por *José Edilson Albuquerque Guimarães Segundo
Berço de intelectuais, a Família Wanderley, surgiu a partir de Gaspar van der Ley. Gaspar van der Ley foi Capitão de Cavalaria das tropas holandesas ligadas ao Conde Maurício de Nassau que participaram da invasão ao estado de Pernambuco.
Com atividade cultural fecunda nas mais diversas áreas, com destaque para a poesia a Família Wanderley teve no açuense Luiz Carlos Lins Wanderley (1831-1890), o primeiro norte-rio-grandense a se formar em Medicina e possivelmente o pioneirismo literário. Poeta, contista, teatrólogo, romancista e político, Luiz Carlos se casou duas vezes: com Francisca Carolina Wanderley em 25 de julho de 1858 teve os filhos poetas Celestino, Ezequiel e Maria Carolina Wanderley (Sinhazinha Wanderley). Do segundo consórcio, com Maria Amélia Wanderley, em 25 de julho de 1877 teve outros filhos poetas, Sandoval e Segundo Wanderley.
Os netos de Luiz Carlos também se destacaram na poesia, como no caso de Palmyra e Jayme Wanderley, filhos de Celestino Wanderley. Outros parentes como Rômulo Wanderley e Berilo Wanderley se destacaram na poesia e em outras áreas culturais. Mais um deles, merece uma atenção especial. Embora não sendo poeta escreveu: obras com rico conteúdo poético, biografias detalhadas de seus parentes e amigos, além de juntar em todos os seus trabalhos publicados, pesquisas genealógicas resumidas e completas sobre a sua família. Refiro-me a Walter Wanderley.
Walter Wanderley, o filho primogênito de Joca e dona Guiomar.
João Wanderley de Albuquerque, o Joca nasceu em Mossoró, a 09 de outubro de 1887, filho de Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque e Francisca Adelaide Lins Wanderley. Aos 16 anos deixou sua cidade natal para residir em Macau, onde se fixou em definitivo estabelecendo-se inicialmente como empregado do seu tio materno Velhinho Wanderley. Em seguida, passa a trabalhar como funcionário público estadual e, posteriormente foi tesoureiro–geral da Prefeitura Municipal, em cujo cargo foi aposentado. Depois de aposentado residiu em Natal e dali transferiu-se para o Rio de Janeiro, até o seu falecimento, em 09 de novembro de 1964.
Joca contraiu núpcias com Arminda Guiomar da Fonseca e Silva, nascida em Natal a 15 de janeiro de 1897 e falecida 23 de julho de 1968, no Rio de Janeiro e filha do Major José Augusto da Fonseca e Silva e de Elvira Teixeira de Moura da Fonseca e Silva. Deste enlace matrimonial, nasceram os filhos (todos macauenses): Walter Fonseca Wanderley de Albuquerque, Wilson Fonseca Wanderley de Albuquerque, Wharton Fonseca Wanderley de Albuquerque, William e Wanda Wanderley.
Walter Wanderley nasceu em 26 de setembro de 1914. Seus primeiros estudos foram realizados em sua cidade natal. Em 10 de maio de 1922 chega à Mossoró passando a estudar no Grupo Escolar 30 de Setembro até 1926. Uma recordação marcante para ele foi que no ano de sua chegada a Mossoró teve a grata satisfação de ter sido aluno de Alzira Gonçalves neta do saudoso poeta baiano Castro Alves. No ano seguinte retorna a Macau para estudar no Grupo Escolar Duque de Caxias. De 1928 a 1930 vai morar em Natal para estudar no Colégio Pedro II.
No final de 1930 vai morar em Campina Grande-PB. Um ano depois, passa a residir em João Pessoa-PB, onde fez o curso de contabilidade. Durante esse período, conseguiu integrar o movimento cultural paraibano com Lauro Gomes, na Revista Menina, Doutor Antonio de Menezes, Durval Albuquerque, Leonel Coelho, Lauro Wanderley, seu primo e Carlos Firmo de Sousa (Carlito), casado com sua tia paterna Maria das Dores Wanderley de Sousa (Dorinha).
No final de 1933, regressou a Mossoró e foi comerciário nas empresas de João Ferreira Leite e Manuel Fernandes de Negreiros. Na cidade também se envolveu com o futebol. Foi elemento de vanguarda no Esporte Clube Mossoroense, sendo um dos fundadores em 1934.
Walter Wanderley casou, em 12 de dezembro de 1935, com a prima Zilda dos Santos Wanderley natural de Mossoró filha de Irineu Wanderley dos Santos e de Apolônia Mascarenhas dos Santos. Dessa união, teve os filhos (todos mossoroenses): Maria Rejane Wanderley, Carlos Renan Wanderley e Maria da Conceição.
Ocupou diversos cargos. Em Mossoró foi: secretário geral do Centro Municipal de Mossoró; diretor da Casa de Menores; secretário da Associação Comercial; secretário geral do Esporte Clube Mossoroense; secretário da Associação Mossoroense de Desportos Atléticos; Adjunto de Promotor Público de Mossoró; corretor oficial de algodão; membro da Liga de Defesa Nacional de Mossoró e membro da Defesa Passiva Antiaérea da Segunda Grande Guerra.
Foi ainda diretor da Cooperativa dos Salineiros Norte-Rio-Grandenses, auxiliando o diretor presidente, Vicente da Mota Neto, mossoroense de largo conceito. Nessa função, ingressou na política. Atendeu o convite de Mota Neto, sobrinho do Padre Mota, outro dileto amigo de Walter Wanderley.
Foi deputado estadual pelo PSD, na legislatura de 1947 a 1951 exercendo a segunda secretaria da mesa diretora. Na eleição seguinte, não logra êxito. Por essa razão, decide novamente mudar de ares. Recebe honroso convite de um tio industrial para residir na então capital federal (Rio de Janeiro) e não pensa duas vezes. Aceita e se adapta rapidamente a vida da cidade.
Em 1953, no Rio de Janeiro, fez cursos de Economia, Relações Públicas e Técnica de Chefia, que lhe credenciaram aos exercícios das funções de empresários de várias e importantes firmas daquele meio.
Mesmo residindo fora de Mossoró (Natal, Rio de Janeiro e depois Belo Horizonte), nunca se afastou da cidade adotiva que tanto amou. Visitava Mossoró, com frequência. Fazia-se sempre presente aos festejos do dia 30 de setembro. Data que o sensibilizava profundamente. Afinal de contas, seu avô paterno, Paulo de Albuquerque foi um destacado abolicionista mossoroense. Não por acaso publicou uma biografia detalhada sobre seu ilustre parente justamente, preparada, para o dia, 30 de setembro de 1969. Não bastasse fez questão de nominar todos os seus parentes nascidos na terra inesquecível (Mossoró), em dedicatória de um dos seus livros.
A sua vocação literária não tardaria a se manifestar. Colaborou, na imprensa potiguar, escrevendo nos jornais A Centelha e Correio Festivo de Mossoró e no Diário de Natal. Foi diretor do “Jornal do Oeste” de Mossoró e do “A República” de Natal. Escreveu também para a Revista Bando de Natal e para a Revista Evolução de Campina Grande.
Walter Wanderley foi autor de vários livros:
Nota de Viagem ao Amazonas, 1947;
Boda de Ouro dos Meus Pais, 1963;
Família Wanderley, 1966;
Macau na Poesia de Edinor Avelino, 1967;
As Palavras, A amizade e o Tempo, 1968;
Paulo de Albuquerque, o Poeta da Abolição, 1969;
Mossoró na Poesia de Cosme Lemos, 1969;
Irineu Sóter Caio Wanderley, Cem Anos de sua Morte, 1970;
Eliseu Viana, o Educador (1890-1960), 1971;
Gente da Gente, 1973;
O Jornalista Martins de Vasconcelos: Um Homem de Muitas Lutas, em parceria com Raimundo Nonato da Silva, 1974;
Um Passeio Sentimental a Minha Terra, 1977;
O Culto da Liberdade na Voz de Dois Poetas, 1980.
Walter Wanderley publicou ainda outros trabalhos na forma de livretos ou plaquetes, tais como: o Homem Escritor, sobre Raimundo Nonato, O Escritor Milton Pedrosa, sobre o mossoroense Milton Pedrosa. A maior parte de suas obras literárias foram publicadas, pela Editora Pongetti do Rio de Janeiro. Publicou também pela Coleção Mossoroense.
Pertenceu a diversas entidades culturais. Membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, como segundo ocupante da Cadeira no8 que tem como Patrona a escritora Isabel Gondim (atualmente ocupada por Nelson Patriota), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do Instituto Genealógico Brasileiro. É patrono da Cadeira no38 da Academia Mossoroense de Letras-AMOL, cujo primeiro ocupante foi Raimundo Nonato da Silva, um grande amigo seu.
Foi seu amigo Raimundo Nonato que melhor o definiu, afirmando certa vez que “o escritor macauense-mossoroense (esta admirável dicotomia tão expressiva do seu feitio territorial), pois na verdade, Walter Wanderley nem sempre sabe onde começa ou onde finda a influência marcante que as duas cidades exercem sobre sua formação”.
Faleceu em 04 de setembro de 1980, em Belo Horizonte, onde residia. O município de Mossoró prestou homenagem dando nome a uma avenida localizada no bairro Planalto Treze de Maio.
Mossoró, 26 de setembro de 2014.
Centenário de nascimento de Walter Wanderley.
*José Edilson Albuquerque Guimarães nasceu em 24 de dezembro de 1976, em Mossoró-RN. É servidor da Prefeitura Municipal de Mossoró. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Mestre em Geociências pela UFRN.
Referências Bibliográficas:
FELIPE, José Lacerda Alves. Caminhos da Lembrança. Natal-RN. Fundação José Augusto. 2011, 172 p.
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=4210. Acesso em 24 de setembro de 2014.
http://jornaldehoje.com.br/icone-fashion-francisco-berilo-pinheiro-wanderley/. Acesso em 24 de setembro de 2014.
http://www.mprn.mp.br/memorial/pgj27.asp. Acesso em 24 de setembro de 2014.
http://www.pmw.adm.br/biografia.htm. Acesso em 24 de setembro de 2014.
WANDERLEY, Ezequiel. Poetas do Rio Grande do Norte. Edição Fac-Similar com Atualização e Notas de Anchieta Fernandes. Natal: Sebo Vermelho, Editora CLIMA e Sebo Cata Livros, 1993, 357 p.
WANDERLEY, Walter. Mossoró na Poesia de Cosme Lemos. Rio de Janeiro: Editora Pongetti. 1969, 169 p.
WANDERLEY, Walter. Paulo de Albuquerque – O Poeta da Abolição. Rio de Janeiro: Editora Pongetti. 1969, 279 p.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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