Por Germán Padingerda CNN
Explosões em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, deixaram mais de 100.000 mortos em 1945
O físico
nuclear americano Julius Robert Oppenheimer (1904 - 1967), diretor do
laboratório atômico de Los Alamos, testemunhando perante o Comitê Especial do
Senado sobre Energia Atômica.
Crédito: Keystone/Getty Images
Imagem
rotulada como '0.053 Sec' do primeiro Teste Nuclear, codinome 'Trinity',
realizado pelo Los Alamos National Laboratory em Alamogordo, Novo México por
volta de 1945.
Crédito: Fotosearch/Getty Images
Cientista
atômico americano Robert Oppenheimer (1904 - 1967), (segundo da direita),
diretor do projeto da bomba atômica em Los Alamos, Novo México.
Crédito: MPI/Getty Images
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Alguns meses
após a divisão do átomo, o físico alemão e ganhador do Prêmio Nobel Albert
Einstein, uma figura influente e popular que contribuiu muito para suas
pesquisas no início do século 20, e Leo Szilard, um físico húngaro radicado na
Alemanha, enviaram uma carta ao então presidente dos Estados
Unidos, Franklin Delano Roosevelt.
Na carta, eles alertavam sobre o potencial militar dessa descoberta e a possibilidade de que a Alemanha, país líder em pesquisa nuclear na época sob o regime totalitário de Adolf Hitler, tentasse desenvolver uma bomba atômica.
Einstein e
Szilard haviam saído da Alemanha após a ascensão do nazismo e atualmente
trabalhavam em universidades americanas, e seu alerta valeu a pena: em outubro
do mesmo ano, o governo dos Estados Unidos destinou os primeiros fundos para
pesquisas com fins militares.
Na Alemanha os esforços começaram ainda antes: logo após a invasão da Polônia em 1º de setembro de 1939, o físico e Prêmio Nobel Werner Heisenberg, outro dos grandes nomes da física nuclear mundial, recebeu os primeiros recursos do exército para iniciar suas próprias investigações.
Devido à
urgência da guerra, à falta de materiais básicos e ao compromisso do regime nazista com
outras tecnologias, o programa nuclear alemão, às vezes conhecido como
Uranverein (clube de urânio, em tradução livre), nunca se tornou uma prioridade
ou atingiu o nível de progresso a que o chegariam aliados, mas parecia confirmar
as suspeitas de Einstein e Szilard e consolidar a decisão dos Estados Unidos de
desenvolver uma bomba atômica.
O “Projeto
Manhattan” e J. Robert Oppenheimer
Após a entrada
dos Estados Unidos na Segunda
Guerra Mundial, em 7 de dezembro de 1941, e em meio a relatórios de
inteligência que exageravam os avanços do Uranverein alemão,
Roosevelt ordenou que o programa fosse acelerado e colocado sob o controle
do Departamento de Guerra.
Como grande
parte da pesquisa inicial havia sido feita na Columbia University, localizada
em Manhattan, Nova York, e a cargo do Corpo de Engenheiros do Exército sediado
naquele distrito, em 1942 o projeto ganhou o codinome “Manhattan”.
Dois nomes
foram assimilados ao “Projeto Manhattan”: o do Brigadeiro General Leslie R.
Groves, o líder militar do esforço, e o de Julius Robert Oppenheimer, o físico
que dirigiu o laboratório construído em Los Alamos, Novo México, de 1943, para
concentrar o trabalho de pesquisa de centenas de pessoas em um ambiente
discreto e controlado.
O físico
nuclear americano Julius Robert Oppenheimer (1904 – 1967), diretor do
laboratório atômico de Los Alamos, testemunhando perante o Comitê Especial do
Senado sobre Energia Atômica./ Keystone/Getty Images
Os trabalhos
em Los Alamos visavam a produção da primeira bomba atômica, e puderam ser
alcançados graças à construção do primeiro reator nuclear do mundo, o
Chicago Pile-1, em dezembro de 1942, primeiro sucesso do “Projeto
Manhattan”.
Como funciona
uma bomba atômica?
Trabalhando
contra o relógio, e enquanto as batalhas mais duras da Segunda Guerra Mundial
ocorriam na Europa e no Pacífico, a equipe liderada por Oppenheimer avançava em
dois modelos de armas capazes de desencadear uma explosão nuclear.
Em ambos os
casos, o que se buscava era produzir um grande número de fissões
nucleares, ou seja, partições de átomos de urânio ou plutônio, neste caso,
que desencadeassem uma reação em cadeia no menor tempo possível e contida em
uma pequena massa.
Cada partição
libera enormes quantidades de energia, e a reação em cadeia pode terminar
em uma gigantesca detonação que libera calor e radiação, bem como a onda de
choque.
A primeira
das duas bombas desenvolvidas foi do tipo detonação de canhão ou
tiro, na qual a fissão nuclear e a reação em cadeia necessárias para a
explosão foram conseguidas com o disparo de um projétil de urânio-235 em outro
bloco do mesmo elemento. Foi o modelo usado em Hiroshima,
apelidado de “Little Boy”.
O segundo
projeto foi a implosão, na qual a detonação nuclear foi alcançada pela
explosão de explosivos convencionais em torno de uma esfera de plutônio,
comprimindo-a e forçando assim uma reação em cadeia. Esta foi a bomba
lançada sobre Nagasaki, chamada “Fat Man”.
Primeiros usos
da bomba atômica: Trinity, Hiroshima e Nagasaki
A Alemanha se
rendeu em 9 de maio de 1945 e, de repente, não houve mais corrida armamentista
contra o time liderado por Heisenberg. Mas o Japão continuou a lutar por
mais alguns meses, e o Departamento de Guerra dos Estados Unidos voltou sua
atenção para o arquipélago asiático.
Nesse
contexto, Oppenheimer organizou o primeiro teste nuclear da história em 16 de
julho de 1945. Batizada de “Trinity”, essa bomba atômica projetada por implosão
foi detonada na base de Alamogordo, a 193 quilômetros de
Albuquerque, e marcou o sucesso definitivo do “Manhattan Projeto”.
Oppenheimer,
Groves e um grupo de soldados e cientistas observaram de um bunker aquele
momento em que o sol parecia nascer da terra.
“Em minha
mente, eu estava pensando em uma linha do Bhagavad-Gita na qual Krishna tenta
persuadir o Príncipe de que ele deve cumprir seu dever: ‘Eu me tornei a morte,
o destruidor de mundos'”, escreveu Oppenheimer naquele dia, fazendo uma
paráfrase do texto sagrado do hinduísmo.
Enquanto
Groves, triunfante, dizia no bunker e após o ensaio: “Este é o fim da
guerra tradicional!”.
O entusiasmo
dos militares dos EUA e a resistência japonesa cada vez mais rígida levaram à
detonação de uma segunda bomba atômica menos de um mês depois, pela primeira
vez em uma cidade.
Em 6 de agosto
de 1945, Hiroshima, localizada a cerca de 600 quilômetros ao sul de Tóquio, foi
devastada por uma bomba tipo canhão lançada por um bombardeiro B-29: cerca de
70.000 pessoas morreram instantaneamente na explosão de calor e radiação.
E três dias
depois, em 9 de agosto, outro dispositivo do tipo implosão, como o usado em
“Trinity”, foi lançado sobre Nagasaki, matando instantaneamente
40.000 pessoas.
O Japão
finalmente se rendeu em 2 de setembro, e uma nova era dominada por armas
nucleares e pela ameaça de destruição em massa começou para o mundo. E nem
mesmo a virada de Oppenheimer, que se tornou um crítico do uso militar da
tecnologia nuclear, não conseguiu mais acabar com isso.
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