Por José
Mendes Pereira
Não existe na
terra um vivente mais perverso do que o bicho homem. Os animais matam os outros
animais para se alimentarem porque a natureza os fez carnívoros. Já o bicho
homem mata por pura perversidade.
Na floresta o
homem corta as árvores. Na fauna ele mata os animais e pássaros. Nos rios e
açudes ele mata os peixes. No mar ele mata as baleias com arpões como troféus.
Mata os golfinhos, os botos rosas como se ele servissem para simpatias. Mata os
peixes-bois, e para completar, polui o mar com óleo e petróleo, que estes
líquidos deveriam estar lá em baixo do solo, nos seus devidos lugares de
origem.
Não o prenda! Deixa eles em liberdade.
Quando eu
ainda tinha 12 anos de idade e sempre que saía de casa para alguns afazeres da
pequena propriedade do meu pai levava comigo uma baladeira (estilingue que para
os mossoroenses ela é mais conhecida como baladeira), um embornal e uma porção
de pedras miúdas, para ver se eu matava algumas rolinhas ou até mesmo preás,
mortes que meus irmãos e eu fazíamos escondidos do nosso pai, porque ele não
queria de forma alguma que nós matássemos os pássaros e preás, aliás, nenhum
animal. Mas nós o desobedecia sem ele saber, teimosos e malvados, assim como
são quase todas as crianças do mundo, principalmente os meninos, que quando
estão armados com estilingues não resistem ver pássaros ou animais de pequenos
portes em sua frente, e a partir dali, começam a perseguição até matá-los.
Não os prendam!
Nesse dia, eu
parei de guerrear, isto é, de matar qualquer tipo de vivente, só porque o que
eu fiz com um saguí (soinho) me deixou com a mente frustrada, arreada e me
sentindo culpado, caso aquele pobre animal morresse.
A minha
intenção era apenas feri-lo e assim que ele caísse no chão eu iria capturá-lo
para criá-lo acorrentado, mesmo escondido do meu pai, lá na casa do meu avô que
era ao lado.
Assim que
entrei no mato vi um grupo de saguí e no meio de alguns velhos e filhotes eu
mirei um velho, e de pressa atirei sem puxar muito as ligas da baladeira,
derrubando o pobrezinho que nenhum mal tinha me feito.
Veja o desejo que ele tem de ganhar a liberdade.
A maior dor
que eu sentir talvez maior do que a dor do soinho foi quando ele caiu no chão e
os seus familiares ficaram alvoroçados pulando de galhos para galhos, com uma
alarida baixinha, mas muito triste, como se toda família estivesse chorando. E
quando eu vi o soinho atingido pela pedra, passando a sua minúscula mãozinha
sobre o local que a pedra havia pegado, bem ao lado das costelas, e a levava à
altura dos seus olhinhos redondinhos e pequeninos e ficava olhando, como se
estivesse querendo ver se estava sangrando muito, e eu vendo esta cena triste
minha mente arreou de vez, e ali, junto com eles eu chorei e chorei muito. O
soinho repetiu várias vezes esta cena triste, sentadinho no chão. Aquilo me
doeu tanto, tanto que a partir dali eu não mais queria de forma alguma um
animalzinho em minha casa preso por uma corrente.
Os outros
tentavam descer dos galhos para socorrê-lo, mas temiam, porque o perverso (eu)
ainda estava ali. Após vê-lo passando a mãozinha na possível enfermidade nem
tentei mais capturá-lo, e o que eu queria por último, era vê-lo subir nos
galhos da árvore e que fosse embora viver a sua vida.
Pai, mãe e filho
Eu permaneci
ali, esperando que ele se recuperasse da pedrada e na árvore subisse. Com
alguns minutos depois ele foi se equilibrando, recuperando-se, e em seguida,
com muita dificuldade, subiu na árvore, e num ganchinho ele se amparou, e por
sentir dores, ficou lá caladinho e bem quetinho.
Que
perversidade minha! Um animalzinho minúsculo que nem serve para alimentar
ninguém, apenas para qualquer um de nós seres humanos admirá-lo. Meu Deus!
Ainda hoje quando me lembro desta cena triste sinto como se estivesse
acontecendo agora, e que eu deveria pagar pela tamanha perversidade que fiz
contra o animalzinho.
Estes estão presos. Que malvadeza!
Não me lembro
mais quantos deles faziam parte da sua família, mas no dia seguinte eu sair de
casa bem cedinho e um pouco distante do lugar do dia anterior, vi toda
família. Todos estavam ali, não faltava ninguém. Ele tinha se recuperado.
Se você pensar
bem jamais matará um animal por perversidade. Deixa ele viver assim como nós,
feliz no meio da sua família. Que tristeza um animal sente quando uma ovelhinha
da sua família morre ou perde para mãos perversa só na intenção de criá-lo acorrentado!
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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