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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

LAMPIÃO E OUTRAS HISTÓRIAS - CEGUINHO CORAJOSO

Por Doizinho Quental



Por volta de 1921, Terra Nova, município de Pernambuco, era ainda um povoado simples e acanhado. Lampião e o seu temível bando chegou mais ou menos às 9:00 h da manhã, quando a feira estava fervilhando de gente. Como de costume, disparou alguns tiros de rifles e de parabellum para cima. Os animais da feira partiram em louca disparada quebrando potes, panelas de barro e o povo agoniado corria sem  direção.

Enquanto isto, o bando do famoso celerado cantava, a toda altura, mulher rendeira.

Naquele desespero infernal um ceguinho, com uma viola na mão e um coité na outra, permaneceu tranquilo, como se nada tivesse acontecido. O seu guia, que neste momento não aguentava em pé, dizia trêmulo:

- Vamo, vamo, Lampião vai nos matá!

– Nada disso, falou o cego, eu vô é apoveitar e pedir uma esmola a ele!

– Vosmecê tá maluco, o home tá que é uma fera!

O cego retrucou:

- Se vosmecê quiser fugir que fuja, eu vô lá!

E partiu em procura de Lampião que, a vinte metros, assistia a tudo que estava acontecendo.

O ceguinho chegou próximo do cangaceiro e improvisou:

Nunca vi na minha vida,
E eu jamais posso ver,
Mermo assim acredito,
Na força e no puder,
Do famoso Lampião,
Pois in Deus o mermo crê.

Com essa tirada Lampião, que gostava muito de rezar, apesar de ser bandido, elogiou o cego e lhe deu dinheiro acrescentando:

- Diga a ele o quanto ganhô e que só  ajudei pru duas coisa: pru num ter medo de mim e pru falá a verdade.

O ceguinho agradeceu:

O meu guia foi imbora,
Cum medo de Lampião,
Mais eu mermo já sabia,
Que ele tem bom coração,
Munto obrigado meu amigo,
Eu falo pru gratidão.

Deus lhe dê munta fartura,
Governadô do Sertão,
E guie o seu caminho,
Livrando-o da prisão,
Da seta da farsidade,
E dos fuxicos do cão.

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