Por José Mendes Pereira
O saudoso escritor Alcino Alves Costa tinha razão, quando insistia em dizer que, o que aconteceu na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, no Estado de Sergipe, a maior parte do que contaram os depoentes, tanto os policiais como os remanescentes de Lampião, criaram fatos que por lá não aconteceram.
Lendo o texto do Alcino Alves Costa, sobre o que disse o policial Panta de Godoy, descobri que, agora ninguém sabe quem mais fantasiou o que aconteceu com Maria Bonita, no momento em que ela estava morrendo.
Panta de Godoy um dos soldados que fazia parte das volantes policiais de Alagoas, comandadas pelo então tenente João Bezerra da Silva, disse aos repórteres, pesquisadores e escritores, que foi ele quem matou a cangaceira Maria Bonita, com um tiro. Este fato, está registrado na história do cangaço nordestino, que foi ele mesmo o autor do assassinato de Maria.
O meu grande amigo Guilherme Alves, que no cangaço recebeu a alcunha de Balão, afirmou em 1973, à "Revista Realidade", que a rainha Maria Bonita correu e se escondeu em baixo de uma pedra, mas logo foi encontrada, e os perseguidores a degolaram ainda viva.
Pelo meu pouco conhecimento sobre o cangaço do nordeste, e principalmente sobre o ataque aos cangaceiros, naquele triste amanhecer do dia, eu entendo que no seu dizer, Balão presenciou quase tudo que se passou na Grota do Angico. Aí é aonde surge uma pergunta: Por que ele permaneceu lá como se fosse um repórter, fazendo cobertura numa guerra, que fica registrando tudo que se passa? Traidor de Lampião ele não foi, e não era maluco de ficar no meio de um fogo cerrado, que o intuito das volantes policiais, era simplesmente, matar todos os cangaceiros que por lá estavam.
Se os policiais aumentaram as suas declarações, mesmo assim, dá para se acreditar, não tudo, é claro, já que quem estava atacando os facínoras eram eles, e continuaram vendo os rios de sangue escorrendo em busca do rio São Francisco. Mas não dá para acreditar nos cangaceiros, vez que num tiroteio inimigo, e principalmente sem trégua (porque eles não revindicaram de forma alguma), não fica ninguém lá.
Mas ainda existem outras e outras informações do cangaceiro Balão, que muitas delas foram fantasiadas além do normal, as quais você leitor, irá lê-las uma por uma neste trabalho.
Como já é do conhecimento do leitor em 1973, que o cangaceiro Balão cedeu entrevista à "Revista Realidade", e para mim, não sei se estou certo, Balão foi o cangaceiro que mais fantasiou as suas respostas. É claro que cada um deles queria levar a sardinha para o seu prato, mas não era necessária tanta fantasia.
Veja. Diz Balão:
Estávamos acampados perto do Rio São Francisco. Lampião acordou às 5 horas da manhã e mandou um dos homens reunir o grupo para fazer o ofício de Nossa Senhora. Enquanto lia a missa em voz alta, todos nós ficamos ajoelhados ao lado das barracas, respondendo amém e batendo no peito na hora do Senhor Deus". Terminado o ofício, Lampião mandou Amoroso buscar água para o café. Mas quando ele se abaixou no córrego, veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas pedras, uma distância de 20 metros da barraca de Lampião. Pedro de Cândido, um dos nossos, havia nos traído, e acho que tinha dado ao sargento Zé Procópio até a posição das camas. Numa rajada de metralhadora serrou a ponta da minha barraca...
E continua o cangaceiro Balão:
Meu companheiro Mergulhão, levantou-se de um salto, mas caiu partido ao meio por nova rajada. Eu permaneci deitado, e com jeito, coloquei o bornal de balas no ombro direito, o sobressalente no esquerdo, calcei uma alpargata. A do pé esquerdo não quis entrar, e eu a prendi também no ombro. Quando levantei, vi um soldado batendo com o fuzil na cabeça de Mergulhão. De repente, ele estava com o cano de sua arma encostada na minha perna, e eu apontava meu mosquetão contra sua barriga. Atiramos. Caímos os dois e fomos formar uma cruz junto ao corpo de Mergulhão. Levantei-me devagar. O soldado estava morto e minha perna não fora quebrada. Moeda, Tempo Duro (este último não aparece na lista oficial dos abatidos, e nem tão pouco na lista de Alcino Alves Costa); Quinta-feira, todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos. Nove homens e duas mulheres. Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de algumas pedras. Mas foi encontrada e degolada viva. Então, vi Lampião caído de costas, com uma bala na testa.
O meu amigo Balão ouviu o apito sanfonado da máquina de trem "Maria Fumava", mas não tinha certeza para onde ele estava caminhando, se era para o Sul, para o Norte, para o Leste ou para o Oeste.
Com certeza, dias depois da chacina, o amigo Balão soube quantos cangaceiros haviam morrido lá, e não escutou bem, citou gente que não aparece na lista dos abatidos, lá na Grota do Angico, na madrugada de 28 de julho de 1938, no Estado de Sergipe.
Segue a narração do cangaceiro Balão:
Não havia tempo para chorar. As balas, batiam nas pedras soltando faíscas e lascas. Ouviam-se os gritos por toda parte. Um inferno. Luiz Pedro ainda gritou: "Vamos pegar o dinheiro e o ouro na barraca de Lampião". Não conseguiu. Caiu atingido por uma rajada. Corri até ele, peguei seu mosquetão e com Zé Sereno conseguimos furar o cerco. Tive a impressão de que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim, foi Deus.
Em minha opinião esta afirmação do cangaceiro Balão contraria o que disse Mané Veio, pois nas declarações que deu aos repórteres, o policial levou um bom tempo para assassinar Luiz Pedro. E quem mentiu sobre a morte do cangaceiro Luiz Pedro, até hoje ninguém sabe.
Já o cangaceiro Vila Nova, contou o que segue aos estudiosos do cangaço, em relação ao mosquetão, e o que sofreu o seu padrinho Luiz Pedro:
Conta Vila Nova:
" - No dia 14 de novembro de 1938 Iziano Ferreira Lima, o afamado cangaceiro VILA NOVA, afirmou ao “Jornal A Noite”, que estava na Grota do Angico no momento do ataque das volantes ao grupo de Lampião. Vejam o que ele fala:
" - Escapei pela misericórdia de Deus, afirma. Vi quando o CHEFE (o chefe que ele se refere é Lampião) caiu se estrebuchando pelas forças do tenente Ferreira (ele fala no tenente Ferreira, mas acho eu, ele quis se referir ao tenente João Bezerra da Silva).
Meu padrinho Luiz Pedro caiu ferido nos meus pés. Pediu que o matasse, logo. O que fiz, foi apanhar o seu mosquetão e fugir para as bandas do riacho onde o fogo era menor".
Está registrado na literatura do cangaço que quem assassinou o cangaceiro Luiz Pedro foi o volante Mané Veio, ele afirma que saiu perseguindo o cangaceiro Luiz Pedro, que ia meio avexado, caminhando rápido, e o volante ao seu encalce, até que chegou em um determinado lugar, e disparou sua arma, fechando o cangaceiro.
Mas vejam bem: Durou muito para que o volante assassinasse o cangaceiro. E por que o cangaceiro Balão e o Vila Nova, informaram aos pesquisadores e escritores, que o Luiz Pedro foi assassinado ali, no meio dos outros?
Continua o Balão:
"- Uma vez me perdi do bando e fiquei um ano nas caatingas de Bebedouro, Jeremoabo, Cipó de Leite, sem ver uma alma viva. No começo eu estava com ANJO ROQUE e sua mulher".
MINHAS INQUIETAÇÕES:
1 - Será mesmo que depois da missa, o amigo Balão voltou a se deitar?
2 - Como foi que ele viu que a bala que atingiu o rei do cangaço Lampião foi mesmo no meio da testa, quando ele diz que o capitão estava de costas?
3 - Como foi que no meio de um cerrado tiroteio ele teve coragem de ir pegar o mosquetão de Luiz Pedro, que já estava morto?
4 - Finalmente, quem está falando a verdade sobre o mosquetão de Luiz Pedro? Balão disse que levou o mosquetão do cangaceiro, já o Vila Nova diz também que foi ele quem o levou.
5 - Será que o cangaceiro Luís Pedro carregava dois mosquetões no momento em que tentava fugir do cerco policial?
6 - Como foi que ainda deu tempo para ele contar os mortos, pois no meio de um tiroteio, qualquer ser humano não espera por nada, muito menos para contar quem lá morreu?
7 - Como foi que ainda deu tempo para ele calçar as alpargatas se ele diz que não tinha tempo para chorar?
6 - Por que Balão caiu quando ele e o policial ambos atiraram, se ele não sofreu nenhum impacto para ser derrubado?
8 - Balão disse que após o massacre ao grupo de cangaceiros, passou um ano nas caatingas sem ver um pé de pessoa, comendo carne de bode. Onde ele arranjava fósforos para fazer fogo e panelas para cozinhar a carne?
Sou fã do meu amigo Balão, mas ele fantasiou algumas respostas. Muitas verdades, é claro, mas outras, fantasiadas. Gostaria muito que as suas respostas fossem verdades. Mas pelo que ele disse, não há como eu acreditar em todas.
O que fizeram com Lampião foi bem estudado, e não foi só Pedro de Cândido como Balão o acusa de traidor. Eu acredito que tinha outros no meio dessa covardia.
Se o traidor tiver sido só um, no caso Pedro de Cândido, eu acho que não foi traição, e sim, livrar-se dos maus tratos.
Eu pergunto: Qual é o ser humano que debaixo de peia e muita peia, vendo as suas unhas sendo arrancadas, pancadas por todo corpo, pontapés e humilhações, que se nega a dizer o que os seus agressores o perguntam? Dessa maneira, qualquer ser humano entregará até o Jesus Cristo ao carrasco.
Confira no site do Lampião Aceso, do amigo Kiko Monteiro, para você não ficar com dúvida, achando que são criações minhas. Mas leia todo conteúdo:
Informação ao leitor: Os meus trabalhos sobre cangaço não têm nenhum valor para a literatura lampiônica, e nem tão pouco prejudicarão os escritores, pesquisadores e cineastas. São apenas minhas inquietações sobre os depoentes.
http://lampiaoaceso.blogspot.com/2009/08/cangaceiro-balao-sensacional-entrevista.html
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