônicas: A Donzela e a Moura Torta (1948), O Brasileiro Perplexo (1964) e O Caçador de Tatu (1967); c) Teatro: Lampião (1953) e A Beata Maria do Egito (1958); d) Literatura Infanto-Juvenil: O Menino Mágico (1969) e Cafute e Pena-de-Prata (1986).

A seguir, deguste os versos inicias do cordel de Stélio Torquato e, para ler a obra completa, faça seu pedido pelo Email cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 9 99569091 e não deixe de comparecer na Bienal para ter acesso a esse e outros títulos publicados pela Cordelaria Flor da Serra.

O céu sonegava a água
Ao solo seco e rachado.
A vegetação perdia
O seu manto esverdeado.
Com desespero, o vaqueiro
Via que seu gado inteiro
Estava já condenado.

Mil novecentos e quinze,
Que tinha há pouco nascido,
Não vira ainda uma gota
Sobre o solo ressequido.
E clamava o sertanejo
Pelo inverno benfazejo,
Num desespero contido.

Quando a barra do natal
Negou-se a vir ao sertão,
Qual náufrago que se agarra
À tábua de salvação,
O sertanejo de fé
O dia de São José
Esperava com aflição. 

Vendo a mata ressecando
E o sofrimento das reses,
Dona Inácia se benzeu
E beijou por duas vezes
A medalhinha do santo
A quem apelara tanto
Naqueles sofridos meses:

“Dignai-vos, São José,
Ouvir o que suplicamos.
Casto esposo de Maria,
Alcançai o que rogamos.
Trazei a chuva pra terra,
Vencendo a seca que aterra,
Fazendo brotarem os ramos.”

E depois que Dona Inácia
Concluiu a oração,
Falou para a boa idosa
Sua neta Conceição:
“Nada de chuva... Faz pena!
Mesmo com tanta novena,
Perdura o mesmo verão...”

Sem se mostrar abalada
Ante as palavras que ouvia,
Dona Inácia reforçou
Que ela permanecia
Depositando sua fé 
No adorado São José,
Casto esposo de Maria:

“Mesmo sem uma só nuvem
Neste imenso céu de anil,
São José pode mudar
Este quadro tão hostil.
Saiba você que eu já vi
Inverno chegar aqui
Lá pelo meio de abril.”

Sem nada dizer, a jovem
Sentou-se para cear.
Após a ceia, sua avó
Foi para o quarto fumar. 
Então Ceiça disse à toa:
“Lua limpa, sem lagoa...
Chove não!... É só penar...”

Apanhando o lampião,
Pro quarto a jovem seguiu.
O sono veio até ela,
Mas, de repente, fugiu.
A se entregar à leitura,
A jovem, àquela altura,
Prontamente decidiu.

Entre os cem livros que tinha,
Um romance ela apanhou.
Por um volume de versos,
A obra logo trocou.
Seguindo nessa manobra,
Com trechos de cada obra,
Ela então se emocionou.

Um livro herdado do avô
Pegou depois Conceição.
O assunto da tal obra
Vinha a ser religião. 
Porém mal o livro abriu,
Dona Inácia lhe pediu 
Que apagasse o lampião.

Obedecendo à avó,
A moça apagou a luz.
Lá fora, o vento corria
Por entre os mandacarus.
Naquele instante, um cabrito,
Morria, num berro aflito,
Alegrando os urubus.



Contato com a editora: (085) 98584 0221 # 999569091

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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