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quinta-feira, 17 de maio de 2018

EPISÓDIOS DA VIDA DE LAMPIÃO UM SIMPLES HOMEM DO CAMPO - PARTE 2

Por Ruy Lima pesquisador do cangaço
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2018/05/episodios-da-vida-de-lampiao-um-simples.html

Para mim, essa é a parte mais complicada e cheia de mistérios da vida de Virgulino. É assunto para preencher mais de cinquenta páginas de um livro. 

Por que Virgulino tornou-se o cangaceiro Lampião? 

Há várias e diferentes e até contraditórias respostas sobre essa pergunta. 

A rixa entre a família Ferreira, de Lampião e a Família Alves de Barros, de José Saturnino, seu vizinho, parece ser a mais plausível, embora José Saturnino jurou até a morte (5 de agosto de 1980) que não foi isso que levou Virgulino ao cangaço. 


Os pais de José Saturnino, Saturnino Alves de Barros e Alexandria Gomes de Moura, eram muitos amigos dos Ferreiras. Eles foram padrinhos de batismo de Antônio Ferreira, irmão mais velho de Virgulino e testemunhas do casamento dos seus pais. Os filhos de ambas as famílias foram criados brincando juntos, participavam das festas, das caçadas, numa grande amizade. 

José Saturnino, mais conhecido como Zé Saturnino, nasceu em 15 de maio de 1894. Seu nome de batismo era José Alves da Fonseca Barros. 

É muito comum, principalmente no Interior, os filhos adotarem o nome do pai ou até mesmo da mãe como sobrenome. O meu avó chamava-se Alexandre Alves de Lima. Seus filhos homens foram batizados com o sobrenome de “Alexandre de Lima”, como o meu pai, Severino Alexandre de Lima. No meu caso foi diferente, ou seja, como atualmente ocorre: Ruy Araújo Lima, sendo Araújo da minha mãe e Lima do meu pai. Assim, no estudo da minha humilde genealogia, busca-se o sobrenome “Lima” ou “Alves de Lima”, do meu avô paterno. É certo que meu avô não tem nada a ver com essa história. A citação do nome dele foi só um exemplo de como os sertanejos registravam o nome dos filhos. Por outro lado, até que o “pai Alexandre”, como a gente o chamava, tem um pouco de sua história ligada ao cangaço. 

Quando Lampião era o terror do sertão pernambucano, o meu avô, com receio de que os seus seis filhos homens (incluindo o meu pai, nascido em 1917) fossem Parte 2 O Começo de Tudo mortos pelos cangaceiros ou inseridos no bando do “Rei do Cangaço”, deixou a sua terra sertaneja e foi morar com a família em Belo Jardim, cidade do Agreste Pernambucano, distante 230 Km de Serra Talhada. 

José Saturnino tinha então 20 anos de idade e Virgulino apenas 16, quando teve início a refrega entre as famílias, no início do ano de 1914, quando José Saturnino quebrou um acerto entre eles, na pega de uma novilha indomada. Depois desse episódio, vários outros se sucederam que foram narrados no livro “Pegadas de Um Sertanejo, Vida e Memórias de José Saturnino” de Antônio Neto e José Alves Sobrinho. 

Segundo os mais importantes pesquisadores e historiadores do cangaço, o que teria provocado a entrada de Virgulino e seus irmãos na luta armada, na ilegalidade e depois no cangaço, foram os roubos cometidos por um morador da fazenda de José Saturnino, por volta de 1915. Nessa época o velho Saturnino Alves de Barros estava vivo e mantinha ainda laços de amizade com a família Ferreira. Ele faleceu em 1919, com aproximadamente 63 anos de idade. 

Os Ferreiras começaram a estranhar o sumiço constante de bodes e cabras de sua propriedade. 

O tio materno de Virgulino, Manoel Lopes, fora nomeado Inspetor de quarteirão, cargo equivalente hoje ao comissário de polícia. Resolveu, acompanhado de Virgulino e dois cabras, fazer uma diligência à cata dos possíveis ladrões, apelidados de “onça de dois pés”. 

Após constantes e infrutíferas buscas pelas redondezas e atendendo a várias denúncias de outros também prejudicados, adentrou pela fazenda de Saturnino Alves de Barros, dando um cerco num grupo de casebres dos moradores de Zé Saturnino. 

Na casa onde morava Zé Caboclo, um dos braços direitos de Zé Saturnino, Virgulino notou que a terra, sob um enorme pilão de braúna, na cozinha, estava revolvida de fresca. Retirando as primeiras camadas de terra, encontrou grande quantidade de peles de bode enterradas, verificando pelo sinal das orelhas tratar-se de animais desaparecidos da sua fazenda e pertencentes a seu pai e a seu tio, o Manoel Lopes. 

“Manoel Lopes prendeu Zé Caboclo e o negro criminoso, chamado Tibúrcio, indigitados responsáveis, conduzindo-os sob escolta para a Ingazeira., onde os manteve detidos e amarrados no tronco por um ou dois dias, ao cabo que, a pedido de José Ferreira, os mandou embora, advertindo-os de que, no caso de fazerem por onde, de reincidência, tomaria medidas severas.” (Frederico Bezerra Maciel, “Lampião seu tempo e seu reinado”) 

José Saturnino ficou aborrecido com a prisão dos seus “homens de confiança” e, os quais foram tirados de dentro da sua propriedade, sem a sua autorização e, em represália, mandou cortar as orelhas das cabras, as caudas dos porcos, quebrar as pernas das galinhas e dos pintos dos Ferreiras. A partir daí, ocorreu uma sequência de emboscadas e tiroteios entre as duas famílias. Num desses confrontos, Antônio Ferreira, foi ferido por uma bala na altura do quadril. Nas entrevistas que dava aos interessados na história do cangaço, Zé Saturnino disse que foi nas nádegas. 

Antônio Ferreira foi “medicado” por Antônio Matilde, tio de Virgulino, por parte do pai, o qual tinha muita experiência no tratamento de ferimentos à bala. 

“Sabedor de que Antônio Matilde tinha cuidado do ferimento de Antônio Ferreira, Zé Saturnino denuncia o mesmo às autoridades de Vila Bela. As autoridades designam alguns soldados que acompanham Zé Saturnino e seus homens na busca para prenderem o tio de Virgulino. 

A equipe formada por cabras de Saturnino, o próprio e os soldados vão dá com Antônio Matildes na sede da sua fazenda Matuta. Lá chegando prendem o dono daquelas terras. Zé Saturnino, insatisfeito ainda desce a “lenha” em Antônio, monta em suas costas e o faz de montaria, usando as esporas. Após ser levado para Vila Bela, dentro da cadeia Antônio passa a levar uma surra por dia, durante uma semana. No final da semana de suplícios ele é “liberado” e profere a frase famosa: 

“Adeus Vila Bela! Até a hora do juízo final” 

Mesmo que os ferimentos na carne tivessem sarados, os internos, a honra e as humilhações, jamais saram, e Antônio Matilde se refugia nas terras da fazenda Cobra, nas Alagoas, sob a proteção do coronel Ulisses Luna” (Sálvio Siqueira – Blog do Mendes) 

Ruy Lima

21/04/18 Próxima postagem: Parte 3 – A entrada de Lampião no bando de Sinhô Pereira

Enviado pelo autor Ruy Lima que é pesquisador do cangaço e outros temas. 

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