Por Junior
Almeida
Desde os
tempos remotos da humanidade existem pessoas que se dedicam em contar a
história dos povos. Relatos de mudanças de costumes das sociedades, guerras,
revoluções, de grandes líderes políticos, profetas, santos, imperadores, reis,
presidentes, generais...
Os gregos
foram os primeiros a organizar a história, sendo Herótodo (485-420 a.C.)
considerado o “Pai da História. Herótodo após viajar pelo mundo antigo e depois
publicar uma coletânea de nove livros denominados "Histórias", entre
430 e 424 a.C., que dentre outros temas tratava sobre as guerras entre gregos e
persas, foi chamado assim pelo romano Cícero, título que perdura até os dias
atuais.
*Foto
do blog Cangaço na Bahia, colorizada por Rubens Antonio.
Muito tempo
depois, mais de dois milênios, já descoberto o “Novo Mundo” e com várias
invenções modernas servindo à humanidade, o pensador francês Auguste Comte
(1798-1857) quis organizar o estudo da História, criando a corrente filosófica
denominada “Positivismo”, que tinha objetivo de reorganizar o conhecimento
humano, idéias essas que tiveram grande influência no Brasil. Os positivistas
achavam que a história devia ser contada exatamente como os documentos diziam
ter acontecido, sem margens para que pesquisadores fizessem interpretações de
fontes ou mesmo do contexto histórico vivido pela sociedade da época do fato
narrado.
Um dos pontos
negativos da Escola Positivista, pensada por Comte, eram os tipos de fontes
histórias aceitas pelos pesquisadores, que se limitava a documentos escritos, e
mesmo assim que fossem oficiais. Pelo pensamento dos positivistas, eram história
apenas os potentados monarcas, presidentes, dentre outros, desprezando-se
assim, por exemplo, a história de um determinado soldado, que durante uma
guerra foi o responsável pelo êxito de uma missão, ficando a glória da
conquista e o nome na história do general comandante da tropa que ele fazia
parte.
Só como
exemplo, vamos raciocinar um pouco: No descobrimento do Brasil, quem será que
primeiro avistou as “Terras de Santa Cruz”, aquele marujo que ficava no cesto
de observação no mastro do navio, ou Cabral, que contam os livros que gritou
“terra à vista”, e é, segundo a história oficial, o descobridor do nosso país?
Alguém já ouviu falar na história desse marinheiro? Certamente que não, pois
pelos positivistas, é como se ele nunca tivesse existido.
Um pouco mais
tarde, no final da década de 1920, alguns pensadores resolveram se rebelar
contra essa corrente de pensamento, e passaram a aceitar diversos tipos de
fontes históricas, como filmes, fotografias, depoimentos orais, canções,
pinturas, jornais, esculturas, e tudo que pudesse fazer entender o que tinha
acontecido no passado, foi a chamada “Revolução Documental”, e o movimento
ficou sendo chamado de “Escola dos Annales”. Os fundadores dessa corrente de
estudo, Lucien Febvre e Marc Bloch, representam a primeira geração dos Annales,
que foi de 1929 a 1945, sendo Fernand Braudel o principal nome da segunda
geração, de 1945 a 1968. A terceira geração a partir de 1968 até os dias
atuais, não teve um nome que se destacasse, pois o estudo da História foi “pulverizado”,
fazendo com que historiadores se dedicassem a temas que mais se identificassem
ou que tivessem um maior domínio. Surgiu assim a “Micro História”, termo criado
pelos italianos Carlo Ginzburg e Giovanni Levi.
Com a
liberdade de poder narrar os fatos de uma rua, de uma marca de perfume, de um
carro, de um simples soldado em batalha, das mulheres, de um sindicato, por
exemplo, o historiador passou a contar fatos menores sem deixar de contar
história como ciência. Nesse contexto, a história pode ser entendida como uma
espécie de redemoinho, onde se pode ir da menor a maior ou vice versa. A
História do Brasil, tomando como exemplo, pode ser subdividida pela História do
Nordeste, que por sua vez também pode ser fragmentada, sendo um desses
fragmentos a saga do fenômeno cangaço, que como não poderia deixar de ser, é
formada por pequenas histórias de coiteiros, cabras, volantes, vítimas e claro:
cangaceiros.
Escritores
pioneiros como Xavier de Oliveira, Érico Almeida, Ranulfo Prata, Rodrigues de
Carvalho, ou outros mais novos no tempo, mas com um bom tempo de estrada como o
paulista Antônio Amaury, o americano Billy Jaynes Chandler, os volantes João
Gomes de Lira e Optato Gueiros, Rui Facó, Oleone Coelho Fontes, Alcino Alves
Costa, Mariloudes Ferraz, Luiz Ruben F. A. Bonfim, Frederico Pernambucano de
Mello, até os mais recentes como Marcos De Carmelita Carmelita, Cristiano
Ferraz, Cicinato Ferreira, Louro Teles, Geraldo Ferraz e João de Souza Lima,
dentre vários, todos eles contaram e alguns continuam contando suas micro
histórias, que fazem parte do todo, que é a história do cangaço, que por sua
vez é a história do Nordeste e do Brasil.
Em tempos
modernos de internet, além dos livros, os blogs e as redes sociais são
incríveis ferramentas de informação e interação dos aficionados pelo tema
cangaço. Blogs especializados no assunto como Cariri Cangaço, de Manoel Severo
Barbosa, Lampião Aceso, de Kiko Monteiro, Blog do Mendes, de José Mendes
Pereira, Tok de História, de Rostand Medeiros, Caiçara dos Rios dos Ventos, de
Raul Meneleu Mascarenhas, João De Sousa Lima, do homônimo, dentre outros, são
acessados diariamente por centenas de pessoas que buscam novidades editoriais e
eventos do tema.
Na rede social
mais importante do mundo, o Facebook, grupos como “Ofício das Espingardas”, do
sertanejo Sálvio Siqueira, “Lampião, Cangaço e Nordeste”, administrado por
Voltaseca Volta, perfil que tem o nome do “cangaceiro menino”, e foi criado por
algum pesquisador que quis se manter oculto, “Historiografia do Cangaço”, da
professora piauiense Noádia Costa e Geziel Moura, o grupo “Cangaceiros”, de
Pedro R. Melo e “O Cangaço”, de Geraldo Júnior, têm milhares de membros, que
diariamente trocam informações sobre cangaço, coronelismo, messianismo e tudo
que se relaciona com o Nordeste. Essas pessoas, de várias partes do país, e até
de fora do Brasil, contam suas micro histórias, que somadas como se fossem
tijolos, formam a parede da história, que por sua vez é parte de uma construção
maior que é a História.
*Foto do blog
Cangaço na Bahia, colorizada por Rubens Antonio.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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