Por Medeiros Braga
“A técnica, a
arte, a ciência,
Todo invento velho ou novo,
As descobertas que o homem
Fez pra ver findar o estorvo,
Nenhum, em qualquer estado,
Deve ser utilizado
Em sacrifício do povo.”
Para representar o 1º de Maio nada melhor que a leitura dos mártires de
Chicago.
Todo ser
humano se enche de indignação diante de uma injustiça contra quem quer que
seja. E eu fiz a versão em cordel de uma dessas histórias: O Massacre de
Chicago que, inclusive, resultou na criação do 1º de Maio em todo mundo. É uma
história extraordinária, merece ser conhecida e externada pelo leitor.
Como se trata de um cordel de 160 estrofes, exponho abaixo os depoimentos de
oito bravos que, mesmo sabendo que seriam condenados à morte não se intimidaram
diante dos seus juízes, aliados tradicionais às classes dominantes.
Acompanhem com atenção esses depoimentos corajosos.
OS MÁRTIRES DE CHICAGO
Por Medeiros
Braga
Oito foram os condenados,
Desses oito, cinco à morte,
Mais dois à prisão perpétua
E já um que teve a sorte
De pegar de solidão
Quinze anos de prisão
Num presídio ali do norte.
Devemos, pois,
exaltar
Seja em prosa, seja em verso,
A grandeza desses homens
Cujo ideário diverso
E desmedidos carinhos,
Iluminaram os caminhos
Às gerações do universo.
Foram eles os
motivos
Duma internacional
E do PRIMEIRO DE MAIO
Como data mundial
Líderes da classe operária
Tinham por prioritária
Toda questão social.
Fez-se o 1º de
Maio
Em enorme fortaleza,
Tornou-se um dia de luta
Onde o mundo com firmeza
Dá o seu grito expressivo
contra o poder repressivo
De toda ordem burguesa.
Dos condenados
à morte
Pela falsa acusação,
Foi o primeiro a morrer
Por sua convicção,
Louis Lingg que na lida
Resolveu por fim à vida
Ali mesmo na prisão.
Louis Lingg
era alemão,
Vinte e dois anos de idade,
Carpinteiro, bem letrado
Nas lições de liberdade
Lutava com idealismo
Pra levar o socialismo
E seus sonhos de igualdade.
Instado em
sala de júri
Sem temer o julgamento,
Muito firme ante os juízes
Disse no depoimento:
“Eu desprezo vosso esquema,
Vossas leis, força e o sistema
Desigual e fraudulento”.
“Eu repito,
sou inimigo
Das leis e ordens atuais,
Com forças combaterei
As armas que empregais,
Desprezo as autoridades
E os que usam com maldades
As forças policiais.
Louis Lingg
era um dos cinco
Pelo júri condenado
Que morreu um dia antes
Do enforcamento marcado.
Não se sabe , no presídio,
Se cometeu suicídio
Ou se foi assassinado.
George Engel
outro alemão,
Tipógrafo e jornalista,
Cinquenta anos de idade,
Um militante anarquista
Que lutou de forma vária
Contra a prática sicária
Do sistema capitalista.
Diante dos
seus juízes
Começou ele a indagar:
“Por que razão me acusam
E estou nesse lugar?...
Certamente, é a mesma lida
Que moveu a minha ida
Da Alemanha para cá”.
“Pela pobreza
e miséria
Da classe trabalhadora
Eu deixei a minha terra,
Minha gente sofredora...
Esse júri é um joguete
Que faz parte do banquete
De uma elite exploradora.”
“Vi aqui seres
humanos
Tirar do lixo a comida,
Fazer lençol de jornal,
Ter na calçada a dormida...
Vi, também, aqui crescer
O desemprego pra ser
Do capital salva-vida.”
“No rico
Estados Unidos,
Um Canaã, um jardim,
Igualmente na Alemanha
Os homens vivem assim.
Numa prova inconteste
Que todo mal se reveste
No sistema que é ruim.”
“Em que
consiste meu crime?
Certamente, é por pensar
Que assim como é a água
Para todos desfrutar,
Também, deve ser o malho
Com os frutos do trabalho
Que pôde o homem criar.”
“A técnica, a
arte, a ciência,
Todo invento velho ou novo,
As descobertas que o homem
Fez pra ver findar o estorvo,
Nenhum, em qualquer estado,
Deve ser utilizado
Em sacrifício do povo.”
“Vossas leis
que se opõem
Às da própria natureza,
Utilizando-as roubais
Às massas com esperteza,
Privando a sociedade
No direito à liberdade,
À vida sobre a riqueza.”
Albert Parsons
foi outro
Condenado a execução,
Nascido no Alabama
Teve grande atuação
Também como militar
Quando pôde ele atuar
Na Guerra de Secessão.
Albert chegou
a ser
Candidato a presidente,
a classe trabalhadora
Queria fazer presente
Sua força, os ideais,
Nos problemas sociais
Com proposta diferente.
Divulgando o
anarquismo
Naquilo que prioriza,
Afirmava aos operários
De forma clara, precisa,
Que “governo é para escravo,
Pois, o povo livre, bravo,
Espontâneo se organiza”.
Declarada a
sua culpa
Estava no interior,
Mas, vendo os amigos presos
Voltou lá e se entregou...
Condenado, sem clemência,
Alegou sua inocência
Na bomba que disparou.
“Estava longe
daqui
E me julgando inocente.
Mas, mesmo assim eu achei
Que devia estar presente
Ao lado dos companheiros
pra falar dos embusteiros
Desse sistema indecente.”
“Quanto à
nossa execução...
Por acaso acreditais
Que ao jogar nossos corpos
Estareis livres?... jamais.
Por seu processo arbitrário
Seguirão os operários
Nos seus mesmos ideais.”
August Spies
mais um
Alemão e jornalista,
Trinta e um anos de idade
Um líder sindicalista,
Educava a sua classe
Para que ela abraçasse
A causa socialista.
Foi mais um
dos condenados
À pena do enforcamento,
Não deixou se abater
Pelo falso julgamento.
Mesmo ante o pano roto
Sabia que mesmo morto
Cresceria o movimento.
Tão firme e de
viva voz
Falou à corte alimária,
O veredicto é um crime
Que fere a classe operária.
Mas, ferida no presente
Vai ressurgir lá na frente
Bem mais revolucionária.
Próximo e por
todos lados
“Vós estais sobre um vulcão
Serão as leis abatidas
Das lavas que fluirão,
É o fogo subterrâneo
Que vai surgir espontâneo,
Fazendo revolução.”
“Destruir
agitadores?...
Aniquilai os patrões,
Eles são os criadores
De todas insurreições
Pelas fortunas guardadas
E luxúrias esbanjadas
No conforto das mansões.”
“A técnica, a
arte, a ciência,
Todo invento velho ou novo,
As descobertas que o homem
Fez pra ver findar o estorvo,
Nenhum, em qualquer estado,
Deve ser utilizado
Em sacrifício do povo.”
“Vossas leis
que se opõem
Às da própria natureza,
Utilizando-as roubais
Às massas com esperteza,
Privando a sociedade
No direito à liberdade,
À vida sobre a riqueza.
Por fim vem
Adolf Fischer,
Alemão, sindicalista,
Trinta anos, era mais um
Dos enforcados da lista...
No banquete dia a dia,
Imprescindível, escrevia
Numa revista anarquista.
Não direi
muito, falou,
“Tão-só o que tenho em vista,
O tempo pra dizer que,
Como audaz socialista,
Não estou sendo julgado
Por um crime maquinado,
Mas, por eu ser anarquista.”
“Estou sendo
condenado
Somente porque achais
Que me matando, talvez,
Nossa luta aniquilais...
Ledo engano, as plateias
São movidas por ideias
E são estas imortais.”
Dizia Adolf
Fischer
Sem segredo e sem temer
“O bom anarquista ama
Seus princípios, pra valer,
Sobrepõem à própria vida
E está sempre, à medida,
Preparado pra morrer.”
Pronunciada a
sentença,
Sem temer juiz ou lei,
Disse antes de morrer
“Com minha morte ajudarei
A causa dos oprimidos
Conforme o comprometido
Desde quando comecei.”
Debochando o
julgamento
Injusto e premeditado
Tratou a corte intocável
Com seu cenário montado
De “SALA DOS HOMICÍDIOS”
Onde as leis têm os ofídios
Da morte do condenado.
Finalmente,
conhecendo
Os seus nobres ideais
E o perigo que traziam
Esses líderes sindicais,
A burguesia assustada,
Com a justiça aliada
Executou seus rivais.
Foram os cinco
enterrados
Ante grande multidão,
Vinte e cinco mil pessoas
Vinham com flores à mão,
Lançaram-nas à sepultura
Para estimular, à altura,
A luta da redenção.
E daí
prossegue a grande história
A venda,
diretamente, com o Autor Medeiros Braga.
Cordel com 160 estrofes ao preço de R$ 5,00
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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