Por Adauto Silva
Hoje, 29 de
outubro, dia nacional do livro, e na oportunidade indico o livro "LAMPIÃO
EM 1926", onde o escritor Luiz
Ruben F. A. Bonfim, trás o histórico depoimento do homem que escreveu a
patente do "Rei" do cangaço... Acompanhem !
JORNAL A
TARDE, DE 21 DE SETEMBRO DE 1933
O FUNCIONÁRIO QUE ASSINOU A PATENTE DE LAMPEÃO REVIVE A CENA PARA “A TARDE” – “LAVRARIA ATÉ A DEMISSÃO DO PRESIDENTE”
O tribunal
eleitoral, por ser um lugar de trabalho, oferece sempre novidades para atrair a
reportagem. E, ontem, quando o repórter lá chegou, farejando alguma nova, os
funcionários faziam a “vaca” para o café. A coleta era feita por uma funcionária.
E, assim, mesmo os mais “casquinhas”, não podiam furtar o seu concurso para a
verba extra...
O café, porém, além do seu sabor, é pretexto para um minuto de folga e de prosa, justo descanso, entre horas de trabalho.
E como conversa puxa conversa, fomos até as proezas de Lampeão, quando um dos presentes lembrou:
- Olhe, o Uchoa foi quem lavrou a patente de capitão de Lampeão.
- O Uchoa?
- Sim. Quero ver pergunte-lhe?
E o repórter, como se nada quisesse, indagou ao Sr. Pedro de Albuquerque Uchoa, funcionário da secretaria do Tribunal, se era verdade ter sido ele o escrivão da patente do célebre bandido.
- Fui eu mesmo quando estava no Juazeiro, no Ceará.
- Mas isso deve ser interessante...
Magnífico assunto para uma reportagem.
O funcionário não se fez de rogado e contou:
- Imagine o senhor que eu era Ajudante de Inspetor Agrícola, no Juazeiro, e muito amigo do padre Cícero, que todo dia ia, ao meio dia, dar um cochilo em nossa casa, cujo terreiro ficava repleto de retirantes e romeiros à espera da benção do velho padre. Assim se passavam as coisas, quando um belo dia, uma noite, aliás, eis que batem à minha porta. Abro. Eram dois jagunços, armas a tiracolo, encourados, cheios de medalhas, que me intimaram: -“Meu padrinho está chamando o senhor com urgência”. Vesti-me e encaminhei-me para a casa do padre Cícero.
Lá chegando o padre me informou:
- Aqui está o capitão Virgolino Ferreira. Ele não é mais bandido. Veio com cinquenta e dois homens para combater os revoltosos e vai ser promovido a capitão. Fiquei perplexo, informa-nos o Sr. Uchoa.
- E então?
- Não sabia que tinha eu com o caso, quando o padre me ordenou:
- Olhe o Sr. Vai lavrar a patente de capitão do Sr Virgolino Ferreira e de tenente do seu irmão.
- Mas eu não posso, informei.
Nesse momento, o irmão de Lampeão interveio:
- Não. Se meu padrinho está mandando é que o senhor pode.
E padre Cícero, dirigindo-se para o nosso entrevistado, acrescentou:
- O senhor é a mais alta autoridade federal daqui e por isso é a pessoa competente para lavrar a patente. Pode escrever o que vou ditar. E ditou os termos em que, pelo governo federal era concedida a Virgolino Ferreira a patente de capitão do exército por serviços prestados à República! No fim ordenou: - agora assine.
Relutei um pouco, diz-nos o Sr. Pedro Uchoa, mas a situação não era de brinquedo e assinei a patente. Lampeão passava a ser capitão do exército! (N.A.: capitão do Batalhão Patriótico do Juazeiro).
O padre Cícero entregou-lhe, então, o documento. E o bandido, ajoelhado, beijou a batina do padre Cícero, comprometendo-se a proceder bem. Em seguida, recebeu armas e munições. Feito isso, ainda noite, retirou-se com os seus homens. Era o novo capitão do exército em perseguição aos revoltosos.
Aí está a história da patente de Lampeão...
E o Sr. Uchoa, passando a mão pelos cabelos pretos, concluiu:
- Depois o ministro da Agricultura perguntou-me porque eu fizera isso e eu respondi: - Naquele momento, eu lavraria até a demissão do Presidente da República.
PS: Esses e
outros episódios interessantíssimos, você encontra no mais recente trabalho do
escritor Luiz Ruben, “ LAMPIÃO NO ANO DE 1926”
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