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quarta-feira, 1 de abril de 2020

SERÁ QUE OS MODOS DA MARIA NÃO JÁ ERAM VISTOS COMO PROVÁVEL LIBERTINAGEM PARA AJUDÁ-LA DESVENCILHAR-SE DO MARIDO?


Por Verluce Ferraz Ferraz

Seria uma coincidência, mas, mesmo assim, podemos analisar no plano da estrutura que a Maria não era tão igual as demais mulheres de sociedade familiar e parental. Era algo inédito e isolado, o fato da mesma separar-se do marido,com uma simples explicação que o Zé de Neném, seu esposo, gostava de deixá-la em casa e ir vadiar nos forrós; ambos fingiam e fugiam aos deveres impostos pelo matrimônio. Ele jamais se mostrou marido amoroso, tampouco ela.


Tomarei por base três livros de escritores renomados para comparação e prosseguir com os meus estudos. Não me distanciarei até que apareça outra razão para conseguir meu intento: descobrir se houve alguma passagem para separar o fruto de dentro da casca; ou se mudou por efeito de algum caso incidente. Maria de Déia, esposa de Zé de Neném; Maria, do Capitão; Maria, de Virgulino; Maria, de Lampião. Afinal, todo um grupo de estudiosos tentam compreender os comportamentos de cangaceiras, e encontrar um método que aproxime da verdade. O caso já fez com que muitos empreendessem longas caminhadas, longas viagens, para entenderem o que se passava na cabeça e pensamentos da Maria. Teria jogado seu lado feminino ou percebido o que entendemos hoje por desejos iridescentes no cangaceiro Virgulino? Não nos antecipemos. Antônio Amaury Corrêa de Araújo, escritor paulista que dedicou a maior parte de seu tempo a literatura cangaceira, em sua obra ‘Lampião, As Mulheres e o Cangaço’, foi lá em Tróia, no Egito, na Grécia, na Germânia, América e Brasil, lembrando vários nomes de mulheres que uniram-se aqueles que participaram de guerras, movimentos místicos, combates, auxiliando e vivendo dramas e tragédias, até chegar nas mulheres cangaceiras que se tornaram errantes nos Sertões do Nordeste brasileiro. Descreve até algumas que, elas mesmas, foram causadoras ou pacificadoras de guerras. Algumas crianças, meninas e moças, encontradas de clavinote em punho em meio das refregas, fuzilando ou fugindo em meio às balas. Outro escritor, João de Souza Lima, em seu livro ‘A trajetória guerreira de Maria Bonita, a rainha do cangaço’, fala na frequência de Virgulino no Sítio do Torá, residência do Senhor Antônio Felipe Oliveira, coiteiro de Virgulino, tio de Maria de Déia. Na época a Maria vivia se separando do marido, e sempre escolhia os conselhos e a companhia da prima Maria Rodrigues, para a seguir. A jornalista e escritora Adriana Negreiros, autora do livro Maria Bonita, sexo, violência e mulheres no cangaço, escreve ‘A impetuosidade de Maria de Déa dava margem a comentários maliciosos nos arredores de Malhada de Caiçara. Dizia-se à boca miúda que, embora indignada com as puladas de cerca de Zé de Neném, Maria não era a mais devotada das esposas. Segundo um dos boatos que corriam em Santa Brígida, na ausência de uma atuação mais vigorosa de Zé de Neném, cabia ao comerciante João Maria de Carvalho a tarefa de tentar apagar o fogo da mulher.’. Se assim o dizem, acabamos de desacreditar numa vulgar história de amor entre a Maria de Déia e Virgulino, o Lampião. Em três obras de renome, tentamos encontrar aproximações para incluir no meu trabalho arqueológico (Psicologia do Cangaço) que busca o momento ideal que aproximou a Maria do Virgulino; ou a Maria do Capitão; Maria Bonita, de Lampião. Estariam ambos, ociosos na caminhada, na busca de uma parceria para os complementar em suas necessidades libidinais? As características amorosas se diluíam nos tempos, até chegarem à descoberta de um pano bordado que tanto atraíam Virgulino. Ele pergunta para a mulher Maria, se ela sabe bordar; a mesma confirma que sim; aceitando os desenhos e agradando o cangaceiro. Provável ressurgem daí a mais plena satisfação de Virgulino que, tinha na mente a irisdescência de seu estilo exótico. Maria jogou o laço de seus bordados, conseguindo excelentes resultados. Na época, difícil se compreender o propósito de Lampião permitir o ingresso de uma mulher em seus grupos; as mulheres eram excluídas pelos tabus que Virgulino levara para dentro do cangaço, ao repetir que mulher amolecia homem; que mulher deixava-os feito melancia onde faca entra fácil.

No estudo levei em consideração os bordados da Maria de Déia, ou Maria do Capitão; ou Maria Bonita e Lampião - neles encontrei o penhor e razão de um retorno ao inconsciente de ambos - fetiches e inversão, razões ocultas da aproximação de: Virgulino, o Lampião com Maria de Déia, ou Maria Bonita.


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