Cícero Romão Batista (Crato, 24 de
março de 1844 — Juazeiro
do Norte, 20 de julho de 1934) foi um sacerdote católico brasileiro. Na
devoção popular, é conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço.[1] Carismático,
obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará bem
como do Nordeste.
Em março de 2001, foi escolhido
"O Cearense do Século" em votação promovida pela TV
Verdes Mares em parceria com a Rede Globo
de televisão.[2]
Em julho de 2012, foi eleito um
dos "100 maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso
realizado pelo SBT com a BBC.[3]
Biografia[editar | editar código-fonte]
Proprietário
de terras, de gado e de diversos imóveis, Cícero fazia parte da sociedade e política conservadora
do sertão do Cariri. Sempre teve o médico Floro
Bartolomeu como o seu braço direito, e integrava o sistema político
cearense que ficou sob o controle da família Accioli durante mais de 2 décadas.
Nascido no
interior do Ceará, por parte paterna possuía predominante ascendência
portuguesa. Seu pai, Joaquim Romão Batista, era filho de Romão José Batista e
Angélica Romana Batista. Seus avós paternos foram Francisca Pereira de Oliveira
e o português Antonio José Batista e Melo, além de ser bisneto por parte de
Francisca do português José Pereira Lima Aço.[4] Sua
mãe foi Joaquina Ferreira Gastão, que depois mudou seu nome para Joaquina
Vicência Romana, sendo conhecida como dona Quinô. Era filha do baiano José
Ferreira Gastão e neta de Manoel Ferreira Gastão e Antônia Maria de Sousa,
ambos baianos que emigraram para o Crato.[5] Ainda
aos 6 anos, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma.
Um fato
importante marcou a sua infância: o voto de castidade feito aos 12 anos,
influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.[6]
Em 1860, foi matriculado
no colégio do renomado padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras,
na Paraíba.
Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera em 1862, obrigou-o a
interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras. A
morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérias dificuldades
financeiras à família de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero
Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha, em Fortaleza,
só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luís Alves
Pequeno.[6]
Ordenação[editar | editar código-fonte]
Durante o
período em que esteve no seminário, Cícero era considerado um aluno mediano e,
apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas
baixas nas disciplinas relacionadas à oratória e eloquência.[7]
Cícero foi
ordenado padre no dia 30
de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato e, enquanto o bispo
não lhe dava paróquia para administrar, ficou a ensinar latimno Colégio
Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo professor José Joaquim Teles Marrocos, seu primo
e grande amigo.
Chegada a
Tabuleiro Grande[editar | editar código-fonte]
No natal
de 1871,
convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, o padre Cícero visitou pela
primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de
Juazeiro, então pertencente à cidade do Crato), e ali celebrou a
tradicional missa do galo.
O padre
visitante, então aos 28 anos, estatura baixa, pele branca, cabelos louros,
penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E
a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no
dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar
residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros
afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho
(ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia
exaustivo, após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial, ele
procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde
improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu
destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus
Cristo e os doze
apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a última Ceia, de Leonardo
da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando
seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantesnordestinos.
Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade,
mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o
mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo
de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se
inesperadamente ordenou: - E você, Padre Cícero, tome conta deles!
Apostolado[editar | editar código-fonte]
Uma vez
instalado, foras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga,
formada por beatas, sob sua inteira autoridade.
o aglomerado de casas de
taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão-padre
Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do
lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo
várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.
Depois, tocado
pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus,
desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas
domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente
ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na
comunidade.
Paralelamente,
agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população,
acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e com a prostituição.
Restaurada a
harmonia, o povoado experimentou, então, os passos de crescimento, atraindo
gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo capelão.
Para
auxiliá-lo no trabalho pastoral, o padre Cícero resolveu, a exemplo do que
fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino que
morreu em 1883,
recrutar mulheres solteiras, dentre eles pode-se destacar José Lourenço Gomes da Silva, líder
do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.
Suposto
milagre[editar | editar código-fonte]
Estátua do
Padre Cícero na Serra do Quincuncá em Farias
Brito
Durante a
grande seca, no ano de 1889, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero,
a hóstia ministrada
pelo sacerdote à religiosa Maria de Araújo se transformou em sangue na
boca da religiosa.[2] Segundo
relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos.
Rapidamente espalhou-se a notícia de que acontecera um milagre em Juazeiro. A
pedido de padre Cícero a diocese formou uma comissão de padres e profissionais
da área da saúde para investigar o suposto milagre. A comissão tinha como
presidente o padre Clycério da Costa e como secretário o padre Francisco
Ferreira Antero, contava, ainda, com a participação dos médicos Marcos
Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima, além do farmacêutico Joaquim
Secundo Chaves. Em 13 de outubro de 1891, a comissão encerrou as pesquisas e
chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os fatos ocorridos,
sendo portanto um milagre.[carece de fontes]
Insatisfeito
com o parecer da comissão, o bispo Dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova
comissão para investigar o caso, tendo como presidente o padre Alexandrino de
Alencar e como secretário o padre Manoel Cândido. A segunda comissão concluiu
que não houve milagre, mas sim um embuste. Dom
Joaquim se posicionou favorável ao segundo parecer e, com base nele, suspendeu
as ordens sacerdotais de padre Cícero e determinou que Maria de Araújo, que viria a morrer em 1914, fosse
enclausurada.[carece de fontes]
Em 1898, padre
Cícero foi a Roma,
onde se reuniu com o Papa
Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Ofício, conseguindo
sua absolvição. No entanto, ao retornar a Juazeiro, a decisão do Vaticano foi
revista e padre Cícero teria sido excomungado, porém, estudos realizados
décadas depois pelo bispo Dom Fernando Panico sugerem que a excomunhão não
chegou a ser aplicada de fato. O próprio papa
Bento XVI, quando era cardeal, encomendou no ano de 2001 estudos análises
para debater no Vaticano a possibilidade de ser feita a reabilitação.[8]
No dia 31 de
maio de 2006, Dom Fernando conduziu uma comitiva de religiosos, políticos e
fiéis, e também enviou ao Vaticano a documentação técnica para a abertura do
processo de reabilitação do padre Cícero.[8] Em
13 de dezembro de 2015, Padre Cícero recebeu perdão da Igreja Católica. [9]
Política[editar | editar código-fonte]
Era filiado ao
extinto Partido Republicano Conservador (PRC).
Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado
foi elevado a cidade.
Em 1926 foi
eleito deputado federal, porém não chegou a assumir o
cargo.[1]
Em 4 de
outubro de 1911,
o padre Cícero e outros 16 líderes políticos da região se reuniram em Juazeiro
e firmaram um acordo de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o
governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. O
encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis, sendo
apontado como uma importante passagem na história do coronelismo brasileiro[10]
Em 1913, foi destituído
do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo, voltando ao poder
em 1914,
quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro. Foi eleito, ainda,
vice-governador do Ceará, no Governo do General Benjamin Liberato Barroso.
Ao fim
dos anos 20, o padre Cícero
começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro,
porém, aumentaria cada vez mais.[11]
Apesar de
algumas tentativas de o relacionar com o comunismo e,
mais tarde, com a Teologia da Libertação, o padre Cícero era
profundamente anticomunista. Numa entrevista concedida em 1931, afirmou:
"O comunismo foi fundado pelo Demônio. Lucífer é o seu nome e a
disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o
comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus
contra o Criador e seus filhos."[12]
Ligação com o
cangaço[editar | editar código-fonte]
Virgulino Ferreira da Silva o Lampião era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se
encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926. Naquele ano,
a Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do
Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os
chamados Batalhões Patrióticos, comandados por líderes regionais que
muitas vezes arregimentavam cangaceiros.
Existem duas
versões para o encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o
sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de
Juazeiro, recebendo em troca, anistia de seus crimes e a patente de Capitão.[13] Na
outra versão, defendida por Lira Neto e
Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que
padre Cícero soubesse.
O certo é que
ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam,
ouviram padre Cícero aconselhá-los a abandonar o cangaço. Como Lampião exigia
receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único
funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que
Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus
crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna
Prestes.
Morte[editar | editar código-fonte]
O padre Cícero
morreu em Juazeiro do Norte em 20 de
julho de 1934,
aos 90 anos, encontrando-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, na mesma cidade.
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