Por José Mendes Pereira
Segundo o
escritor e pesquisador do cangaço, da cidade de Poço Redondo, no Estado de
Sergipe, Alcino Alves Costa, afirma em seu livro: "Lampião Além da
Versão – Mentiras e Mistérios de Angico", que o rei Lampião era apaixonado pelas redondezas de Poço dos Porcos, em um riacho chamado Jacaré. E
costumeiramente, fazia o seu merecido descanso por lá. Sua Central
Administrativa estava localizada nas proximidades do rio São Francisco e de
Poço Redondo. No período em que isto aconteceu, já fazia dias que o rei Lampião
e a sua respeitada saga estavam guardados e bem protegidos naquele amado lugar.
Cuidadoso com o seu arsenal de armas, o rei já falava que ele precisava de uma
manutenção urgente, para olear as partes metálicas, ensebando algumas peças de
couro e outros mais. E também zeloso com as suas riquezas, isto é, suas joias,
solicitou à presença de um afamado ourives, um senhor chamado Messias, para
fazer reparos nelas.
Era do costume, vez por outra, alguns fabricantes de joias fazerem reparos nas riquezas de toda cangaceirada. Em especial, as da majestade e as da sua amada rainha Maria Bonita.
Assim que o Messias recebeu o convite, sentiu-se honrado. E não querendo ir sozinho, até ao reino da majestade para atender a sua solicitação, convidou o coiteiro Manoel Félix, para acompanhá-lo. Este se deu pronto, e de imediato, chamou o seu irmão, o Adauto, para juntos, irem até a corte do respeitado rei.
O Poço dos Porcos havia recebido um grande colégio de cangaceiros, com uma quantidade de mais ou menos de setenta perigosos asseclas. E lá, o divertimento era de várias formas para alegrarem os seus sofridos corações. Uns jogavam cartas, outros bebiam, outros dançavam ao som do fole, tocado pelo cangaceiro Balão, e o Zabelê, que também era considerado um grande e talentoso poeta, interpretava as suas velhas e bem rimadas canções.
Lampião que se encontrava deitado lá na sua Central Administrativa, sem sair de dentro, e não gostando daquele fuzuê, reclamava os festeiros, dizendo-lhes que deixassem de tanta bagunça, pois aquela anarquia, dava uma boa pista para as volantes. Mas os asseclas não lhe davam a mínima atenção. Continuavam bagunçando o coito do rei.
O Messias e os dois irmãos haviam chegado ao coito no momento em que os asseclas faziam a festança. A malta continuava usando um bordão, “Dança Gavuzinho! Dança Gavuzinho”, sendo este dirigido ao cangaceiro Juriti, que se requebrava diante dos amigos para fazer graça.
Assim que o cangaceiro Juriti viu o ourives e os dois irmãos, tomou-lhes a frente, fazendo graça e se requebrando. Adauto tentando ultrapassar para se desviar dele, a bolsa que no momento conduzia em uma de suas mãos, atingiu a cabeça do cachorro de Lampião, ferindo-o de imediato.
O cão ficou uivando como se estivesse pedindo a Lampião que vingasse aquela maldade feita contra ele. E seringadas de sangue saíam por uma das suas orelhas. Temendo ser justiçado por Lampião, Juriti gritou que tinha sido o Adauto que ferira o cachorro.
E como uma fera, Lampião agarrou o seu amado e perverso mosquetão, e partiu para cima do pobre homem. O coitado esmoreceu de repente, e não sabia o que fazer.
Maria Bonita, como sempre, protetora dos inocentes, agarrou-o, implorando que tivesse paciência, pois não se matava um homem, só porque tinha ferido um cachorro. E ainda lhe dizia que ele parecia que tinha enlouquecido.
Maria Bonita foi a grande sossega leão de Lampião, pedindo-lhe que não fizesse
tantas maldades contra as pessoas. Algumas vezes, ele ficava nervoso com coisas
banais, e com essa fúria, além do normal, ela estava sempre ao seu redor para
evitar tamanha atrocidade. Ela sabia que muitas vezes, as suas maldades eram
justas. Mas outras, praticava pela natureza cruel que ele era dono. Se ela não
tomasse as dores de alguém para si, Lampião se tornaria um bandido sem causa e
sem ética.
Assim que Lampião violentou Adauto, o seu amigo e fiel companheiro, o Luiz
Pedro, correu e o colocou sobre sua proteção, amparando-o em suas costas.
E de lá, ficou
acalmando a suçuarana humana, pedindo-lhe que não se estressasse, deixasse o
rapaz aos seus cuidados. E ainda lhe dizia:
“- Não faça isto, compadre! não faça isto!...”.
Mas Lampião
estava fora de si. Queria matá-lo por ter ferido o seu cachorro, que para
ele, era como se fosse um amado filho. E ainda dizia:
“- Olhe o sangue, Maria! Olhe o sangue Maria, no bichinho!”.
Diz o escritor Alcino Alves que o ourives Messias, com medo de ser morto, não suportando as agressões de Lampião, querendo matar o coiteiro, desmaiou.
Manoel Félix não esperou que a suçuarana se acalmasse. Correu em direção ao seu animal, que estava amarrado em uma árvore. O que ele desejava no momento, era sair de lá o mais rápido possível. O pior foi que o animal estava preso à árvore, e não podia sair do local. Quanto mais ele açoitava, mais o apanhador se encolhia, mostrando-lhe que se não o soltasse, ele não iria para lugar nenhum. O medo de Manoel Félix foi tão grande, que não percebeu que o pobre do animal não saía do local, porque ainda estava amarrado. E só notou momentos depois, quando tudo havia passado.
Luiz Pedro e Maria Bonita foram grandes protetores de Adauto. Lampião cheio de
ódio, apontou a sua arma para o coiteiro. Mas o compadre se adiantou, dizendo-lhe:
“- Não faça isto compadre, não faça isto!...”.
E até que enfim, Lampião se viu dominado pelos conselhos de Luiz Pedro e Maria Bonita.
Conta ainda Alcino Alves que tempo depois, foi que Messias deu sinal de vida. Mané Félix, só se deu conta de que o jumento estava no mesmo lugar, quando alguns asseclas o rodearam, zombando do medo que ele teve da suçuarana. Lampião havia endoidecido. E não queria perdoar a maldade que sem querer, Adauto fizera contra o seu amado cachorro.
Fonte de
pesquisa:
Livro: "Lampião
Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico"
Autor: Alcino Alves Costa
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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