Por Guaracy
Oliveira
"Maria
Bonita, casada, vivia com seu marido, um sapateiro que, por sinal, está vivo e
mora no Mato Grosso. Se o senhor quiser, êle pode confirmar tudo. Lampião é que
gostava muito dela. E Ritinha, a outra mulher de Lampião, sabia de tudo. Um
dia, êle me chamou e disse:
- Pegue o burro e vá buscar Maria Bonita. Diga
que fui eu que mandei.
Quando me aproximei da casa dela percebi que
havia uns "macacos" por perto. Mas continuei. Olhei pela janela e ela
estava sentada sozinha, na sala. Fiz um sinal, ela veio. De repente, seu marido
apareceu e perguntou o que era aquilo. Maria Bonita respondeu:
- Vou
morar com Lampião. Você não é homem pra mim não. Em seguida, montou no
burro e fomos embora.
"Quando
chegamos de volta" - continua -, "Lampião ficou tão satisfeito que
até sorriu. E me deu, como prêmio, quinze contos de réis. Era muito dinheiro.
Maria Bonita melhorou a vida da gente. Cinco horas da manhã, estava todo mundo
de pé. A gente comia do bom e do melhor".
"Beija-Flor"
se entusiasma com Maria Bonita:
- Foi a
mulher mais bonita que Deus já botou no mundo. Tinha o pé grande como diabo.
Calçava botinas feitas sob medida e tinha mais pontaria que qualquer um de nós.
Ninguém se metia com ela, porque sabia que ia morrer. Brigava de faca, de
punhal e de fuzil. Não tinha quem pudesse com ela. Nas noites de
lua, os bandidos sentavam no chão, bebiam cachaça, Lampião tocava sanfona e
Maria Bonita acompanhava no bandolim. Os cangaceiros cantavam modas.
Canções que falavam de sua vida aventurosa e cheia de perigos. Também falavam
de amor.
Os últimos
dias de Lampião e Maria Bonita são contadas pelo bandoleiro aposentado:
"Foi em
Angico. Eram quatro horas da manhã quando a casa foi cercada por mais de mil
"macacos: um alvoroço da peste! Maria Bonita correu para a porta e
levou uma rajada de tiros na barriga.
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"O cangaceiro Beija-Flor está totalmente enganado. Foram apenas 48 policiais que fizeram o cerco aos cangaceiros".
Continua: Gritou: "Acorde, Lampião! Estamos
cercados!" Lampião pegou a arma, abriu a janela e, quando meteu a cara,
levou um tiro na bôca.
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"Não se sabe qual janela, porque o ataque foi na Grota do Angico, e lá não existia casas".
Continua o depoente: - Foi Jacinto Moreira César, seu antigo cangaceiro, quem
atirou. Eu vi. Depois, o Tenente Bezerra acabou de matá-lo. Quando vimos que
tudo estava perdido, eu, "Corisco", "Cascavel",
"Ventania", "Gasolina", "Relâmpago" e outros
fugimos pelo oitão. Fui para São Paulo, depois Mato Grosso e há dois anos estou
em Brasília.
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"O cangaceiro Beija-Flor mentiu mais uma vez, porque o cangaceiro Corisco não estava na Grota no momento do ataque aos cangaceiros".
Lampião sabia
que estava perto de morrer e mata seu próprio filho:
"Lampião
sabia que estava perto de morrer" - acrescenta. - "Uma tarde, chamou
seus "cabras" de maior confiança e mandou matar seu filhinho de menos
de um mês de idade. Não queria deixar nenhum descendente no Mundo - era o que
dizia. Fomos todos, um de cada vez ao berço do menino e ninguém teve coragem de
matá-lo. O "bichinho" sacudia as pernas e os braços. Cheguei a
levantar o punhal, mas, na hora de sangrá-lo, êle sorriu para mim. Lampião
irado, ordenou a Maria Bonita que executasse o filho. Ela respondeu: "Você
que o fêz, você que o mate!" E Lampião, sem pestanejar, foi ao
berço, jogou o menino para o alto e espetou-o no punhal. Deu o punhal para a
gente lamber: "Vejam como é doce..." Ninguém aprovou isso, mas o
filho era dêle..."
Esta é a
história de "Beija-Flor". Um bandido que, aos setenta anos de idade,
ainda não conheceu o arrependimento pelos crimes bárbaros que cometeu. Duas
vêzes conseguiu fugir da cadeia. E sorri quando relembra o seu passado de
sangue e de maldades.
http://www.anchietagueiros.com/2016/02/cangaceiro-beija-flor-ganhou-15-contos.html
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