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terça-feira, 1 de março de 2022

AS AMANTES DO CANGAÇO

Por Yuno Silva - Repórter

A primeira é Adília que era companheira de Canário - sergipana Ilda Ribeiro da Silva (A direita na foto) entrou para a história como a cangaceira Sila.

A imagem de Maria Bonita combatendo de igual para igual ao lado de Lampião pode não passar de ficção. Coisa de cinema. “Nos filmes vemos as mulheres do cangaço pegando em armas e guerreando, quando, na realidade, desempenhavam o papel de amantes. Eram a elite do bando: ficavam nos acampamentos e não tinham que se preocupar em fazer a comida ou lavar roupa. Passavam o tempo bordando a estética do cangaço”, defende Geraldo Maia do Nascimento, economista de formação, escritor e pesquisador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço sediada em Mossoró.

A tese de Geraldo, exposta no livro “Amantes Guerreiras” (Sebo Vermelho Edições, R$ 30), busca embasamento em relatos reais de ex-cangaceiras, depoimentos somados a muita pesquisa e testemunhos de parentes e pessoas que viveram o período.

“Estou envolvido nesses estudos há mais de 15 anos, gravando entrevistas, consultando outros livros e cruzando informações. Conversei com a ex-cangaceira Sila (1919-2005), quando ela esteve aqui em Mossoró. Ela foi esposa de Zé Sereno, era confidente de Maria Bonita, e confirmou tudo o que está no livro”, garante o pesquisador, que também coletou depoimentos de senhoras, com idade entre 98 e 105 anos, em Paulo Afonso (BA).

“Amantes Guerreiras” será um dos três lançamentos que o Sebo Vermelho promove durante a programação do Festival Literário da Pipa – Flipipa, que acontece entre 6 e 8 de agosto na famosa praia do litoral Sul.

Os outros dois títulos são o inédito “A Ressuscitada”, de Francisco Galvão, que trata da presença holandesa no litoral sul do RN e das atividades da família Albuquerque Maranhão em Canguaretama; e uma reedição de “Memória Viva de Chico Antônio”, do professor Carlos Lira, que chegou a ser lançado em 2003 pela EDUFRN mas está esgotado. O livro sobre o coquista foi ampliado com fotos mais texto de apresentação assinado por Mário de Andrade, originalmente publicado em 1929 no jornal A República.

Passado desconhecido
“Amantes Guerreiras” é dividida em duas partes: na primeira metade Geraldo traz toda a história sobre o papel da mulher no cangaço, enquanto na segunda apresenta perfis (muitos com fotos) de 95 mulheres que se envolveram com o cangaço entre 1930 e 1940. “O livro está mais focado no período de Lampião, com a entrada de Maria Bonita”.

A publicação é desdobramento de uma palestra sobre o papel da mulher no cangaço, e teve uma primeira edição resumida, já esgotada, que saiu em 2001 pela Coleção Mossoroense (Fundação Vingt-Un Rosado), com 25 perfis.

Obviamente as cangaceiras não eram dondocas, fazer parte do bando e viver de forma nômade no meio de constantes conflitos não era para qualquer uma. Tinham que ser guerreiras, apesar de poupadas na hora de encarar a frente de batalha. Sem falar que não havia lugar para solteiras nem viúvas: se o companheiro morresse em batalha, não tinham tempo de chorar a perda. “Tinham logo que escolher um outro marido para permanecer no grupo”, disse Maia.

O pesquisador ressalta que as ex-cangaceiras passaram muitos anos, décadas, escondendo essas histórias. “Nem a família conhecia o passado dessas mulheres, muitos filhos e netos ficaram sabendo no leito de morte delas. Demorou muito até perderem o medo de serem presas, apesar do Governo ter anistiado todos do cangaço na época, por isso muita coisa se perdeu e há muito o que se descobrir ainda”.

Pesquisa permanente
Geraldo Maia do Nascimento contou que os membros da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço estão sempre viajando, em busca de alguém ainda vivo: “Um policial que participou de alguma volante, um coronel, um ex-cangaceiro”. Ele disse que muitos cangaceiros que escaparam foram morar no Sul e Sudeste, principalmente em São Paulo, onde o dentista, escritor e pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo fez o primeiro levantamento sobre o papel das mulheres no cangaço.

“Amaury foi pioneiro no tema, publicou ‘Lampião - As mulheres e o cangaço’ (Traço Editora, 2012), teve contato com uma ex-cangaceira e conseguiu chegar a outras. Foi uma das minhas fontes, e fiz questão de incluir todas as referências no livro para não deixar dúvidas”, finaliza Maia.

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/as-amantes-do-cangaa-o/319989

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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