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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

PEREIRO, MESTRE NA RECUPERAÇÃO DE SOLOS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO: APRENDIZAGENS DE UMA EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA. PEREIRO, MESTRE NA RECUPERAÇÃO DE SOLOS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO: APRENDIZAGENS DE UMA EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA

Por Aldrin M. Perez-Marin e Simone Benevides
Planta de Pereiro formando uma saia para reter o solo

Quando sabemos ler a Caatinga, podemos extrair muitos ensinamentos da sua relação com a natureza. Dentre as muitas árvores nativas do bioma, destacamos as lições aprendidas com o Pereiro (Aspidosperma pyrifolium), planta nativa da Caatinga, sobre recuperação de solos. Essa planta do Semiárido geralmente é encontrada de forma solitária ou em agrupamentos, formando ilhas de recuperação de solo nas paisagens da região.

Em Expedição Cientifica realizada pelo grupo de Desertificação e Agroecologia do Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTIC) ao Núcleo de Desertificação dos Cariris da Paraíba, realizada em maio de 2016, fomos capazes de ler e observar três estratégias de recuperação dos solos adotadas por essa planta.

A primeira evidenciada foi a formação de uma saia ou gota achatada nos seus primeiros anos de vida, como mecanismos para reter o solo que, em um determinado momento, foi exposto ao Sol, a água, ao vento e às ações do ser humano que semeiam os processos de desertificação. É possível perceber que o Pereiro abraça o solo, funcionando como um chapéu que o protege da incidência solar e da força da água da chuva. 

Como segunda estratégia, percebemos que com o tempo o solo em lugar de fugir, acumula-se no entorno da saia, melhorando a sua capacidade de reter água e nutrientes, criando um microclima adequado para seu desenvolvimento e de outras plantas. Na foto, podemos apreciar uma planta adulta de Pereiro, após ter recuperado a pujança do solo em seu entorno.

Planta de Pereiro adulta após ter formado solo ao seu redor.

Por fim, a terceira estratégia que observamos é que após ter retido solo suficiente, o Pereiro forma agrupamentos ou ilhas de fertilidade. A partir daí, outras plantas amigas se aproximam, para juntas intensificar o processo de cicatrização do solo ferido pela desertificação. As suas flores perfumadas surgem nas primeiras chuvas e seus frutos formando um coração, liberam as suas sementes aladas, numa terra com o coração erosionado. 

O Pereiro formando ilhas de fertilidade.

Dicas para uma pesquisa contextualizada:

- Quanto solo e nutriente essa planta é capaz de reter em um ano?

- Que alterações biológicas ocorrem em redor das ilhas de fertilidade que promovem a vida do solo?
- Do ponto de vista de recuperação do solo, quais experiências ou vivencias com o Pereiro, as comunidades têm fortalecido?

- Como podemos modelar e extrapolar as estratégias de recuperação de solo desenvolvidas pelo Pereiro, nas áreas desertificadas?

Texto e Foto: Aldrin M. Perez-Marin e Simone Benevides (Grupo de Pesquisa em Desertificação e Agroecologia/Insa)
Popularizando Ciência, Tecnologia e Inovação no Semiárido brasileiro

COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

Quando fiz meu mestrado em Botânica, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em 1978, Dr. Dárdano de Andrade Lima, meu saudoso mestre nesses assuntos, já falava nessa característica do Pereiro, na conservação dos solos, auxiliada por essa saia desenvolvida pelo vegetal, e tão bem descrita por ele àquela época. Faço esse necessário registro, em homenagem àquele que reputo como sendo um dos maiores especialistas da Botânica brasileira e, em especial, da nordestina! Saudades do meu velho professor!


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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