Por: Geraldo Maia
Jornalista Geraldo Maia e o escritor Vingt-un Rosado
É sabido que Mossoró nasceu no chão da Fazenda Santa Luzia, que pertencia ao Sargento-Mor Antônio de Souza Machado. Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, a Fazenda Santa Luzia “situava-se muito perto da margem esquerda do rio Mossoró e ao mesmo tempo da mata, tendo entre esta e o Rio uma lagoa de água potável. Era o ponto onde os adventícios escolhiam para residirem”.
Com a construção da capela de Santa Luzia em 1772, dar-se a fixação do arraial, pois naquele ponto, além das casas residenciais da família do proprietário, erguiam-se dezenas de outras casas, todas de taipa e palha, sendo algumas cobertas com telhas de barro e outras com palha de carnaúba, na dispersão dos pequenos sítios perto das cacimbas cavadas periodicamente. A lagoa de água potável que existia no arraial, que ficava próximo aonde hoje se encontra a Igreja do Bom Jesus, no centro da cidade, fora aterrada durante a grande seca de 1877-78.
Descrevendo a região, diz o mestre Cascudo: “ Os pereiros de verde intenso e obstinado alegravam a visão do povoado que uma mata de cedros sombreava. Esta mata de cedros constituiu pouso das primeiras feiras incipientes e “rancho” natural para os viajantes freqüentes e ocasionais. Viviam em 1870, robustos e ornamentais à margem esquerda do Mossoró, ponto de venda de algodão, delícia dos tabuleiros de doces, sombra macia a violência da reverberação solar, abrigando a conversa miúda dos miúdos acontecimentos locais”.
Na praça da capela, hoje Praça Vigário Antônio Joaquim, erguia sua copa redonda e frondosa o velho umarizeiro, árvore secular, em cuja sombra se abrigavam os cargueiros de sal e os tangerinos de cereais para permutarem os seus produtos.
Ao entardecer, o sino da capelinha de Santa Luzia batia lentamente as três badaladas das trindades. Como toda população eram católicos, fazia-se o sinal da Cruz.
As noites eram tranquilas no arraial. Ouvia-se, ao longe, as vozes dos animais e o sussurro das palmas dos carnaubais.
O desenvolvimento populacional do arraial, nessa fase inicial, foi muito lenta. Francisco Fausto de Souza informa que “de 1772, quando foi construída a Capela, até 1842, quando foi a Ribeira de Mossoró elevada a Freguesia, a Povoação de Santa Luzia pouco aumentara consistindo ela até então de um pequeno quadro em frente à respectiva “Capela”. Em dezembro de 1810, o viajante Henry Koster, indo para o Ceará, atravessa o arraial de Santa Luzia. Esse viajante, “que era inglês nascido em Portugal, realizou uma jornada fabulosa, de Recife a Fortaleza, ida e volta, a cavalo, varando o interior, olhando tudo e tudo registrando com clareza e verdade”, como registrou o mestre Cascudo. O trabalho de Koster é considerado o primeiro e melhor depoimento sociológico e etnográfico da região. Nele, Koster descreve o arraial de Santa Luzia dizendo constar de duzentos ou trezentos habitantes e ser edificado em quadrângulo, tendo uma igreja algumas casas pequenas e baixas, onde o mesmo pode encher suas garrafas de bebidas e conseguir suprir-se de rapaduras.
Em 13 de fevereiro de 1852 foi lida na Assembléia Provincial uma representação dos habitantes da freguesia de Santa Luzia de Mossoró, pedindo que se elevasse a povoação à categoria de vila e município. A Lei nº 246 de 15 de março de 1852, elevou o povoado à categoria de vila, com o título de Vila de Santa Luzia de Mossoró. Emancipou-se, politicamente, desligando-se do município de Assu, a quem era ligada até então.
Em 9 de novembro de 1870, graças a um projeto do vigário Antônio Joaquim Rodrigues, então Deputado Provincial, a Lei nº 620 do mesmo ano conferiu-lhe as honras de cidade, com a denominação de Cidade de Mossoró. Assim nasceu a cidade!
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