Por Sálvio
Siqueira
Forte
de São Tiago das Cinco Pontas
Torna-se
necessário, para aqueles que querem estudar o Fenômeno Social Cangaço, sair da
história do seu último grande chefe cangaceiro, e ‘nadar nas águas' daqueles
que o antecederam.
Há uma ruma de
chefes cangaceiros anteriores a Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, desde
os idos de 1756, mais ou menos, até 1920, mais ou menos, quando dar-se início a
sua saga, quando o Cabeleira, citado como sendo o primeiro cangaceiro que
surgiu, deixava a zona da mata e a área metropolitana do Recife, Capital de Pernambuco,
aterrorizada. Só tendo fim quando ele, seu pai e mais alguns cabras são presos
e condenados à morte, por enforcamento, no Forte São Tiago das Cinco Pontas,
naquela metrópole.
Diferente do
que muitos pensam, o Fenômeno Social, Cangaço, migra do litoral para o interior
do Estado, devido à colonização, até certo ponto forçada pelos grandes
produtores de cana-de-açúcar, para criação de animais, principalmente bovinos.
Esse Fenômeno, que nasce pela consequência de outro, o “coronelismo”, não fora
gerado, criado, nascido na caatinga sertaneja.
As glebas,
faixas territoriais ou faixas, pedaços de terra, são demarcadas pela autoridade
religiosa e, a partir daí, tem-se início ao povoamento, se assim podemos dizer,
do sertão.
São doadas aos Patriarcas das famílias ligadas a coroa. Mesmo entre elas, coisa que também migra da Europa para a América do Sul, são as rixas e intrigadas lá afloradas e, por aqui, continuadas.
A colonização do sertão nordestino é penoso, lento e regado a lágrimas e sangue daqueles que se aventuraram a fazê-la. A maior parte dessas intrigas é entre duas, ou mais, famílias. Onde os clãs, por algum motivo, deixam surgir à causa, a circunstância, o motivo para acontecerem. Sem procurarem a razão, propriamente dita, deixam-se levar pela emoção, honra e vaidade gerada pela ganância ao poder latifundiário, político e econômico, ao enriquecimento a qualquer custo. Ao longo do tempo, as coisas não mudaram naquelas quebradas da região semiárida sertaneja.
Em determinada
data, dois clãs se digladiam com sucessivas mortes de ambos os lados. As
famílias Carvalho e Pereira, frutos que a história relata como ‘cepa’ da mesma
rama, entram em uma feroz e longa guerra particular, deixando o Pajeú das
Flores sem o perfumes das rosas. Chegando a tingirem as águas temporárias do
famoso rio Pajeú de vermelho.
Manuel Pereira da Silva Jacobina e sua esposa, dona Francisca Pereira da Silva.
"Padre Pereira' e 'Chiquinha Pereira', respectivamente.
Mais ou menos
em 1907, componentes da família Carvalho, assassinam um da família Pereira,
Manuel Pereira da Silva Jacobina, conhecido por ‘Padre Pereira’, esposo de dona
Francisca Pereira da Silva. Algum tempo depois, um dos Pereira, Manuel Pereira
da Silva, conhecido como Né Dadú, parte para ‘lavar’ a honra com sangue e mata
dois da família Carvalho, Joaquim Nogueira e Eustáquio Carvalho.
Sebastião Pereira da Silva, nas Minas Gerais, na década de 1970.
Os Carvalho,
dando sequência a já antiga intriga, em 1916, matam Né Dadú. Um irmão dele,
Sebastião Pereira da Silva, apronta-se para entrar na senda da guerra, com o
intuito de vingar a morte do irmão. Nisso, a viúva, dona Chiquinha Pereira,
Francisca Pereira da Silva, manda seu filho, Luiz Pereira da Silva Jacobina,
conhecido pela alcunha de Luiz Padre, acompanhar o primo na vereda sangrenta.
Em
pé, Luiz Pereira da Silva Jacobina, o cangaceiro Luiz Padre. Sentado, Sebastião Pereira da Silva, o chefe cangaceiro Sinhô Pereira.
Sebastião
Pereira da Silva, sabedor do potencial armado e político dos Carvalho, resolve
então fazer diferente. Segue em direção ao poente, vai ao Estado vizinho do
Ceará e forma um pequeno grupo de cabras dispostos e profissionais no manejo da
espingarda. Após escolher os ‘cabras’ a dedo, juntamente com seu primo, Luiz
Padre, Sebastião Pereira da Silva, conhecido por Sinhô Pereira, retorna as
terras do Vale do Pajeú, sedento de sangue, e agora como chefe de um bando de
cangaceiros.
Em sua trilha,
disposta do cariri cearense em direção ao Pajeú pernambucano, o jovem chefe
queria varrer da face da terra todo e qualquer Carvalho. Não só as pessoas
penariam, mas seu patrimônio seria devastado para pagarem o sangue que tinham
derramado de seus familiares. Fazendas são queimadas, assim como suas casas
e/ou cercados, depois de terem seus animais mortos a tiros. Seu primeiro grande
desafeto foi no monte de casebres chamado São Francisco, que na época podia-se
comparar a um Povoado. Sua meta, nessa localidade seria o comerciante Antônio
da Umburana. Não estando no momento do embate Antônio da Umburana, o bando
saqueia seu comércio. Mas, dias depois, em outra povoação, Sinhô Pereira o mata
em um duelo.
O Barão do Pajeú
A razão,
muitas vezes foge da mente do homem, quando esse se vê cego pela vingança. E
isso é o que estava ocorrendo com a mente do jovem chefe cangaceiro, Sinhô
Pereira. Ele, com sua turba, por onde passavam, deixavam danos de todas as
formas imagináveis. Parecia um rolo compressor.
Diante desses
acontecimentos, muitos da família adversária, deixaram suas moradias em busca
de refúgio. Então, é solicitado a Força Pública do Estado pernambucano seus
serviços contra aquele bando de proscritos. Porém, Sinhô Pereira previra essa
represália das autoridades. E aí, começa uma caçada constante de um lado... Do
outro, uma fuga permanente, sem direito a descanso.
A família
adversária, os Carvalho, não deu moleza ao bando de cangaceiros não. Além de
empunhar armas e combate-los, na época, mandava politicamente em todo aquele
vale, mais precisamente nos municípios de Belmonte e Vila Bela. Tinha como
aliado o Estado, a Força Pública. Enquanto que seus rivais só contavam com a
coragem, a destreza e a força de Sinhô Pereira...
Após deixar o
cangaço e viver sua vida em terras goianas e depois nas das Minas Gerais, o ex
chefe cangaceiro declara, quando de seu retorno a terra natal, quando inquirido
se ele fora o mais valente dentre os do seu clã, respondeu “Bastião”:
“- Havia
homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para matar. Na hora
de morrer até fugiam do campo de luta, naquelas circunstâncias matar ou morrer
para mim seria a mesma coisa. Daí a diferença.” (“O Patriarca: Crispim Pereira
de Araújo “Ioiô Maroto””- NEVES, Vinício Feitosa. Cajazeiras, PB. 2016)
As façanhas
desse jovem chefe cangaceiro, contava com mais ou menos vinte anos de idade,
quando da sua entrada para o cangaço, contaremos em outras matérias daqui...
Das terras do Pajeú das Flores.
Fonte Ob. Ct.
Foto www.google.com.br
cangaceiroscariri.com
Antônio Amaury
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