De família tradicional da Bahia e Pernambuco, Tânia Alves foi criada com todos
os luxos e proteções. Disciplinadamente, seguiu os rumos traçados para ela:
colégio particular, aulas de dança, línguas estrangeiras e canto lírico,
faculdade de Letras e, finalmente, um bom marido. Tudo como manda a tradição e
os bons costumes. Mas em 1972, a angústia era tão grande que ela decidiu romper
com tudo e “descobrir o mundo”. Desmanchou o casamento e enfrentou os pais,
disposta a procurar sua individualidade a qualquer preço. Foi fundo na
experiência. Sofreu, sentiu-se insegura, mas acredita que valeu a pena:
- Eu era a princesinha da casa. Doce, meiga e alienada. Enfrentei uma barra pesada porque minha família não me apoiou. Hoje, isto está superado e todos me aceitam e compreendem. Mas fui, por longo tempo, a ovelha negra.
Nas buscas de Tânia, o teatro foi fundamental. O primeiro passo na busca de si mesma. Começou com peças populares, muita literatura de cordel. O conhecimento da cultura nordestina, que já trazia de casa, aumentou ainda mais. Fez pesquisas, dedicou-se a peças de vanguarda, começou a trilhar o caminho que acabou levando-a até Maria Bonita:
- Sempre soube que este papel ia ser meu um dia. Além de possuir alguma semelhança física com a personagem, todo meu passado de atriz me encaminhava para isto. Recebi o convite como um presente e o trabalhei com técnica e emoção.
As histórias que o pai lhe contava sobre Lampião, muita leitura, horas passadas diante de filmes sobre as mulheres cangaceiras e a promessa feita à Maria Bonita de interpretá-la o mais próximo possível da realidade animaram a atriz. Para completar, o ator escolhido para ser o Lampião era um grande amigo seu, dado que Tânia considera fundamental para que o clima de amor entre eles ficasse perfeito:
- Nelson é queridíssimo, a gente se gosta muito. Acho que nossa identificação – já trabalhamos diversas vezes juntos – facilitou demais para que surgisse o bonito clima de amor que Lampião e Maria Bonita viveram.
Tânia conta ter se empenhado profundamente no papel. As condições duras de gravação não pesaram para ela. Impressionou-se com o clima da equipe onde todos trabalhavam com entusiasmo, pensando em dar o melhor que podiam. Agora, resta o orgulho de ter feito um trabalho pioneiro em televisão e uma profunda admiração pela mulher que interpretou:
- Maria Bonita era uma grande mulher. Fez, em 1930, numa sociedade bem mais fechada e machista, o que muita mulher hoje ainda não tem coragem de fazer. Abandonou tudo, inclusive o marido, para seguir o homem que amava. Ela foi a rainha do sertão. Uma pessoa que conseguiu conservar sua sensualidade e feminilidade no meio hostil que a cercava. Maria Bonita foi uma inconformista, soube dizer não. Antes de mais nada, tinha uma coragem absoluta.
Coragem que Tânia acredita não ter, embora tenha percorrido caminhos parecidos. Definindo-se como “uma apaixonada”, ela diz que só crê nas coisas que se faz plenamente. Gosta de correr riscos e conta que seu sonho é voar de asa-delta. Mora num sítio perto do Rio, adora o marido Enzo Merino, músico chileno do conjunto “Raices de América”, com quem está casada há 3 anos, é mãe coruja e apaixonada de Gabriela, de 10 anos, e Leonardo, de 1 ano e quatro meses.
- Aprendi, às minhas custas, que a vida só vale a pena quando se vai fundo em tudo que se faz. Sou apaixonada pelo amor e pela vida. Luto pelo que quero porque sou tímida e enfraquecida. Preciso me solicitar muito para enfrentar os desafios que surgem. Mas vou em frente, brigando por tudo em que acredito. Este é meu caminho para ser feliz.
"O GLOBO" – 09/05/1982
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste
Link: https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?fref=ts
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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