A arte
fotográfica, técnica de reproduzir as imagens pela refração da luz, teve em
Mossoró um grande adepto, que ao morrer em 10 de agosto de 1980, deixou como
legado um fabuloso acervo de importância histórica incalculável para Mossoró.
Manuelito Pereira dos Santos Magalhães Benigno foi um artista de capacidade
impar, que através de suas lentes projetou as imagens de Mossoró para o futuro,
retratando a paisagem do seu mundo. São pessoas, ruas, sobrados, igrejas e
acontecimentos sociais que envolveram a cidade num longo curso da crônica que
ele registrou nos negativos dos seus filmes e na contemporaneidade do tempo e
da vida. Nascido e criado no Ceará, onde também aprendeu a profissão, chegou a
Mossoró em 04 de outubro de 1933, numa quarta-feira de sol abrasador. Trabalhou
inicialmente no “Foto Escóssia”, que ficava na Praça Rodolfo Fernandes, e
pertencia a Augusto da Escóssia. Posteriormente Manuelito Pereira deixou a Foto
Escóssia passando para J. Octávio, outro estúdio famoso de Mossoró. Tempos
depois montou seu próprio atelier com o nome de “ O MANUELITO”, na Praça
Vigário Antônio Joaquim, onde se firmou como artista de largo conceito
profissional. Por quase cinqüenta anos retratou gente e coisas de Mossoró,
sendo de sua autoria a quase totalidade das fotos históricas de nossa cidade.
Todo o seu acervo fotográfico encontra-se no Museu Histórico “Lauro
da Escóssia”. Segundo as palavras do historiador Raimundo Nonato, “invulgar
atividade profissional a desse artífice provinciano que vale como
capítulo da história de uma cidade heróica, que tem sobrevivido pelas
iniciativas do seu povo, pelos feitos e pelo seu amor à liberdade, tantas vezes
comprovado em campanhas memoráveis e em dias de soberba glorificação”. Em sua
modesta sala de trabalho, soube compensar a falta de estrutura com seu imenso
talento. Com o passar do tempo foi adquirindo fama, renome e prestígio com a
instalação de um novo e moderno atelier fotográfico, onde atendia a todos com
extrema cordialidade, sempre franco, expansivo, fumando seu cigarrinho, rindo
manso por entre os dentes, batendo e revelando chapas dia e noite, e aos
poucos, amealhando as economias que lhe chegavam às mãos, como justo prêmio de
um trabalho incansável e honesto. Soube se impor como profissional, tornando-se
presença obrigatória nas festas sociais, nos prélios esportivos e
acontecimentos tumultuosos da política, que no dizer de Raimundo Nonato,
“sempre transforma a vida de Mossoró numa espécie de campo de batalha ou de
guerra fria, com seus profetas de rua, seus ídolos populares, suas figuras
carismáticas”. Registrou também figuras populares das ruas da cidade, tipos
inesquecíveis como Benício Gago e Manuel Cacimbinho, cujas biografias foram
publicadas recentemente pelo professor Raimundo Soares de Brito em sua mais
recente obra “Eu, egos e os outros. Desses, Manuelito trabalhou as imagens
dando formas pictóricas admiráveis, em belos quadros que poderiam figurar em
qualquer museu do país. Demais acontecimentos de relevo como foi o Congresso
Eucarístico de Mossoró, ocorrido entre os dias 12 e 26 de agosto de 1943, com a
presença do Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Jaime de Barros Câmara, tiveram
todos os seus atos fotografados por esse grande artista nordestino. Pela
importância do seu trabalho para a cultura mossoroense, merecia esse grande
artista um museu próprio para a sua obra, ou sala individual no Museu da
cidade, onde se pudesse expor o que ainda resta de equipamentos e imagens. Como
curiosidade poderiam ser mostrados os negativos em lâminas de vidro, técnica
muito usada na época, que ainda se encontram em perfeito estado de conservação.
Pelos fatos expostos é possível concluir que Manuelito Pereira dos Santos
Magalhães Benigno deixou em Mossoró uma herança de trabalho que muito engrandece
a cidade, pois é através de sua obras que o nosso passado é revisitado,
evitando assim que a poeira do tempo cubra para sempre os nossos feitos e
glórias.
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