Por Manoel Higino
Publicado em 10/09/2014 - Virgulino aos
32 anos.
Em artigo
publicado aqui no blog há duas semanas, comentávamos como seria possível,
diante de um criminoso cruel e sanguinário do porte de Virgulino Ferreira da
Silva, oLampião, ter se mantido o bandido com a visão romântica de TV e Cinema,
de justiceiro e Robin Hood, por tanto tempo!
Na história
conhecida, digamos, oficial, em 28 de Julho de 1938, uma emboscada em Angicos,
em Poço Redondo (SE), pôs fim a 11 dos cangaceiros mais temidos da história, entre
os quais estavam Lampião e Maria Bonita. Mas não é isso que o fotógrafo e
escritor mineiro José Geraldo Aguiar conta em seu livro “Lampião, o invencível
– duas vidas, duas mortes” – Thesaurus Editora, 2009.
Depois de
alegados 17 anos de pesquisas, o escritor afirma que tudo não passou de uma
farsa e que conviveu com Lampião durante cinco meses numa cidade de Minas
Gerais, para onde o cangaceiro teria fugido após ter passado pela Bahia e
Piauí, até que, em 1950, com Maria Bonita, se estabeleceu em Minas. “Ele viveu
na clandestinidade e chegou a ter 13 identidades falsas”, afirma o pesquisador,
contando que quando morreu, Virgulino fora registrado como Antônio Maria
da Conceição. (Em sua lápide se encontra escrito Antônio Teixeira Lima.) Em “Lampião,
o invencível“, o autor relata supostos depoimentos do “rei” do Cangaço, narra
com detalhes os seus encontros com ele e apresenta foto impressionante, tanto
quanto polêmica, que seria de Virgulino com mais de 90 anos de idade.
Esta seria
Maria Bonita aos 62 anos, vivendo em Minas sob outra identidade.
Lampião teria
vivido como comerciante e fazendeiro no Norte de Minas, e morreu em 1993, aos
96 anos de idade, em Buritis (MG). Maria Bonita teria morrido no dia 3 de
agosto de 1978, curiosamente, em mesmo mês e dia. Lampião teve várias mulheres
(nunca casado oficialmente) e quando Aguiar o conheceu, ele estava vivendo com
Severina Alves de Moraes. A imagem que o retrata cerca de seis anos antes do
seu falecimento, teria passado por exames prosopométricos (de comparação de
medidas das estruturas da face) e por simulações gráficas de envelhecimento,
tomando como base duas imagens do cangaceiro ainda jovem, com 29 anos e outra
com 40, que revelaram uma imagem quase exata à foto supostamente tirada por
Aguiar.
A mesma
pessoa? Semelhanças e provas científicas?
A imagem
aponta ainda três semelhanças entre as que foram testadas: o olho direito com a
pálpebra caída, a silhueta com as mesmas formas e uma pequena depressão na
sobrancelha esquerda. São provas circunstanciais que impressionam, mas que em
segunda análise, deixam a dúvida mais latente, pois são tipos físicos muito
comuns. Para completar, a filha do cangaceiro se recusou a fazer o DNA que
criasse a prova definitiva.
Perguntado em
entrevistas sobre a real história do dia 28 de Julho de 1938 e o porquê do
cangaceiro ter escolhido mentir e viver na clandestinidade, José Geraldo conta
que tudo foi um acordo entre Lampião e as autoridades, pois o mesmo estava com
40 anos e há tempos pensava em abandonar aquela vida e se tornar fazendeiro em
Minas Gerais. Lampião teria negociado com o então governador de Sergipe e
outros amigos, dentre eles o Capitão Bezerra e próprio Padre Cícero.
Abandonando o Estado na calada da noite; outros cangaceiros permaneceram no
local onde aconteceu a emboscada. Lampião teria fugido, passando pela Bahia,
Piauí, até que, em 1950, ele e Maria Bonita acabariam se estabelecendo em
Minas. “Lampião viveu na clandestinidade e chegou a ter 13 identidades falsas”,
afirma o pesquisador.
Ele reforça
ainda o fato de que após a decapitação desses cadáveres, só quatro dias depois
essas cabeças em estado de decomposição chegaram à presença do público, dentro
de uma lata com sal grosso e vinagre, transportadas pela Polícia Militar.
No lugar de
Lampião teria sido morto certo João Sapo, ladrão de cavalos preso pela
polícia na época.
Infelizmente
José Geraldo faleceu aos 59 anos, em 19 de maio de 2011 e suas declarações
sempre geraram muitas discussões, e, claro, o autor é apontado por muitos como
um farsante. Uma vez morto fica a obra e a provocação à história limitadas a
novas investigações sobre o autor e sua obra.
Lamentável em
todo o processo de investigação e pesquisa é a acalentada defesa do cangaceiro,
o elogio à sua macheza, sua inteligência e coragem. Na pesquisa para este artigo
encontrei descrições de crimes de crueldade sem igual, de revirar o estômago,
que pouparei os leitores dos detalhes.
Supunha o
cangaceiro envolvido em mortes e torturas, mas sua vida é muito mais que isto,
marcada por atos hediondos, sangrentos, indescritíveis. Mesmo o nome do livro é
ode ao “valente” e “invencível” criminoso.
Do ponto de
vista da investigação histórica merece uma revisão crítica, calma,
desapaixonada.
Se eu
acredito, em princípio, no livro de José Geraldo?
Hmmm… Não… Não
me senti convencido.
Mas que
apimenta a imaginação, ah… Não há dúvidas.
Manoel Higino
é economista e consultor de empresas, escrevendo neste espaço às 3as e 5as. O
Blog existe desde 2012, com leitores pelo Brasil e exterior. Faça contato para
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ADENDO - http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Eu não me refiro ao escritor José Geraldo Aguiar e nem ao autor deste artigo, mas quero apenas dizer sobre quem informou esta barbaridade ao autor deste livro, que Lampião e Maria Bonita escaparam da chacina de 28 de julho de 1938, lá na Grota de Angico, no Estado de Sergipe:
"Menos verdades do depoente"
https://manoelhiginoconsultor.wordpress.com/tag/lampiao-e-maria-bonita/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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