Por Kiko Monteiro
Baiana de Adustina, Gelza Reis Cristo, é formada em Letras pela Universidade
Católica de Santos. No momento pós-graduanda em Língua Portuguesa pela UNICAMP
(Universidade de Campinas). Há 37 anos ela reside em São Vicente SP onde
leciona na rede estadual de ensino.
Além de professora é culinarista, poeta e declamadora, e escritora.
Depois de três livros, além da participação em onze antologias, ela lançou no
último final de semana em Lagarto o seu primeiro estudo sobre o cangaço
intitulado "Lampião é filho do Santo Conselheiro - Cangaceirismo e
misticismo", pela editora All Print.
A pesquisa
Estudando "Cangaceiros", obra de José Lins do Rego, ela descobriu na
personagem Aparício a identidade e a geografia de Lampião. Posteriormente lendo
"Os Sertões" de Euclides da Cunha, descobre a geografia de Antônio
Conselheiro.
"Uma mesma região, uma mesma gente inculta, necessitada de um líder, pois
o governo estava distante de todos eles. Assim como o Conselheiro convenceu a
sua comunidade de que eles poderiam viver sem a ajuda do governo, Lampião
seguiu esse mesmo preceito", introduz a autora.
Relação histórica
"O padre Frederico Bezerra Maciel, em sua obra ´Lampião seu tempo e seu
reinado´ já havia sugerido uma hiperligação entre as duas personagens do meu
livro. Segundo a pesquisa, Antonio Conselheiro disse para um dos seus
seguidores ´Dentro de 50 anos haverá de surgir no Sertão um homem que apesar de
religioso será cangaceiro e dará muito trabalho aos governos´ ele estaria
profetizando o surgimento de Lampião. Conjectura ou não é um dado interessante
para a reunião destes dois mitos nordestinos", afirma Gelza.
É evidente que ambos pisaram o mesmo chão, palmilharam os cantos mais ermos do
sertão seco e até mesmo florido, eram declarados inimigos públicos e
enfrentaram as forças do governo cada um na sua proporção.
Corredor de cangaceiros
A intenção de Gelza não é só de reunir os dois ícones históricos, mas de
resgatar sua Adustina como um corredor de cangaceiros e trazê-la de volta para
as biografias do tema.
Povoado Quixabeira de Adustina ou como era denominada na época do cangaço,
"Patrocínio do Coité", em 2 de Julho de 1927. (Acervo Kiko Monteiro).
"Como naquela época Adustina, ou melhor "Patrocínio do Coité"
era um povoado de Paripiranga, até hoje muitos autores se esquecem de atualizar
a geografia de seus capítulos. Conheci e conversei com algumas pessoas da minha
terra sobre as andanças de cangaceiros pelas matas de Adustina. Em 2013 visitei
a Serra do Capitão, ouvi estórias sobre coitos e até Botijas, inclusive um dos
moradores exibiu no pescoço uma corrente que teria pertencido a um cangaceiro e
foi descoberta em uma destas botijas. Enfim, a única coisa que se pode
comprovar é o coito como um dos esconderijos destes homens e mulheres no
passado", disse Gelza.
O avô da autora, Augustinho Gregório dos Reis, morava no pé da na serra do
capitão. Certa vez um subgrupo chegou até a casa dele e pacificamente pediu que
fizessem comida para a cabroeira porque eles pretendiam arranchar por umas
horas naquela localidade. Após a passagem dos cabras Augustinho resolveu que
ali não era mais seguro, pois ele tinha várias filhas moças e temia que algum
cangaceiro botasse o olho e raptasse uma delas.
De acordo com as memórias dos antepassados da autora o líder cangaceiro que
mais andou na região era Corisco.
Adustina vista do alto da Serra do Capitão (Fonte: Adustina 24hs)
"Encontramos a "Ponta da Serra" antiga denominação da Serra do
Capitão em um dos capítulos do livro de Estácio de Lima, "O mundo estranho
dos Cangaceiros". Na ocasião houve uma baixa no grupo e eles estavam
esperando o líder do grupo que havia ido a Paripiranga pegar provimentos, para
então poder enterrar o companheiro".
Serra do capitão é tema de um dos versos de cordel que Gelza canta em suas
apresentações que promovem o livro.
"Em um jornal da Bahia
O povo lia com atenção,
Lampião ta escondido
No serrado do Sertão.
E a policia não sabia
Da Serra do Capitão.
A milícia passou perto
E fugiu na contramão.
O medo da Jaguaruna
Fez o macaco correr.
Cangaceiro aqui não ta
pois tem medo de morrer.
Olê muié rendeira,
Olê muié rendá...
O livro de Gelza contém um breve depoimento de Raimundo Matos, um morador de
Adustina que afirma ter feito parte da volante do nazareno Odilon Flor, quando
este perseguiu os cangaceiros pelo sertão baiano. Raimundo contava na época com
apenas 16 anos.
Serviço
"Lampião é filho do Santo Conselheiro - Cangaceirismo e misticismo",
All Print São Paulo 2016.
Nº de páginas: 206
Valor: R$ 45 com frete incluso,
Os pedidos devem ser feitos pelo email cristogelza@gmail.com ou pelo aplicativo
WhatsApp cotato: (13) 99751- 7293
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