Por Geraldo Maia do Nascimento
Em 29 de Janeiro de 1926, num dia de sexta-feira, Mossoró amanhecia em estado de alerta, pois notícias davam conta de que a coluna revolucionária chefiada por Luiz Carlos Prestes havia entrado em território potiguar e invadido a cidade de São Miguel, distante 240 km de Mossoró.
Apesar
da distância entre uma cidade e outra, foi grande a confusão gerada com a
notícia, resultando num verdadeiro êxodo dos mossoroenses, pois as notícias de
maior divulgação diziam dos propósitos dos revolucionários em destruir
propriedades privadas, trazendo terror às populações nordestinas. Desse modo a
cidade ficou parcialmente deserta com a retirada de autoridades, comerciantes e
famílias para Natal e outras localidades distantes.
A
frente da Intendência mossoroense estava Rodolfo Fernandes, que havia tomado
posse em 01 de janeiro daquele mesmo ano. Pelo impacto da notícia, a
Intendência reunida tomou medidas e providências acauteladoras em defesa da
cidade. Tudo, porém, não foi além do susto e do tumulto causado pelas notícias,
já que os revoltosos, que além da Vila de São Miguel de Pau dos Ferros atacaram
também a de Luís Gomes, retiraram-se logo após a invasão, penetrando no vizinho
Estado da Paraíba.
A
“Coluna Preste\" que, de 1925 a 1927 andou por todo o Brasil, cerca de
25.000 quilômetros, foi o ponto culminante de um movimento militar denominado
de Tenentismo. Esse movimento armado visava derrubar as oligarquias que
dominavam o país e, posteriormente, desenvolver um conjunto de reformas
institucionais, com o intuito de eliminar os vícios da República Velha. Não
conseguiu, no entanto, atrair a simpatia da opinião pública; apenas em algumas
ocasiões cidades ou grupos de homens apoiaram o movimento e até mesmo passaram
a integra-lo. A idéia de que o movimento cresceria em número e em força ao
longo da marcha foi se desfazendo durante o trajeto na região nordeste. Num
meio físico hostil, ilhada pelo latifúndio, não achou nas massas do interior o
apoio necessário e alentador. Ao contrário, passou a ser o terror do sertanejo
que via na passagem da Coluna apenas prejuízo e desgraça, pior ainda do que os
inúmeros grupos de cangaceiros que assolavam o nordeste, pois a Coluna era
composta por centenas de guerreiros bem treinados em batalhas e sob o comando
de um mestre em guerrilha.
Acontece
que além da questão política, estava a sobrevivência da tropa. Afinal, era um
batalhão que estava em marcha, necessitando de víveres para seus integrantes. A
solução era adquirir de uma maneira ou de outra nos lugares por onde passava,
muitas vezes destruindo lavouras e abatendo gado e criações que iam encontrando
ao longo do percurso.
A
história da passagem da Coluna dos Revoltosos pelos lugares citados está
fielmente contada pelo historiador Raimundo Nonato em livro com o título de “Os
Revoltosos de São Miguel.” Foi também fartamente divilgada pela imprensa local.
Este centenário jornal, em sua edição de 16 de fevereiro de 1926, trazia uma
matéria intitulada “A Incursão dos Revoltosos”, onde tratava de dois fatos: o
primeiro, cujo subtítulo era “Um Prisioneiro”, referia-se ao Tenente Fragoso,
“desertor das hostes rebeldes”, que havia procurado as autoridades de Pau dos
Ferros para se entregar, pedindo garantia as autoridades. O segundo fato, que
trazia o subtítulo de “Êxodo”, fazia referência ao despovoamento de Mossoró com
a notícia da aproximação dos revoltosos. Segundo a matéria, mais da metade da
população havia abandonado a cidade. O jornal “O Nordeste”, que circulava em
Mossoró naquela época, trazia nas primeiras páginas de sua edição de 20 de
fevereiro de 1926, os títulos: “Os Rebeldes no Nordeste – O Rio Grande do Norte
invadido – Mossoró ameaçada”. Dizia a matéria: “Quem diria fosse a Região
Nordeste do Brasil invadida pela onda de rebeldes que se avolumaram no Sul do
País, indo acossada pelas forças legalistas, até as fonteiras dos Estados do
Prata? Não se esperava por essa odisseia terrível mas ela aconteceu...”
Não
é nossa pretensão discutir aqui o projeto político que originou a Coluna Prestes nem o resultado obtido pela mesma em sua longa marcha. Queremos
simplesmente retratar o fato histórico ocorrido aqui na região, mostrando que
longe de atingir os seus objetivos, a “Coluna dos Revoltosos”, como ficou aqui
conhecida, deixou um rastro de medo e destruição.
Para
a história, o fato é recente, existindo ainda pessoas nos lugares por onde
passou a Coluna, lúcidas o suficiente para depor sobre o ocorrido.
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Autor:
Jornalista
Geraldo Maia do Nascimento
Fontes:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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